Ricardo Noblat (*)
O que distingue Jaqueline Roriz (PMN-DF) dos seus colegas deputados federais? Nada. Salvo o fato de que ela foi filmada recebendo dinheiro ilegal - e os outros não.
Jaqueline é filha de Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal e notório pilantra.
Eleito senador em 2006, renunciou ao mandato depois que um grampo da polícia captou sua voz negociando a partilha de R$ 2,2 milhões com o então presidente do Banco Regional de Brasília.
No seu último governo, Roriz delegou ao delegado Durval Barbosa a tarefa de arranjar dinheiro sujo para pagar despesas de campanhas.
Durval deu conta do recado, mas passou a registrar em vídeo a entrega do dinheiro e conversas comprometedoras.
Procedeu em legítima defesa. Temia ser preso.
Assim nasceu o mensalão do DEM, que resultou na prisão e renúncia ao governo de José Roberto Arruda, e na punição de deputados distritais.
Durval entregou sua videoteca ao Ministério Público Federal ao sentir-se abandonado por Arruda, a quem filmara com um maço de R$ 50 mil nas mãos. Negociou a delação premiada.
O destino do mandato de Jaqueline pertence a seus colegas. Ou a ela mesma caso prefira renunciar.
Bobagem a história de que o mandato dela será preservado porque o crime de embolsar propina ocorreu em 2006.
Presidente do PMDB, Ulysses Guimarães ensinava: “No Congresso, se você tem maioria, só não faz mulher virar homem nem homem virar mulher”.
Luiz Estevão de Oliveira foi acusado de ter desviado dinheiro da construção do Fórum da Justiça do Trabalho em São Paulo antes de se eleger senador pelo PMDB do Distrito Federal.
Cassaram-lhe o mandato em meados de 2.000 sob a alegação de que mentira para seus pares ao se defender. Ora, a lei admite que você minta para não ser punido.
O mensalão do PT custou a José Dirceu a chefia da Casa Civil da presidência da República e, em seguida, o mandato de deputado federal.
De nada adiantou ele alegar que não exercia o mandato quando o mensalão foi denunciado. Precisava rolar uma cabeça coroada do PT para salvar a de Lula.
Lei não retroage para punir. Mas a da Ficha Limpa retroagiu e barrou candidaturas.
O respeito à ética é condição indispensável para quem aspire representar o povo no parlamento ou exercer cargos públicos.
Jaqueline já era. Seu partido, o PMN, é sigla de aluguel. O sobrenome acaba pesando contra ela.
E a Câmara não parece disposta a inaugurar uma nova legislatura sob a marca da conivência com a quebra de decoro.
Acabar em pizza é corriqueiro. Começar com pizza é indigesto.
(*) Jornalista. O Blog do Noblat do Jornal O Globo é um dos mais lidos do País.
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