terça-feira, 29 de março de 2011

Profissão: Político

Antenor Pereira Giovannini (*)

Lá vão longe os tempos do curso primário no Educandário São Paulo da Cruz no bairro do Tucuruvi em São Paulo. Igualmente distante, vai o tempo das Irmãs Passionistas, quando, na 4ª série através da Irmã Maria Augusta, nos era transmitido um pouco de conhecimento acerca dos políticos, dos seus cargos, da sua importância no contexto da história do País, e principalmente os nomes de cada um. Dos presidentes desde 1889, dos vices-presidentes e também dos ministros de estados, aprendia-se de tudo um pouco. O respeito aos mais velhos, aos professores, herança enraizada em casa, se tornava maior ainda quando se imaginava a importância do cargo de um presidente ou de um governador. Como era composta uma câmara de deputados, uma câmara de vereadores, ensinava-se e se aprendia tudo isso na 4ª. série do antigo curso primário que também era carinhosamente conhecido como grupo escolar. Hoje o aluno mal sabe escrever graças a uma lei que exige que se passe de ano a qualquer custo, mesmo que seja um semi-analfabeto.

Debruçando-me sobre essa questão da importância, trago para minhas imagens infanto-juvenis o que tudo isso dentro da política representava. Ouvia meu falecido pai (adepto de Adhemar de Barros) conversar sobre política de uma forma séria e comprometida, ainda que o pai do meu melhor amigo de infância Francisco José Richter, senhor Rado, optasse por outro candidato (Janio Quadros). Isso era irrelevante. O cargo, as propostas, os objetivos eram vistos e discutidos de forma séria.

A roda do tempo gira como um pião e avança pelos novos tempos políticos, passa por uma ditadura de 20 anos, passa pela morte de um presidente eleito sem assumir, passa pelo “impeachment” de um destrambelhado que fez gente do povo se suicidar por conta da perda de suas economias de anos em razão de uma canetada tresloucada e inconseqüente, passa pela posse de um operário megalomaníaco e chega aos dias de hoje. O que ficou daquele respeito que se nutria pelas figuras dos mandatários e representantes da sociedade? Absolutamente nada. O que se constata é que sob o ponto de vista moral e até mesmo legal, o político de tempos atrás, que já não era dos mais virtuosos, não passava de um malfeitorzinho chinfrim, uma espécie de trombadinha se comparado ao que temos nos dias de hoje. Apenas isso. Quando se observa dinheiro na cueca, nas meias, orações em agradecimento pela corrupção explícita, governadores preso, prefeitos presos, presidente do tribunal de contas preso, deputados envolvidos em falcatruas, a tal de lei de Ficha Limpa sendo esculhambada e jogada na lata do lixo, desvios e mais desvios de verbas públicas que acabam se misturando com outras devido ao tamanho do descaramento, de que maneira se poderia respeitar ou acreditar nessa classe chamada política?

Que espécie de gente é essa? Que estágio de devassidão se atingiu para ter elementos desse nível atuando como representantes do povo? Se antes eram funcionários subalternos cometendo deslizes, hoje temos verdadeiras quadrilhas dentro dos gabinetes, dos palácios, dentro do poder maior. Olhando cada um dos candidatos, e aqui não se faz distinção a partidos políticos, vendo todos esses que mostram suas caras na televisão e nos jornais travestidos de santos, de salvadores da pátria, de dedicados servidores do povo, mas, ao mesmo tempo, sabendo de suas trajetórias e atitudes, que diferença se pode enxergar entre os que lá estão, empoleirados no poder, e os que buscam, quase com desespero, o caminho ou o atalho para chegar às mesmas benesses, à mesma fartura? Quem pode em sã consciência acreditar que alguém desse time todo seja honesto?

Acompanho e participo da troca de e-mails entre amigos, todos cidadãos providos de integridade moral se perguntando em quem confiar, a quem se poderia dar um voto de confiança, alguém que os represente, a esses sujeitos decentes e honestos. Ninguém consegue responder. Porque isso é quase impossível. Minha querida mamãe Lourdes já dizia, do alto de seu nulo conhecimento político: “Aqueles que estão não querem sair e os que estão fora querem entrar”. Simples e correto. Porque há muita bandalheira, mamata, corrupção e dinheiro fácil esbulhado de um povo que está mais preocupado com o destino do Adriano, com a inconstância técnica do Flamengo, do que quem é e como se comporta o presidente do Brasil, ou se há ou não corrupção nos governos.

Pobre país mal educado politicamente. Além de aceitar viver de esmolas ainda é cego, surdo e mudo diante de tanta safadeza, falta de caráter e podridão. Não é a toa que qualquer um quer ter essa profissão: Político. Basta ver o circo do dia a dia.

(*) Aposentado agora comerciante. Morador em Santarém (PA)


Um comentário:

  1. Jorge - Londrina - Paraná29/3/11 13:31

    Sr Antenor -
    Muito tirste tem que endossar cada palavra exposta em seu texto. Ser politico em nosso País se tornou profissão e esses senhores estão muito mais preocupados consigo mesmo do que com o povo. A cada dia nossa mídia apresenta um desvio, uma suspeita, uma fraude com dinheiro público, e pior que isso nada, absolutamente nada acontece. Punição inexiste. Um prende e solta. Algumas manchetes nos jornais por alguns dias e depois puft somem. E o dinheiro nunca é recuperado, nunca é restituido .
    Um País podre em sua essência. Vai dizer para o filho que ele tem que ser honesto, tem que pagar impostos ... Ele vai rir e dizer que você foi um trouxa que não soube dar certo pagando impostos e sendo um cara certinho. A podridão vem de cima .

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