Próxima adesão do partido de Kassab ao governo é mostra do descaramento que impera na política brasileira
Ricardo Setti para a Revista VEJA
Amigos, com o convite do líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT), para que o PSD recém-legalizado pelo TSE faça parte da base de apoio ao governo, vai-se consumar a pouca vergonha perpetrada pelo fundador do partido, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
O novo-velho partido, formado não pela base, mas, bionicamente, por trânsfugas vindos de diferentes legendas, proclama que será “independente” do governo, mas basta ler a entrevista de Vaccarezza para perceber a tendência da bancada.
Sendo assim, repito o que escrevi em março passado, quando Kassab iniciava os movimentos para formar o PSD, a respeito de comentário emitido via Twitter pelo deputado ACM Neto (DEM-BA), líder do partido na Câmara dos Deputados, quando Kassab anunciou que abandonaria a legenda. “Partido Sem Decência” e “Partido Sem Dignidade”, metralhou ACM Neto, ironizando as iniciais do assim chamado Partido Social Democrata.
Tinha e tem toda razão o herdeiro do cacique da Bahia. Kassab era absoluto um joão-ninguém político até ser convidado pelo então candidato José Serra (PSDB) a integrar sua chapa de candidato a prefeito em 2004, consolidando a aliança com o DEM iniciada pelo governador Mario Covas em 1995.
Serra esmagou nas urnas a prefeita Marta Suplicy (PT), assumiu em janeiro de 2005 mas deixou a Prefeitura em 2006 para disputar – e vencer – as eleições para o governo de São Paulo. Com o apoio do já governador tucano Serra, Kassab se consolidou como prefeito e, em 2008, de novo com apoio do governador, foi reeleito, derrotando a mesma Marta Suplicy.
Fundar um partido com o único propósito de deixar os quadros da oposição, nos quais se nutriu e pela qual se elegeu, e aderir ao governo da presidente Dilma é uma facada nas costas de seus aliados, uma traição a seus eleitores — que repudiaram o PT nas urnas — e uma demonstração mais do descaramento reinante na política brasileira. Kassab só foi eleito porque estava num partido de oposição, o DEM, e tinha o apoio de outro partido de oposição, o PSDB. Só foi eleito porque se apresentava como o anti-PT na capital paulista — PT que agora o afaga e que dele obterá, certamente, uma resposta no mesmo tom.
ACM Neto estava certo. Partido Sem Decência. E, completo eu daqui, sem vergonha também.
(*) Jornalista . É colunista do site No Minimo e do Observatorio da Imprensa e colaborador de várias outras publicações entre elas revista VEJA.
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