A reclamação do Irã contra Dilma é uma boa notícia para os brasileiros de bem: nossa política externa deixa de abraçar o pária Ahmadinejad
Ricardo Setti para Revista VEJA
Os criadores de aves e de bovinos certamente não estão gostando, porque as exportações de carne para o Irã podem sofrer represálias, mas, para o governo da presidente Dilma Rousseff, é uma verdadeira condecoração a reclamação feita pelo porta-voz do ditador Mahmoud Ahmadinejad contra a política externa do atual governo brasileiro em relação ao regime delirante dos aiatolás atômicos.
A entrevista do porta-voz pessoal de Ahmadinejad, Ali Akbar Javanfekr, ao jornalista Samy Adghirni, da Folha de S. Paulo, acaba sendo uma boa notícia para os brasileiros de bem.
“A presidente brasileira golpeou tudo que Lula havia feito”, choramingou o porta-voz. “Ela destruiu anos de bom relacionamento. (…) Lula está fazendo muita falta”.
Relação correta e voto pró-direitos humanos
Na verdade, o governo Dilma não destruiu nada, e continua mantendo uma relação correta com o Irã, sem o calor suspeito e incômodo que emanava do lulalato em direção à ditadura que oprime o antigo reino persa.
A “destruição” a que ele se refere tem na verdade ligação com algo de muito bom ocorrido na política externa: o voto proferido em março na ONU pelo Brasil em favor de uma investigação sobre violações de direitos humanos no Irã.
Amigo do peito de Lula
Lula, como se recorda, era amigão do peito do tirano, recebeu-o em Brasília com tapete vermelho, para horror de aliados tradicionais do Brasil, como os principais países da Europa Ocidental, os Estados Unidos e o Canadá, e foi visitá-lo em Teerã, apesar de Ahmadinejad, com seu projeto de obter a bomba atômica, ter-se tornado um pária perante a maior parte da comunidade internacional.
Atitude ridícula do embaixador do Brasil
Nesse contexto de o Brasil ter diante do Irã uma postura mais alinhada com o mundo civilizado, torna-se particularmente ridícula a atitude do embaixador brasileiro em Teerã, Antonio Salgado, que, em recente evento no Rio de Janeiro, considerou a frase “infeliz” de Ahmadinejad sobre “varrer Israel do mapa” como “aparentemente mal compreendida” no Ocidente.
O governo do Irã já disse e repetiu várias vezes que pretende destruir Israel. Só crianças de colo desconhecem as intenções de Ahmadinejad. “Mal compreendida?” Mal compreendida é a posição do embaixador.
Afinal, ele está em Teerã para defender os interesses do Brasil ou veio ao Rio para defender as péssimas intenções do Irã?
(*) Jornalista é colunista da Revista VEJA
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