terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ora, ora Felipão ... chama o Pato ...

Marin esperneia. Felipão, bufa. Parreira se conforma. Diego Costa escolheu disputar a Copa do Mundo pela Espanha. Cansou de esperar pelo Brasil. E não tem volta…

Cosme Rímoli (*)  

13 de julho de 2014. 
Fim de tarde no Rio de Janeiro. 
Os sinos das igrejas começam a dobrar. 
Marcam 18 horas. 

Maracanã lotado, final da Copa do Mundo. 
43 minutos do segundo tempo. 
A bola cai nos pés de Iniesta, ele dá um toque genial. 
A esfera passa entre Thiago Silva e David Luiz. 

Vai parar no pé direito do camisa 9 espanhol. 
Sem medo, ele dribla o apavorado Júlio César. 
E estufa as redes brasileiras. 
Espanha bicampeã do Mundo. 

Gol de um sergipano de Lagarto, Diego Costa. 
Este é o maior medo de José Maria Marin e Luiz Felipe Scolari. 
De Parreira, não. 
Ele entende e aceita a decisão de Diego Costa. 

A Federação Espanhola anuncia oficialmente que ele já fez sua escolha. 
Vai jogar a Copa do Mundo pela Fúria, o time de Vicente del Bosque. 
Já escreveu a carta obrigatória para a Fifa e para a CBF. 
Nela opta pela Espanha, já que tem dupla cidadania. 

Pede para não ser mais convocado pela Seleção Brasileira. 
Nem leva em consideração a convocação atual. 
Felipão o chamou para jogar os amistosos contra Honduras e Chile. 
Foi uma tentativa desesperada para tentar ter o jogador. 

Atacante que teve nas mãos mas não valorizou. 

"Vamos até as últimas instâncias pela inscrição do jogador. É claro que eu reconheço que a palavra final é do jogador. Me parece que já decidiu, mas não encerra o episódio. Dentro do que é permitido na legislação esportiva, dentro das regras, o Brasil vai lutar até o final. Para nós, não é capítulo encerrado." 


O discurso vazio é do presidente da CBF, José Maria Marin. 
Ele sabe que está falando algo sem o menor cabimento. 
O atacante do Atlético de Madrid escolheu atuar pela Espanha. 

Talvez tendo sido governador biônico na Ditadura... 

Marin talvez tenha um plano B. 
Colocar no atleta uma camisa da Seleção à força e obrigá-lo a atuar pelo Brasil. 
Talvez nem assim. 

Scolari também falou. 
No site oficial da CBF.
 "Um jogador brasileiro que se recusa a vestir a camisa da Seleção Brasileira e a disputar uma Copa do Mundo no seu país só pode estar automaticamente desconvocado. Ele está dando as costas para um sonho de milhões, o de representar a nossa seleção pentacampeã em uma Copa do Mundo no Brasil." 

O técnico tem uma tênue esperança de reviravolta. 
Mas pode esquecer. 
Em Madrid vazou todo seu descontentamento com Felipão. 
O jogador ficou profundamente decepcionado pela passagem na Seleção. 

Ele foi para a Europa com 16 anos. 
Jogou em Portugal no Sporting e no Penafiel. 
Se destacou e acabou na Espanha. 

Chegou aos 18 anos. 

Atuou pelo Celta, Albacete, Valladolid, Rayo Vallecano... E Atlético de Madrid. 
Ele é um jogador forte, de presença de área, que chuta bem e cabeceia. 
Capaz de enfrentar zagueiros com a bola dominada. 
Muito bom atacante, artilheiro atual do Campeonato Espanhol com 11 gols. 

A CBF desconhecia sua existência. 
Enquanto isso ele completava sete anos no país ibérico. 
Fez sua vida na Espanha. 
Lá há pelo menos dois anos todos se perguntavam porque não era chamado pelo Brasil. 


Até que finalmente, Felipão o chamou em março. 
Para os amistosos contra Itália e Rússia. 
Não deu a menor atenção ao jogador. 
Ele foi reserva e entrou poucos minutos nas duas partidas. 

Nunca mais foi chamado.
Tudo mudou quando Vicente del Bosque avisou a Federação Espanhola. 
Iria convocar o atacante. 
Ele já havia conseguido a cidadania espanhola. 
Não teria problemas. 

Diego não havia disputado nenhuma partida oficial pelo Brasil. 
A Fifa exigiu a confirmação oficial da CBF. 
Bastou esse pedido e Felipão despertou. 
Alertado por Marin. 
O presidente da CBF não queria ver a Espanha reforçada por um brasileiro. 

