Emater estima perdas de R$ 3,8 bilhões com seca
A safra de 2011 e a riqueza gerada pelos grãos deixarão saudades.
A estiagem no Rio Grande do Sul já provoca redução de 6,75 milhões de toneladas na colheita das principais culturas frente ao resultado de 2011.
A receita que deixará de ser injetada somente na comercialização, caso fosse feita nesta semana, chegaria a R$ 3,86 bilhões, considerando preços atuais das sacas.
Com isso, a estimativa da Emater-RS passou a 19,7 milhões de toneladas, quase 25,4% menos que as 26,5 milhões de toneladas produzidas no ano passado entre soja, milho, arroz e feijão da primeira safra.
As duas secretarias estaduais ligadas ao agronegócio emitiram preocupação com a incerteza sobre precipitações nas regiões mais atingidas e com as dívidas de produtores que não contrataram seguro para seus financiamentos bancários.
A oleaginosa, que responde por 44% da safra total de grãos estimada até agora, deve perder 2,9 milhões de toneladas.
A Emater projeta safra de 8,7 milhões, em vez dos 11,7 milhões de 2011, recuo de 25,2%. O custo de não ter tido assegurada água no momento adequado será de R$ 2,1 bilhões, apontou o organismo de apoio ao setor primário.
O diretor-técnico da Emater, Gervázio Paulus, reforça que a maior preocupação se concentra nessa cultura.
Paulus explica que a maior parte das lavouras está na fase de formação de flores e grãos. "Se faltar água nas próximas três semanas, reduzirá a produção ainda mais", previne o diretor-técnico.
Já o milho, que tem quase 30% da área em fase de desenvolvimento da planta, poderá ser beneficiado por chuvas. A cultura, até agora, tem a maior perda percentual, com corte de 42,6% entre a estimativa e a colheita de 2011, o que se traduzirá em menos 2,4 milhões de toneladas ante 5,7 milhões do ano passado.
No arroz, o levantamento feito entre os dias 5 e 9 deste mês indica perda de 1,3 milhão de toneladas, ou R$ 665 milhões.
Já o feijão, com menor participação, deve amargar corte de 10,7 mil toneladas, menos R$ 14 milhões na economia do setor.
Entre os municípios, aqueles situados no Planalto, Centro e Missões lideram na corrosão das lavouras.
No balanço feito pela Emater e pelas secretarias estaduais da Agricultura e de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, os gestores advertiram que a comparação mais correta deveria ser com a média de dez anos de safras, o que rebaixaria o prejuízo total para R$ 2,2 bilhões.
O problema é saber o limite de perdas, admitiu o secretário estadual da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi. "Não há queda consolidada para o futuro. Os serviços de meteorologia não sabem o que vai ocorrer", justificou. "Poderemos estar estagnados ou crescer. Os prejuízos poderão ser maiores", avisa Mainardi.
O alarme se volta para o efeito no PIB gaúcho, que, segundo Ivar Pavan, titular da pasta de Desenvolvimento Rural, que tem 40% da receita associada ao agronegócio e sua cadeia de produtos, como a agroindústria. Mainardi e Pavan informaram que está sendo fechado um programa de ações, com medidas para garantir irrigação, mas que terá efeitos somente na próxima safra.
Em 2011, a alta de 5,7% estimada para o PIB gaúcho foi alimentada principalmente pela supersafra. A receita do agronegócio cresceu 18,8%.
Pavan quer assegurar milho para a alimentação dos animais. O pedido já foi feito ao Ministério da Agricultura.
A meta é obter 2 milhões de toneladas, que é a conta da perda, com outros estados produtores. O secretário ligado ao setor da agricultura familiar espera que o governo atenda ao pedido de subsídio para reduzir o custo com frete, além de adotar preços mais baixos que os de mercado.
A medida beneficiaria as cadeias de frango, suínos e leite.
O Estado poderá mexer na carga tributária do ICMS sobre o transporte para diminuir os custos finais.
"Podemos fazer isso, só precisamos que o governo federal se posicione e diga que vai ajudar", garantiu Pavan. "A presidente Dilma já disse que a agenda da seca no Estado é com ela."
Outra preocupação é o endividamento dos produtores que não têm seguro da safra.
No milho, os detentores de Pronaf, que respondem por 50 mil contratos com o Banco do Brasil (maior parte das operações) que somam R$ 280 milhões, têm a cobertura.
Já dos outros 2 mil contratos da agricultura empresarial, cerca de R$ 180 milhões, 70% têm seguro.
Na soja, a situação é mais frágil. Dos R$ 780 milhões de financiamento dos produtores não familiares, 36% estão sem a proteção.
Já a clientela do Pronaf, que soma R$ 200 milhões, terá parte dos prejuízos cobertos.
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