quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Omissão

Para não ver a desgraça a avestruz enterra a cabeça na areia
Padre Edilberto Sena (*)

Como gerar renda com as riquezas que a natureza Amazônica oferece sem destruí-la? Eis a questão! E como tratar as riquezas em benefício dos 25 milhões de habitantes da Amazônia? Eis uma questão mais importante. O governo brasileiro está empolgado com o crescimento econômico e já trabalha com o objetivo de o Brasil chegar a ser o 5º país mais rico do planeta. E para chegar a tal objetivo ufanista o governo federal decidiu também acelerar arrendamento de florestas a quem tiver bastante dinheiro para pagar e depois explorar tudo o que houve para vender no mercado: madeiras, resinas, óleos, frutas e até minérios.

Nestes dias o governo federal oferece para arrendamento 8 mil km² de florestas na Amazônia, em Crepori e Amana na região do Tapajós, Floresta nacional de Altamira, Saraca-taquera em Oriximiná. Estes são os lotes ofertados nestes dias aqui na região.

Mas, a farra de arrendamento de florestas está a todo vapor. São 210 mil km² à disposição dos exploradores de riquezas da Amazônia. Tudo legalizado, negociado com órgãos de gestão de florestas, como eles se autodenominam. A explicação dos funcionários do órgão federal é que, com o arrendamento de florestas se acaba a exploração ilegal de madeiras na região e se disciplina a arrecadação dos valores retirados da floresta para os cofres da nação. Tudo conforme a lei recém criada. Existe agora o supermercado de arrendamento de florestas na Amazônia. Os donos do poder de plantão é que organizam a farra. Daqui a 30 anos, ainda antes de terminar o prazo do primeiro contrato, se a coisa não der certo, os gerentes da nação que estiverem vivos que mudem as leis.

Afinal, quem arrendar florestas saberá que o que irá extrair e vender por 40 anos, sabe previamente a capacidade produtiva do lote que arrematar e que lhe dará um lucro compensador. Quem mesmo irá fiscalizar suas ações? o IBAMA? Instituto Chico Mendes? quem mesmo s estes órgãos não garantem fiscalizar hoje um décimo das questões ambientais da Amazônia?

E os povos da região continuarão a ficar com algumas migalhas de bolsa família, estradas com asfaltamento inacabado, um serviço de SUS que não atende dignamente os necessitados. Enquanto os funcionários da gestão de florestas iludem a população com falsas vantagens do arrendamento de florestas, vai enterrando a cabeça na areia, entregando a exploração das florestas aos gananciosos capitalistas. E assim dizem que não mais haverá madeira ilegal. É possível, já que legalizam a exploração.

Eis o absurdo da colonização dos povos e das riquezas deste eldorado que vai pouco a pouco sendo privatizado. Quem virá defender esta sofrida região? 17% da floresta já foi destruída. Daqui a 10 anos quanto mais estará posta ao chão e acompanhada pelos órgãos oficiais.

(*) Sacerdote e Diretor da Rádio Rural de Santarém (PA)

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