José Cruz (*)
A saída ou não de Carlos Nuzman do comando do Comitê Olímpico – discussão que está na rede – envolve um componente valioso: dinheiro, muito dinheiro, como nunca o esporte nacional teve disponível. Isso sem falar na grama que vem por aí por conta dos Jogos Rio 2016…
Ficou lá atrás o tempo das vacas magras. Hoje há fontes governamentais em abundância fornecendo valioso capital financeiro, mas sem um controle eficaz do Estado, o que sugere desperdício, projetos dúbios, duplicidade de aplicação do dinheiro e suspeitas de corrupção.
Para manter o esporte olímpico e paraolímpico em atividadenossas instituições têm as seguintes fontes:
Lei Piva – 2% das loterias federais (R$142,7 milhões em 2010)
Lei de Incentivo ao Esporte (R$ 300 milhões anuais)
Orçamento do Ministério do Esporte (2 bilhões)
Oito estatais – BB, Caixa, Petrobras, Infraero,Eletrobras, BNDES, Correios, Casa da Moeda – (R$ 177 milhões , em 2011).
Bolsa Atleta (R$ 30 milhões anuais)
Ministro bonzinho
Apesar dessa fartura disponível que é destinada ao COB, CPB, confederações e clubes formadores de atletas, em outubro do ano passado, pouco antes de ser exonerado do Ministério do Esporte, o então ministro Orlando Silva, liberou R$ 25 milhões para várias confederações – R$ 11 milhões só para o COB – , a pretexto de “preparar a equipe olímpica”…
Há quem garanta que a liberação desse dinheiro motivaria os cartolas apoiarem a permanência de Orlando no Ministério do Esporte, em plena crise de denúncias de corrupção. Não adiantou, caiu.
Dúvidas
É interessante a seguinte análise:
As confederações recebem esse dinheiro com base em projetos para “preparação de atletas para os Jogos Olímpicos de 2012”. E o dinheiro vem da Lei de Incentivo, dos patrocinadores, do Ministério, enfim. E o COB também diz que o dinheiro é para preparar atletas…
No entanto, os principais clubes fornecedores de atletas para a delegação olímpica, o Minas Tênis, de BH, e o Pinheiros, de São Paulo, também captam recursos da Lei de Incentivo com o mesmo objetivo: “preparação de atletas olímpicos”.
Em 2010, o Minas Tênis captou R$ 9,9 milhóes. Já o Pinheiros conseguiu R$ 9,6 milhões este ano.
Logo, o que faz a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos com os recursos que recebe, da Lei Piva, da Lei de Incentivo e dos R$ 13 milhões de patrocínio dos Correios? E o judô? E o tênis e as demais confederações? Não há conflitos ou objetivos comuns nos projetos de variadas fontes?
Confusão
Essas colocações nos revelam como é confusa a relação entre as entidades do nosso esporte. É cada uma por si. Isso sem falar que a Confederação Brasileira de Clubes também passou a ser beneficiada por verbas públicas (agora em lei), com o mesmo objetivo: “Formação de atletas olímpicos”.
No bom português, estamos na Casa da Mãe Joana. E enquanto os senhores gestores não demonstrarem claramente onde é que estão aplicando todo o dinheiro que recebem, ficam as suspeitas de que a gestão é relaxada ou há corrupção, pois os resultados ainda são pífios, insignificantes, inexpressivos. Principalmente porque a iniciação esportiva continua sem ver a cor do dinheiro. E o Ministério do Esporte, que deveria ser o lider na transparência, também esconde o que é público.
Precisamos saber – e digo isso também como contribuinte dessa conta bilionária – quem está fazendo o quê! Onde o dinheiro está sendo aplicado efetivamente?
O Ministério do Esporte tem a obrigação de trazer esses dados a público, pois o esporte está com sua economia estatizada, porém sem
controle, o que favorece a farra, o desperdício, os desmandos.
E, assim como o Ministério, o Comitê Olímpico é responsável pela confusão. Ou ele é o órgão central normatizador da política do esporte de rendimento e age como tal ou é omisso, como o Ministério do Esporte, diante do uso do bem público de forma tão dispersa e suspeitamente sem rumos bem definidos, sem planejamento integrado, sem metas ou prioridades. Não temos isso.
Insisto: o esporte vive numa fartura de dinheiro sem igual, mas numa desordem institucional histórica, para a qual não há interesse em dar rumo. Ou seja: quanto pior o controle, melhor.
Mais: de que vivem os gestores do esporte? Sem salários? Prestam serviços gratuitos às suas confederações? Não há compensação financeira por tantas horas de trabalho em prol do esporte? Caso contrário, se há salários – e eu sou partidário de que todo o gestor deve receber — quem está pagando? O dinheiro do patrocinador ou o dinheiro público? Isso é real? Isso é legal?
Abram as contas! Os senhores têm OBRIGAÇÃO de prestar contas do dinheiro PÚBLICO que recebem. Porque esconder a aplicação da grana? Estranho, muito estranho.
(*) Jornalista e que há 20 anos cobre as áreas de política, economia e legislação do esporte.
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