Opinião do Estadão
A Europa continuará sendo um peso morto para a economia mundial, em 2012, segundo as novas projeções da Comissão Europeia, mais pessimistas que as divulgadas em novembro. Entre as maiores potências do mundo rico, só Estados Unidos e Japão deverão continuar exibindo algum dinamismo, se as tendências recentes se mantiverem. O panorama europeu, já muito feio, ficou pior com as novas estimativas divulgadas ontem. A produção da zona do euro deverá encolher 0,3% neste ano e alguma recuperação só deverá começar no segundo semestre. A estimativa anterior, já muito modesta, era de uma expansão de 0,5%.
Para os 27 países da União Europeia, o crescimento previsto foi reduzido de 0,6% para zero, na média. Alemanha, França, Áustria, Eslováquia, Dinamarca e Reino Unido conservarão algum vigor e salvarão o conjunto de um resultado negativo.
Nas semanas anteriores, vinha crescendo na Europa um movimento a favor de uma nova estratégia de ajuste, menos recessiva e com mais espaço para medidas de estímulo à reativação econômica. Um documento com essa proposta foi enviado há poucos dias à Comissão Europeia por 12 chefes de governo, incluídos o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, e o do Reino Unido, David Cameron. Na véspera da publicação das novas projeções, circularam rumores, nos mercados, sobre a possibilidade de alguma redução das metas fiscais adotadas em países com grandes problemas orçamentários, como Grécia, Espanha, Portugal e Itália. O afrouxamento seria necessário, segundo uma autoridade europeia mencionada pela agência Reuters, por uma questão de realismo.
O caso grego é obviamente o mais dramático. Com a contração econômica de 2,8% prevista no último outono europeu, o governo já teria muita dificuldade, neste ano, para arrecadar o dinheiro necessário para complementar o aperto orçamentário. De acordo com a nova projeção, o encolhimento será, no entanto, de 4,4%. Embora em condições menos penosas, outros governos forçados a adotar duras medidas de estabilização fiscal também terão muita dificuldade para alcançar as metas orçamentárias nas condições agora previstas para o ano. As projeções de novembro indicavam, na União Europeia, contração econômica apenas para Portugal e Grécia. O grupo com perspectiva de resultado negativo agora inclui, além desses dois países, Bélgica, Espanha, Itália, Chipre, Holanda, Eslovênia e Hungria.
Como de costume, explicam os autores do relatório, a manutenção das políticas fiscais conhecidas até agora "com suficiente certeza" foi um dos pressupostos adotados para as projeções. Um aperto mais forte, no entanto, "parece necessário em alguns Estados-membros". Se medidas adicionais forem adotadas, "isso poderá elevar a confiança e aliviar a pressão dos mercados financeiros", de acordo com o documento. No curto prazo, admitem os autores, isso poderia prejudicar o crescimento econômico, mas os efeitos seriam positivos num período mais longo. Oficialmente, a Comissão Europeia mantém, portanto, a posição favorável a um forte aperto nesta fase - e ainda mais forte em alguns países - como condição para a reconquista da credibilidade financeira.
Para não deixar dúvida, o comissário de Assuntos Econômicos e Monetários da União Europeia, Olli Rehn, defendeu a manutenção do aperto fiscal nos países mais sujeitos à pressão dos mercados. Numa entrevista ao Wall Street Journal, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, reforçou essa mensagem. Não se deveria, segundo ele, interpretar a piora das condições econômicas como um convite para relaxar as políticas de ajuste.
Mesmo com essas políticas, a situação poderia ser um pouco menos dramática se os europeus dispusessem de um fundo de resgate financeiro mais poderoso e adotassem a responsabilidade fiscal compartilhada, por meio da emissão de eurobônus. Isso daria maior segurança aos países mais pressionados e facilitaria a execução de seus programas de ajuste. Mas alguns líderes, especialmente os alemães, continuam apostando na cirurgia sem anestesia como o melhor tratamento para os males fiscais.
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