terça-feira, 1 de março de 2011

Medíocres dirigentes esportivos

Curso Gestão de Treinadores – Inscrições Abertas

Emerson Gonçalves  do blog Olhar Crônico Esportivo (*)

Não sei se existe esse curso, no Brasil ou no resto do mundo, pode até ser que sim. O que sei é que se alguma escola colocar esse curso em nosso mercado, de duas uma: ou arrebenta de cara e vai faltar um mundareu de vagas ou será um fracasso retumbante, com somente meia dúzia de alunos: 3 jornalistas, 1 blogueiro, 1 estudante de educação física e 1 torcedor curioso. Sei lá, mas pelo que a gente conhece de nossos cartolas, o mais provável é que a segunda alternativa venha a ser a correta.

A grande verdade é que nosso futebol tem muitos cartolas e poucos dirigentes.
Por que esse tópico – curso de gestão de treinadores? Qual sua razão de ser?
A demissão de Adilson Batista. A contratação de Adilson Batista.

Nesse caso, vale tanto sua contratação/demissão por Andrés Sanches, como por Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o LAOR.
Os porquês não se limitam a Adilson no Corinthians e no Santos. Voltando um pouco no tempo, temos:

A demissão de Dorival Jr pelo mesmo Luis Álvaro.
A demissão de Muricy Ramalho por Juvenal Juvêncio.
A demissão de Muricy Ramalho por Luiz Gonzaga Belluzzo.
Mais exemplos não faltam, como a demissão de Celso Roth no Grêmio.
O festival de treinadores a que o Sport foi submetido e, em menor escala, também o Vitória.

Se fosse falar em mais exemplos cobriria mais um monte de linhas, mas não vale a pena. Fiquemos, então, com esses exemplos que já são mais que suficientes.
Contratar treinador é tarefa tão importante quanto cobrar um pênalti. Na verdade, é até mais importante, por isso que só pode ser feita pelo presidente do clube, ao contrário do pênalti, que pode ser batido por qualquer um com chuteiras e uniforme que o professor de plantão designe, contrariando um pouco a velha máxima de Neném Prancha.

Um repórter do El País, em 2009, perguntou ao presidente e dono do Lyon, Jean Michel Aulas, o porquê dele ter demitido um único treinador em vinte anos e o porquê de tanta lealdade. A resposta foi simples:
“Porque eu os escolhi! A escolha de um treinador é uma prova de perspicácia. Se o despeço, é porque quem se equivocou fui eu, não o treinador.”

Aulas não é somente presidente do clube, é, também, seu proprietário, o que ajuda a entender seu comportamento. Afinal, se ele queimar dinheiro estará queimando o seu dinheiro, pessoal, e não do clube.

Adilson Batista, depois de “meia dúzia” de jogos no Corinthians foi demitido e, com certeza, seus bolsos não ficaram a ver navios.
Adilson, novamente, depois de outra “meia dúzia” de jogos no Santos foi demitido e embolsou a módica quantia de 1 milhão de reais como multa contratual.
Belluzzo colecionou poucas e gordas multas em seu curto mandato: Luxemburgo, Muricy, Antonio Carlos.

Sem querer ser chato, nenhum deles pagou essas multas com dinheiro do próprio bolso, pois nenhum deles é dono de seus times.

Em meio à disputa da Copa Libertadores, o Santos demitiu Adilson. Pior que isso, demitiu-o sem ter ninguém para seu lugar e o resultado foi sair correndo atrás de um treinador. O nome comentado inicialmente foi, de novo, Abel Braga. Curioso isso, quanto maior a distância, quanto maior o tempo longe de casa, mais aumenta a saudade e a vontade de ter a pessoa de volta.

Muito legal nas relações afetivas, muito ruim nas relações profissionais.

Depois de Abel, foi a vez de Ney Franco, incensado por Neymar, chegando ao cúmulo do presidente do clube dizer – e isso realmente é o cúmulo ou, como dizíamos muito tempo atrás, é o fim da picada – que gostaria de ter Ney emprestado até o final da Libertadores.

Fica nítido que há um enorme descompasso entre a qualidade e capacidade técnica da equipe, potencialmente a melhor do Brasil, ainda mais com Ganso retornando, e a capacidade da direção de liderar com a mesma qualidade e sucesso – o que, por sinal, já tinha ficado claro na demissão de Dorival Jr.

Como se pode ver, gente necessitada de um curso sobre como administrar treinadores de futebol não falta.

No final da temporada 2006/2007 a direção do Barcelona concluiu que Rijjkaard não estava bem, tinha perdido sua capacidade de liderança e precisava mudar seu comportamento. Não deu certo e no final da temporada seguinte a direção concluiu que seria necessário trocar o treinador no final do ano. Discutiu-se muito alguns nomes – Laudrup, Blanc, Valverde, Mourinho e Guardiola – e, no final, sobraram dois: Mourinho e Guardiola.

Para dar seguimento às conversas, a direção elaborou um documento que serviria como base para conversar com os dois treinadores, tendo 9 pontos, cada um deles com sete, oito, dez itens diferentes. Vejam os tópicos:

1 – Respeitar o modelo de gestão esportiva e o papel da Secretaria Técnica
2 – Estilo de jogo
3 – Valores a fomentar no time principal
4 – Treinamentos e RENDIMENTO: “Deve-se jogar como se treina”
5 – Gestão de vestiário ativa
6 – Outras responsabilidades e compromissos com o Clube a serem geridos
7 – Ter experiência
8 – Apoio ao bom governo do Clube
9 – Outros aspectos a valorizar no novo treinador

Depois de várias rodadas de conversações, a direção fechou com Pep Guardiola e de lá para cá é história em andamento.

O modelo do Barça é perfeito para o Barça, pois cada clube é único, mas ele dá um bom exemplo de como deve ser conduzida a escolha de um profissional cuja importância é enorme para o sucesso de um clube e também para sua imagem. Naturalmente, para se chegar a esse nível de detalhamento e planejamento, deve-se ter um clube muito bem estruturado por trás.

Para nós, infelizmente, falta muito ainda até vermos nossos clubes, ou pelo menos alguns deles, atingir esse nível.

Por enquanto vamuquivamu trocando o treinador de plantão, porque perdeu um jogo, porque não conquistou um campeonato, porque isso, porque aquilo.

(*)  Pequeno produtor de vídeo na cidade grande, produtor de leite ainda menor na cidade pequena. Produtor de escritos diversos, também, não se pode esquecer. No blog, fala do marketing ligado ao mundo da bola, do futebol como business nos dias de hoje, mas também das paixões infinitas que o futebol gera e por elas é gerado.
Email da coluna: emersonsrpq@gmail.com

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