Luiz Caversan (*)
Já tinha decidido sobre o que escrever esta semana, tema meio que abandonado ultimamente: o amor.
A inspiração é uma daquelas coisas meio bizarras, que, como disse a jornalista Josélia Aguiar, aparentemente só acontecem na Bahia: o caso entre Carlos e Lupita.
Carlos fora contratado para matar Lupita. A contratante era a esposa de cujo marido Lupita era amante. Mas na hora H, sei lá, mil coisas, o brilho daqueles olhos negros de Lupita fizeram Carlos mudar de ideia, mesmo porque ele já conhecia a futura vítima, e esta também o reconheceu, e, como dizem os italianos, um colpo di fulmine ocorreu entre os dois, que acabaram se apaixonando.
Em vez de morte, o amor nasceu.
Nasceu e os traiu, porque ambos foram vistos aos beijos e abraços em uma feira popular, fato que logo chegou à esposa traída, que havia pago a encomenda porque Carlos enviara a ela fotos com Lupita morta, esfaqueada e ensanguentada --na verdade envolvida em molho vermelho...
Foi exatamente quando divagava sobre os mistérios do amor, o limite entre crime e paixão (e pensava que tudo poderia também não passar de um truque da sagaz Lupita, já que o dinheiro da encomendam uns R$ 2 mil, seria dividido entre ela e seu algoz, mas que a história era linda, era...), que veio o baque da tragédia de D., o menino que baleou a professora e depois se matou.
Até agora, ninguém consegue entender as motivações que o levaram a tal extremo, já que o garoto era merecedor de todos os adjetivos do mundo: bonzinho, limpo, educado, comportado, de família, doce, amigo, estudioso...
Talvez ainda sob a influência do sentimento que brotou em Carlos para que ele não matasse Lupita, veio-me a ideia na cabeça: não será por amor?
Sim, será que o menino não tentou matar a professora e depois tirou a própria vida num ato desesperado para acabar com o sofrimento de um amor que nunca iria dar certo?
Pode ser que sim, pode ser que não, trata-se de mais uma especulação dentre tantas outras que devem permear o noticiário em torno da tragédia.
Nada justifica, nada explica ou dá razão a um menino que atira contra a própria cabeça.
Mas, como já se disse tantas e tantas vezes, o amor tem mesmo razões que a própria razão desconhece.
Quem quando criança já se apaixonou perdidamente por um adulto entende o que quero dizer...
(*) Jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa da Folha de São Paulo.
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