quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Tempo da juta

Símbolo da era industrial de Santarém vendido como sucata.

Edilberto Sena (*)

 Que tempo bom que não volta mais, o tempo em que Santarém tinha uma verdadeira indústria, de interesse nacional. Era o ano de 1950,Getulio Vargas eleito presidente da republica, era prefeito de Santarém o Jovem Elias Pinto. O cultivo da juta estava em pleno vigor e a matéria prima ia para Manaus, Belém ou São Paulo. O presidente, ainda em campanha prometera ao jovem prefeito de Santarém, assim que tomasse posse, atenderia o projeto que servisse ao povo do Baixo Amazonas.

 Elias Pinto foi à capital federal logo após a eleição de Getúlio e levou o projeto. Fosse em tempo de hoje, o prefeito iria pedir talvez, asfaltamento de ruas, ou um estádio olímpico mas não, o jovem idealista prefeito pediu uma fábrica completa para tecelagem de juta em Santarém. E olhe que a cidade não tinha nem asfalto de ruas, nem energia elétrica competente. Promessa feita, palavra de presidente cumprida. Chegou a Santarém uma fábrica completa, inclusive com um gerador potente que servia, além da fabrica boa parte da cidade com energia elétrica.

Foi então que Santarém passou a ser um centro industrial de verdade, porque antes só tinha algumas padarias e pequenas serrarias. Os barcos e canoas eram feitos artesanalmente. O tempo passou, o presidente suicidou, o jovem prefeito envelheceu e morreu e a tecejuta.....funcionou bem, enquanto as máquinas suportaram. Gerou empregos, gerou lucros para poucos, a juta entrou em decadência e então primeira grande indústria da cidade fechou, centenas de trabalhadores ficaram desempregados. O que era bom se acabou. Hoje, os restos da empresa são vendidos como sucata e a praia que era livre vai ser transformada em mais um porto privado bloqueando o uso da praia para os pedestres. 
Quanto a novas indústrias de verdade? Onde estão? olarias, serrarias e padarias?

Chamar aquilo de indústria fará o antigo jovem prefeito gargalhar em seu túmulo. A maior matéria de exportação do porto das Docas do Pará em Santarém são a madeira semi elaborada e soja em grãos. De lá até hoje só houve um prefeito idealista que arriscou prestígio e vida pelo povo do município.

(*) Sacerdote e Diretor da Rádio Rural de Santarém (PA)

Um comentário:

  1. Padre Sidney Canto28/9/11 09:46

    Só para enriquecer ainda mais o post do meu irmão presbítero Edilberto Sena:
    Óbidos também tinha, na mesma época uma fabrica de beneficiamento de juta e também de castanha do pará.
    Santarém também teve, ao lado da Tecejuta, uma fábrica de luvas de borracha (aproveitando o nosso latex) empreendimento do então jovem Francisco Lobato, que anos mais tarde mudou a indústria para São Paulo.
    Também tivemos fábricas de redes, refrigerantes e até mesmo de pólvora...
    Reforço a pergunta: será que o investimento em indústrias era só no "antigamente"? Porque não se investe mais na geração de empregos e na criação do tão falado "parque industrial".
    As vezes ouço alguns comerciantes falarem que o comércio em Santarém está fraco. E vai continuar fraco se as classes não se unirem e fazerem como o Elias Pinto: correr atrás de industrias que gerem renda, para alimentar o comércio e o crescimento de Santarém.

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