Eliane Cantanhêde (*)
O Palácio do Planalto e o Itamaraty têm um temor e uma curiosidade diante da visita do presidente dos EUA, Barack Obama, no próximo final de semana.
Eis o temor: que a imprensa (sobretudo a brasileira, mas também a estrangeira) fique martelando o tempo inteiro que Obama vai chegar aqui e anunciar em grande estilo o apoio norte-americano à pretensão do Brasil em ocupar uma cadeira permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Cria-se a expectativa e, se ela não se confirma, como não deve se confirmar, pronto, lá vai todo o mundo (literalmente) dizer que a visita foi um fiasco.
Assim, o governo brasileiro está numa operação para diminuir ao máximo, ou ao mínimo, a expectativa de anúncios sobre o Conselho de Segurança. Diplomatas e assessores acham que Obama vai incluir algumas linhas no Comunicado Conjunto simpáticas à maior participação brasileira na ONU, para não passar em branco. Mas sem compromisso, sem data, sem ser peremptório.
Agora, eis a curiosidade: que raios Obama irá dizer de tão importante no discurso no Rio de Janeiro, preparado para ser grandioso, à la Evita, com milhares de pessoas na Cinelândia?
No Egito, Obama garantiu manchetes pelo mundo afora ao anunciar novos tempos de diálogo com o mundo árabe. Na Índia, causou furor (e ciúmes) ao defender o país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
E no Brasil? "That´s the question." Em rodinhas, os próprios diplomatas jogam conversa fora tentando descobrir o que vai ser, sem sucesso. A melhor aposta até agora é que seja um discurso não apenas para o Brasil, mas para a América Latina. Algo na linha do "daqui pra frente, tudo será diferente"...
O que, cá para nós, não chega a emocionar.
(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo desde 1997
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