Janio de Freitas (*)
A nova posição do governo em relação à Copa, definida de passagem por Aldo Rebelo ao se tornar ministro do Esporte, é uma fuga para o comodismo. Mas, com as perspectivas que se agravam, logo será um pesadelo de alto custo político e, óbvio, financeiro.
"Eu não vou me meter com a organização da Copa" -foi a frase que bastou para definir a nova posição do governo. E por quê? Não se sabe.
Mas sabemos que a Copa é um evento com que o país se envolve e compromete em múltiplos sentidos. E que a responsabilidade pela realização aqui foi do governo, que decidiu trazê-la.
E sabemos ainda que, misto de negócios e esporte, como hoje são os esportes em geral, inclui-se nos deveres do Ministério do Esporte, mais ainda em razão dos bilhões em dinheiro público que já são e serão gastos.
Em razão da cômoda fuga transformada em política de governo, o ano da Câmara se encerrou com uma imoralidade que promete reaparecer logo que findas as férias parlamentares.
Não foi suficiente ter sido um deputado do PT, Vicente Cândido (SP), a encaixar na confusão do seu relatório sobre a Lei Geral da Copa este artigo 22: o governo brasileiro compromete-se a indenizar a Fifa por prejuízo ou dano de qualquer tipo relacionado à Copa. "Ainda que causados por quaisquer fatos da natureza, caso fortuito ou força maior."
De chuva à queda temporária da iluminação em um jogo, de algum problema em estádio novo a demoras em aeroportos, cabe de tudo no artigo, como dano à Copa.
E por que critérios se fixariam as indenizações, sob julgamento de quem? Impossível responder, porque humilhação não tem medida, e o artigo desejado pela Fifa e aceito pelo deputado petista é uma extorsão humilhante.
O PT não se moveu contra a proposta. O Ministério do Esporte nem se manifestou. A Presidência não se movimentou para acionar a "base" contra a indecência.
Foi a oposição que impediu a Comissão Especial da Câmara (para assuntos da Copa) de votar e, por certo, aprovar o parecer do petista Vicente Cândido.
Mas o impedimento não o excluiu, apenas o adiou para a reabertura da Câmara em 2012.
A tendência é a derrota da oposição, caso o Ministério dos Transportes continue alheio à defesa contra mais essa extorsão. Com a Presidência dando as costas ao comprometimento do governo brasileiro feito por Lula, como presidente.
Para o Brasil, todo ele, a Copa de 14 é um assunto brasileiro, antes de tudo o mais. O futebol brasileiro é, para o país, o que de menos importante se mostrará ao mundo.
Isso é que faz com que a omissão do governo tenha um grave sentido. Moral, para começar.
Agora também, não é aceitável a farsa da licença de Ricardo Teixeira na CBF, "substituído" por paus-mandados, sem que haja providência brasileiras quanto às acusações que o envolvem em corrupção denunciada na e pela Fifa.
Lá, Ricardo Teixeira tem representado o Brasil em tudo, e só como formalidade representa apenas a CBF. Além disso, seus envolvimentos na Fifa produziram, necessariamente, reflexos sobre entidades e interesses do Brasil. A dívida de Ricardo Teixeira é também com o Brasil e nada justifica outra omissão do Ministério do Esporte, nesse caso.
(*) Jornalista é colunista e membro do conselho editorial do jornal Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário