Opinião do Estadão
De boas intenções, como se sabe, o inferno está cheio. A título de "salvar" dezenas de cães que supostamente estavam sofrendo maus-tratos em um laboratório em São Roque, um grupo de ativistas invadiu o local, no último dia 18 de outubro, e retirou de lá os animais. Para esses militantes, foi uma operação de "resgate"; de acordo com a lei, no entanto, o que aconteceu foi um furto, acompanhado de depredação de patrimônio privado, e os que dele participaram agiram simplesmente como ladrões.
O laboratório invadido pertence ao Instituto Royal, que trabalha para a indústria farmacêutica e realiza pesquisas para avaliar a segurança de novos medicamentos. Está devidamente credenciado pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), órgão do Ministério da Ciência, que regulamenta o uso de animais em pesquisas.
Para obter esse registro, o laboratório é obrigado a ter uma comissão de ética cuja função é avaliar o uso de animais em seus experimentos. Além disso, tem de submeter-se à fiscalização sistemática sobre o tratamento que dispensa às cobaias e sobre o treinamento do pessoal que lida com elas.
Marcelo Marcos Morales, coordenador do Concea, disse que o Instituto Royal é o mais importante do País em sua área. "Era o mais controlado, o mais ético e o mais regular, com reconhecimento internacional", afirmou Morales.
Graças a esse rigor, o Instituto Royal obteve financiamento de R$ 5,25 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O projeto foi aprovado pela Agência Brasileira de Inovação (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, depois de constatado que cumpria "todos os preceitos expressos em legislação, possuindo as licenças e autorizações necessárias, e foi classificado após minuciosa análise do corpo técnico da Finep".
Nada disso, porém, parece ter a menor importância para os ativistas que invadiram o laboratório. Como justiceiros, eles se julgam acima das leis, porque se sentem movidos por causas "nobres".
Segundo os organizadores da ação criminosa, houve uma tentativa de diálogo com os donos do Instituto Royal antes da invasão, a título de "advertência", porque a massa por eles arregimentada estava ficando indócil e poderia causar prejuízos. Bastava ao laboratório entregar os cachorros de forma "pacífica" que nada aconteceria.
A ameaça do uso da violência para fortalecer reivindicações durante protestos está se tornando perigosamente comum. Os fascistoides que se intitulam "black blocs", que saem a quebrar tudo em nome de propósitos que mudam conforme o dia, são o principal símbolo desse momento peculiar na vida nacional. Contribui para isso a confusão que alguns magistrados têm feito sobre a legitimidade dessa violência - houve até um juiz que, ao avaliar a recente invasão da Reitoria da USP por alunos, um caso óbvio de vandalismo, disse tratar-se de "direito de exercer pressão".
Movidos apenas pela certeza moral típica de espíritos autoritários, os militantes dos direitos dos animais que invadiram o Instituto Royal o fizeram porque não conseguem discernir entre pesquisa científica com cobaias e maus-tratos a animais. Avilta-se assim todo um trabalho fundamental para a indústria farmacêutica.
O mundo ideal é aquele em que os laboratórios poderão dispensar o uso de animais em suas investigações. Mas, como diz a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), "ainda não nos é possível abandonar a utilização desses animais na avaliação da segurança de produtos, nos seus mais diversos aspectos".
Se assim é, então o que a sociedade tem de exigir é que os órgãos fiscalizadores trabalhem para que os animais sejam tratados de forma adequada. Pois era precisamente o que acontecia no Instituto Royal, onde os cachorros viviam sem estresse, em ambiente absolutamente controlado e com alimentação balanceada - coisas que agora, graças ao voluntarismo tatibitate de um punhado de irresponsáveis, eles não terão mais.
De boas intenções, como se sabe, o inferno está cheio. A título de "salvar" dezenas de cães que supostamente estavam sofrendo maus-tratos em um laboratório em São Roque, um grupo de ativistas invadiu o local, no último dia 18 de outubro, e retirou de lá os animais. Para esses militantes, foi uma operação de "resgate"; de acordo com a lei, no entanto, o que aconteceu foi um furto, acompanhado de depredação de patrimônio privado, e os que dele participaram agiram simplesmente como ladrões.
O laboratório invadido pertence ao Instituto Royal, que trabalha para a indústria farmacêutica e realiza pesquisas para avaliar a segurança de novos medicamentos. Está devidamente credenciado pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), órgão do Ministério da Ciência, que regulamenta o uso de animais em pesquisas.
Para obter esse registro, o laboratório é obrigado a ter uma comissão de ética cuja função é avaliar o uso de animais em seus experimentos. Além disso, tem de submeter-se à fiscalização sistemática sobre o tratamento que dispensa às cobaias e sobre o treinamento do pessoal que lida com elas.
Marcelo Marcos Morales, coordenador do Concea, disse que o Instituto Royal é o mais importante do País em sua área. "Era o mais controlado, o mais ético e o mais regular, com reconhecimento internacional", afirmou Morales.
Graças a esse rigor, o Instituto Royal obteve financiamento de R$ 5,25 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O projeto foi aprovado pela Agência Brasileira de Inovação (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, depois de constatado que cumpria "todos os preceitos expressos em legislação, possuindo as licenças e autorizações necessárias, e foi classificado após minuciosa análise do corpo técnico da Finep".
Nada disso, porém, parece ter a menor importância para os ativistas que invadiram o laboratório. Como justiceiros, eles se julgam acima das leis, porque se sentem movidos por causas "nobres".
Segundo os organizadores da ação criminosa, houve uma tentativa de diálogo com os donos do Instituto Royal antes da invasão, a título de "advertência", porque a massa por eles arregimentada estava ficando indócil e poderia causar prejuízos. Bastava ao laboratório entregar os cachorros de forma "pacífica" que nada aconteceria.
A ameaça do uso da violência para fortalecer reivindicações durante protestos está se tornando perigosamente comum. Os fascistoides que se intitulam "black blocs", que saem a quebrar tudo em nome de propósitos que mudam conforme o dia, são o principal símbolo desse momento peculiar na vida nacional. Contribui para isso a confusão que alguns magistrados têm feito sobre a legitimidade dessa violência - houve até um juiz que, ao avaliar a recente invasão da Reitoria da USP por alunos, um caso óbvio de vandalismo, disse tratar-se de "direito de exercer pressão".
Movidos apenas pela certeza moral típica de espíritos autoritários, os militantes dos direitos dos animais que invadiram o Instituto Royal o fizeram porque não conseguem discernir entre pesquisa científica com cobaias e maus-tratos a animais. Avilta-se assim todo um trabalho fundamental para a indústria farmacêutica.
O mundo ideal é aquele em que os laboratórios poderão dispensar o uso de animais em suas investigações. Mas, como diz a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), "ainda não nos é possível abandonar a utilização desses animais na avaliação da segurança de produtos, nos seus mais diversos aspectos".
Se assim é, então o que a sociedade tem de exigir é que os órgãos fiscalizadores trabalhem para que os animais sejam tratados de forma adequada. Pois era precisamente o que acontecia no Instituto Royal, onde os cachorros viviam sem estresse, em ambiente absolutamente controlado e com alimentação balanceada - coisas que agora, graças ao voluntarismo tatibitate de um punhado de irresponsáveis, eles não terão mais.
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