Sebastião Imbiriba (*) para o Blog Reflexões Amazônicas
Um dos prazeres mais comuns do ser humano é a crítica. Famosa fábula mostra bem que tudo o que se faça está sempre sujeito a algum tipo de censura: - O velho caminhando com seu burro e seu neto é condenado ora por irem os três a pé, por ir o neto montado e o avô caminhando ou vice-versa, os dois em cima ou, por fim, carregando o burro. Pois foi exatamente este o caso das críticas ao jantar em agradecimento aos financiadores da campanha pelo Estado do Tapajós, com distribuição de diplomas firmados pela Prefeita Maria do Carmo, pelo Presidente da Frente Tapajós, Lira Maia e pelo Presidente do Instituto Pró Tapajós - IPT, Edivaldo Bernardo, tudo coordenado pelo Tesoureiro e Arrecadador da campanha, Olavo das Neves.
Qualquer um que conheça um pouco da natureza humana sabe que as pessoas são suscetíveis a carinhos, agrados e pedidos humildes, muito mais do que a manifestações de orgulho e arrogância, principalmente quando se deseja que enfiem a mão no bolso e contribuam com altas importâncias para alguma causa. Sabe, também, que um humilde gesto de agradecimento gera bons frutos para o financiamento de uma luta que está apenas no começo e demandará ainda mais recursos. Assim, o que o Tesoureiro da campanha fez não foi mais do que preservar a galinha dos ovos de ouro. E nisto tem minha admiração, meu aplauso e meu integral apoio.
Dou grande valor a pessoas como minha irmã Eunice Imbiriba Correa que angaria recursos para a Pastoral Carcerária e meu amigo Olavo Das Neves que, como ela, vai de porta em porta pedindo dinheiro para a campanha do Tapajós, e que, também como ela, promove quermesses e jantares para arrecadação de fundos. São pessoas com essa garra, esse desprendimento e essa humildade que fazem as coisas acontecerem.
Não esqueçamos que para o povo saber que há uma causa pela qual deve lutar e votar, é necessário educar e informar esse público, propagandear a causa. E isto custa rios de dinheiro. Certamente, há meios de divulgação, de baixo custo quando mantidos por voluntários, sites de relacionamento, por exemplo. Mas tais veículos, no caso de Tapajós e Carajás, possuem no máximo 15 mil membros inscritos, dos quais menos de um por cento contribuem com postagens ou são leitores assíduos. Afinal, nem todo mundo dispõe de tempo suficiente. Portanto, embora eu reconheça a importância dessa mídia e faça uso dela, sei que não atinge a grande maioria dos um milhão e meio que votaram SIM ou dos quase dois milhões de subscritores necessários ao Projeto de Lei de Iniciativa Popular criando os Estados do Tapajós e Carajás que se pretende apresentar ao Congresso Nacional.
A campanha que estamos iniciando será mais demorada e dispendiosa do que a do plebiscito. Portanto, faço meu apelo a todos os que têm restrição ao dinheiro e coisas ligadas a ele, como a riqueza, por exemplo, ou que, como eu, prefiram discrição e modéstia na generosidade, que refreiem suas críticas e sejam tolerantes com os que aceitem e se orgulhem de receber diplomas de honra por contribuições financeiras que façam à nossa nobre causa. Sejamos compreensivos e tolerantes e aceitemos esses patrocinadores porque são absolutamente necessários ao financiamento da campanha.
Ao mesmo tempo, sei que a alta direção do Instituto Pró Tapajós - IPT, assim como a de seu equivalente do Carajás, já reestruturam seus departamentos arrecadadores com objetivo de acumular recursos de campanha. O setor coletor de recursos financeiros é extremamente importante e deve ser altamente profissionalizado e liderado por empresários dedicados e competentes como Olavo Das Neves.
Empresários, profissionais liberais, pessoas abastadas serão importantes patrocinadores, mas não excluem o pequeno contribuinte cuja dádiva tenha valor simbólico tão importante quanto magnânima doação de algum milionário. E isto lembra a campanha arrecadadora de Jânio Quadro com suas barricas postadas nas principais esquinas com o slogan “Seu tostão vale um milhão”. É claro que não foram os tostões que financiaram aquela campanha, mas a propaganda foi excelente.
Se tostões não bastam, forçoso será procurar fontes mais torrenciais, e agora me refiro à Petrobras, Vale, MRN, Rio Tinto, Alcoa, Cargill, Banco do Brasil e tantas outras grandes empresas já em atividade ou que pretendam se implantar em nossas regiões. Alguma campanha paralela de desobediência civil e ativismo político, como o fechamento de vias fluviais, ferrovias e rodovias podem ajudar a esses patrocinadores potenciais a se tornarem bastante liberais.
Outro grande possível patrocinador é o próprio governo em seus três níveis. Para isto, é de premente urgência estruturar ONGs subordinadas ao IPT, legalizá-las, fazê-las cumprir todas as exigências burocráticas estruturantes e de elaboração de projetos, que as habilitem a receber doações de órgãos governamentais e empresas estatais. Este é o método de organizações tão díspares quanto MST e APAE e pode ser também o filão do financiamento de nossa campanha.
Paixões religiosas, desportistas, políticas e ideológicas têm o condão de separar a quem se deve unir por propósito comum. Que importa ser de direita, centro ou esquerda - o que quer que isto signifique - nestes tempos de pragmatismo generalizado? Se observarmos o mundo globalizado de nossos dias encontraremos misturas de Adam Smith, Carl Max, Max Weber, Friedman, Keynes e, mais recentemente, Amartya Sen, tudo junto e bem mexido nos caldeirões dos economistas e dirigentes das nações pós-industriais, nas sociedades do conhecimento e da informação e até nos BRICS.
Nosso objetivo coletivo é emancipar Tapajós e Carajás e esse alvo é o que nos deve unir apesar de todas as diferenças e até ojerizas. Vamos ser tolerantes, esquecer paixões políticas e ideológicas e nos concentrar no que realmente importa para nós: Tapajós e Carajás.
Vamos nos irmanar neste propósito. A luta é grande e só a vitória nos interessa.
(*) Historiador e morador em Santarém
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