Gilberto Dimenstein (*)
O governo Alckmin promete sufocar em trinta dias a cracolândia, coibindo a fonte fornecedora da droga e encaminhando os jovens para tratamento. Se for verdade, seremos obrigados a admitir que o crack colocará Geraldo Alckmin na história de São Paulo. Mas será verdade?
Nada representa melhor o colapso humano de uma cidade do que a cracolândia, onde jovens se drogam e morrem a céu aberto, mandando o sinal de que ali não existe lei nem ordem. É um tapa na cara cotidiana da barbárie. Estamos de certa forma acostumados com a ideia de que esse território livre é indestrutível.
Combate-se num lugar, aparece em outro, depois tudo volta, desmoralizando a todos. Será que faltou vontade mesmo de acabar com a cracolândia?
A estratégia está, em essência, correta. Mistura-se a repressão com tratamento médico e encaminhamento social. Mas sabemos que é mais complexo, exige um longo trabalho individual com os viciados. Já vi muitos jovens tratados desse jeito se recuperarem, apesar das recaídas. Basta ver os resultados do Projeto Quixote, da Universidade Federal de São Paulo.
Não vale obviamente apenas mudar a cracolândia de lugar.
Se Alckmin vai entrar para a história, logo veremos. Mas o fato é que a cidade de São Paulo está condenada a ficar sempre manchada, se territórios livres para as drogas e o crime não forem enfrentados e superados.
Transformar a região da Luz num polo de cultura e entretenimento, combinada com novos negócios, será o mais interessante sinal de revitalização da cidade de São Paulo --e aqui está em jogo o prestígio não só do governo estadual, mas da prefeitura.
(*) Jornalista integra o Conselho Editorial da Folha de São Paulo. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative).
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