quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Brasil é a antítese da China

Revista Time Magazine

O Brasil é a antítese da China, diz Ruchir Sharma, diretor de mercados emergentes do banco de investimento Morgan Stanley em um artigo para a revista norte-americana Time Magazine. Ele brinca com a frase “Deus é brasileiro”, e diz que se o País não realizar reformas necessárias será difícil crescer mesmo os 4% esperados para os próximos anos. “Se conseguir mais que isso, então talvez Deus realmente seja brasileiro,” afirma.

Sharma compara o Brasil com a China, afirmando que enquanto o país asiático possui uma moeda barata, um alto nível de poupança e um baixo custo de capital, “o Brasil é o oposto em todos os aspectos, inclusive no que deveria fazer para continuar crescendo.”

Enquanto a China precisa reduzir sua compulsão por investimentos, ter uma rede melhor de seguridade social e deixar sua moeda valorizar um pouco, o Brasil precisa de menos gastos com seguridade social, mais investimentos e de uma moeda mais barata, defende Sharma.

No artigo, chamado de “Brasil, o não-China”, ele fala do grande fluxo de capital estrangeiro que vem entrando no Brasil, o que vem contribuindo para a valorização do real, e “o que pode ser sentido em uma viagem ao País”.
“Quartos de hotel em Rio de Janeiro custam mais do que no sul da França. Restaurantes em São Paulo são mais caros do que em Paris. Bellinis são mais baratos em Veneza. Apartamentos no Leblon vendem mais do que em frente ao Central Park,” diz Sharma.

Em seguida, afirma que "há algo errado" quando um país de renda média tem uma moeda de país rico. “A sobrevalorização do real é um sintoma de economia seriamente desequilibrada.”
A entrada de dólares no País, ele explica, é impulsinada pelo alto custo das commodities e do alto juro brasileiro, mas ele alerta para a formação de uma bolha de dinheiro especulativo (“hot money”) no Brasil. Segundo Sharma, apenas uma parte da riqueza que chega no território brasileiro é investida em infraestrutura. Ele lembra também que o País usa somente 3% de suas receitas para este fim. “Não admira que exista morosidade excessiva nos portos e nas estradas. Agora é comum para altos executivos brasileiros viajar por toda São Paulo de helicóptero, a fim de evitar o tráfego da cidade,” completa.

O chefe de mercados emergentes do Morgan Stanley lembra que o Brasil teve em sua história recente um período de hiperinflação e estagnação econômica, mas que ressurgiu. “Sua taxa de crescimento dobrou nos últimos anos. Mas agora o Brasil está atolado pelo fardo do “grande governo,” acrescenta.
Sharma destaca que os gastos do governo são altos, de 35% da economia - em comparação com uma média de 25% em outros mercados emergentes. “A maior parte dele vai para a pensões generosas e programas de previdência, em vez de para a construção de estradas ou melhorar as escolas.” Ele menciona ainda que o Brasil é mal posicionado em rankings de educação, “aparecendo depois da maioria dos outros países de renda média.”

O artigo afirma que os investidores estrangeiros “encobrem essas deficiências” e concentram-se na estabilidade que o Brasil tem alcançado desde a crise dos anos 80 e 90, e nas commodities, “do minério de ferro ao café”, além do esperado petróleo de águas profundas. Mas acrescenta que a “moda” das commodities acaba contribuindo para elevar o valor do real a um nível que “fere outras indústrias”.
Como os brasileiros estão gastando muito com importações, diz Sharma, o saldo da conta corrente está no vermelho. “Se os preços das commodities caírem, esse buraco se tornará incontrolável,” diz. Tudo isso, conclui o diretor do Morgan Stanley, faz do Brasil a antítese da China.

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