Luiz Caversan (*)
Pronto, sobrou para Higienópolis...
A partir de reportagens segundo as quais moradores do tradicional bairro da cidade estão preocupados com uma possível invasão dos zumbis espantados a tapa da cracolândia pela PM, começam a pipocar aqui e ali críticas a um suposto e cruel conservadorismo do bairro todo e a uma postura (desculpem, mas não é trocadilho) higienista de seus moradores.
Há duas injustiças aqui.
Primeira: ouvir dois ou três moradores, obviamente escolhidos dentre as dezenas de milhares que vivem neste bairro assim --como este colunista--, e permitir que a postura amedrontada deles se passe como voz corrente no bairro.
Isso já havia acontecido no ano passado, quando houve a falsa polêmica da estação do metrô, que teria sido rechaçada por moradores.
Que moradores, cara pálida?
A meia dúzia que se agregou em torno de uma associação sem representatividade nenhuma e que de longe refletia a voz da maioria, que convive muito bem com a vizinha estação Marechal Deodoro do mesmo Metrô e que quer sim outra estação, de outra linha, na sua vizinhança?
De tão frágil que era a injustiça, porém, desfez-se no ar.
A outra injustiça é acusar moradores do bairro --que tem sim uma parte bem rica, mas também várias unidades residenciais, quadras e até ruas inteiras habitadas por uma classe média que está longe de poder ser comparada a outros redutos ricos da cidade, como o Jardim Europa, Morumbi e outros bairros da cidade-- de quererem pobre à distância.
Quem quer um exército de gente molambenta, esfaimada, drogada e, portanto, descontrolada zanzando pelas suas ruas e praças e na porta de suas casas levanta o dedo, por favor.
Ora, é óbvio que ninguém quer, que todo mundo rejeita o que se convencionou chamar de cracolândia e que ninguém deseja uma vizinhança como esta.
E é absolutamente legítima a preocupação de quem teme que a ação da PM engendrada sob a aquiescência de Alckmin e Kassab (onde estão os agentes de saúde, os assistentes sociais, as ONGs e os religiosos que sabem lidar com esse povo, caramba?) possa espalhar irremediavelmente essa população desvalida por bairros vizinhos ao absurdo que se tornou a cracolândia.
Culpar moradores de Higienópolis, Cerqueira César, Barra Funda, Perdizes e outros próximos à área mais degradada de São Paulo de segregação é tirar o foco do problema, que se resume a uma única pergunta, para a qual há muitas respostas, mas nenhuma delas até agora verdadeiramente eficiente: o que fazer com este exército de Brancaleone de viciados em crack que toma as ruas da cidade?
(*) Jornalista e consultor na área de comunicação corporativa da Folha de São Paulo
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