quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Farda contra farda

Eliane Cantanhêde (*)

O comandante militar do Nordeste, general-de-Exército Sampaio Benzi, não está fazendo uma intervenção branca no comando da 6ª Região, em Salvador. Na verdade, é uma questão de hierarquia, de cadeia de comando. Ele já deveria estar lá há muito tempo. Chegou atrasado.

Benzi, quatro estrelas, comanda toda a região e não importa que sua sede seja em Recife.
Ele tem de estar onde as coisas estão acontecendo, e elas estão acontecendo na Bahia, onde policiais militares fazem motim, desafiando os superiores, o Exército e as autoridades civis. As reivindicações são até justas, os meios são inadmissíveis.

Sim, o comandante da 6ª Região, general-de-divisão (três estrelas) Gonçalves Dias --que foi chefe da segurança de Lula no governo passado-- foi no mínimo infeliz ao tentar imitar o estilo Lula e confraternizar com os amotinados, com abraços e até um bolinho de aniversário. Não pegou bem.

O governador petista Jaques Wagner não gostou, o Planalto tomou as dores e, de repente, todo mundo lembrou que o comandante do Nordeste tinha de estar lá. Benzi, porém, não vai substituir e sim somar com o seu subordinado Gonçalves Dias. A situação é considerada grave. Já imaginou se policiais militares e soldados trocam tiros? E se a greve se alastra para o resto do país, como parece?

O governo já tem problemas demais na Bahia, vê o fantasma de uma greve disseminada de policiais se materializando e tudo o que não quer neste momento é um confronto com as Forcas Armadas por conta de um general que achou que sendo bonachão estava sendo democrático.

Os ministérios da Justiça e da Defesa negam que ele esteja sendo afastado e haja intervenção. Em nota, liberada na noite de quarta, o Exército comunica que Gonçalves Dias continua no comando da 6a. Região e das operações de garantia da lei e da ordem na Bahia.

Um pepinaço. Lá com seu travesseiro, o general deve estar remoendo o fato de o PT que hoje joga o Exército os policiais grevistas é o mesmo que alimentou o monstro quando a greve era contra o adversário PFL-DEM, anos atrás.

No fundo, o que os milicos gostariam de dizer para os governos petistas de Brasília e da Bahia é: "Quem pariu Mateus que o embale. Tome que o filho é teu".

Mas milico cumpre ordem, segue a hierarquia e bate continência para o poder civil. Ainda bem. Agora, é tomar o máximo cuidado e torcer para que as coisas não saiam do controle.

(*) Jornalista, é colunista da Folha de São Paulo e da Folha.com

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