Scolari sabia o quanto Del Bosque sofria com o instável Fernando Torres. 
O ponto fraco da campeã do mundo era a ausência de um artilheiro. 
E o Brasil tentou acabar com a alegria espanhola.
Era até uma convocação estratégica. 

Na Seleção, ele deveria ser reserva de Fred. 
No time de Del Bosque, não. 
E tratou de colocar seu plano em ação. 
Não sem antes passar por um vexame. 



Luiz Felipe caiu em um trote.
Um comediante de rádio se fez passar pelo presidente do Atlético de Madrid.
O falso Enrique Cerezo perguntou se Diego seria convocado.
Não só para os amistosos mas também para a Copa.
Felipão garantiu que sim.
Queria Diego Costa no Mundial.


Quando o trote vazou, o estafe da CBF correu. 
E arrumou uma entrevista na parceira Globo. 
Para a emissora antecipou a convocação em 'primeira mão'. 
Todos fingiam que não sabia que a notícia havia vazado no mundo todo. 

A CBF antecipou a chamada oficial. 
Para que Diego Costa tirasse seu visto para jogar nos Estados Unidos e Canadá. 
Pura desculpa. 
Ele tem o passaporte espanhol e não precisa desses vistos. 

O que Felipão e Marin queriam era pressioná-lo. 
Só que ele estava muito bem amparado. 
Já havia conversado com os dirigentes da Federação Espanhola.
Foi instruído para não falar uma palavra sobre a convocação do Brasil. 

Tinha apenas de escrever a carta pedindo para não ser mais chamado por Felipão. 
Com a carta entregue para a CBF e para a Fifa ele estaria livre. 
Poderia jogar no time campeão do mundo. 
Muito se duvidou que ele teria tanta testosterona assim. 

Ainda mais com Felipão pressionando o seu empresário. 
Jorge Mendes cuida da carreira do atacante.
Assim como cuidou da do treinador e o colocou na Seleção Portuguesa. 
Mendes nada pôde fazer. 

O jogador leu muito bem toda a situação. 
Lembrou dos seis meses que foi desprezado pela Seleção. 
E mesmo lá, em março, o tratamento de coadjuvante. 
A falta de atenção. 

Assim como a ausência nas chamadas, na Copa da Confederação. 

Resolveu dar atenção ao país que o acolheu, o está enriquecendo.
É uma decisão soberana. Dois países querem o seu futebol e ele escolheu aquele que quis. Onde se sente melhor. 

Não houve leilão financeiro como acontece em tantas naturalizações. 
Foi uma escolha. 
E ela precisa ser respeitada. 
Ao contrário de Marin e Felipão, com seus discursos nacionalistas, está Parreira. 

Ele entendeu perfeitamente o que aconteceu. 
E sabe o que fazer. 
"A gente fez de tudo, convocamos antecipadamente. Mas a partir do momento que diz que prefere jogar na espanhola, eu não o traria mais. O processo se esgotou nesse momento. Lutamos para trazer porque abriu uma oportunidade. Ele poderia ter sido útil. O caso deve ser encerrado." 


O coordenador sabe. 
Quanto mais o Brasil espernear, pior. 
Parreira quer evitar que o vexame fique maior. 
Diego Costa não vai voltar atrás. 

O jornal El País revela que há três semanas a decisão está tomada. 
Há mais de 20 dias havia deixado tudo certo com a Federação Espanhola. 
E uma carta com a sua assinatura foi enviada à Fifa e à CBF. 
Abrindo mão de qualquer convocação brasileira. 

Felipão teve a chance de ter o atacante. 
Não aproveitou, não gostou do que viu contra italianos e russos. 
Agora não há o que fazer. 
A não ser preparar a Seleção o melhor possível. 

Para tentar vencer a Copa do Mundo. 

Até se tiver pela frente a Espanha. 

Com seu novo atacante que nasceu em Lagarto. 
Se o jogo for a final da Copa e ele marcar o gol decisivo, paciência. 
A vida é assim. 

Oportunidade, Scolari teve. 
Agora deve respeitar o sergipano que cansou de esperar. 
E resolveu jogar pela Espanha. 
Não pelo Brasil. 

Ponto final...

(*) Jornalista esportivo. Ganhou o prêmio Aceesp por seis vezes, como melhor repórter esportivo entre jornais e revistas de São Paulo. Trabalhou 22 anos no Jornal da Tarde.

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