Arthur Virgílio (*)
Escrevo este artigo na noite de quarta-feira, quando já existem 10 mil desalojados nas regiões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro, enchentes também no Espírito Santo e caos em Divinópolis e na grande Belo Horizonte.
Depois da tragédia do ano passado, a cena se repete: a presidente (antes era o presidente) interrompe as férias e se dispõe a sobrevoar os locais afetados. Talvez até mande o helicóptero pousar, para fazer uma foto, fisionomia contraída, ar de desolação. Esquecida de que, durante os meses sem chuvas torrenciais, nada fez de prático para enfrentar o problema.
O governo federal joga a culpa nos governadores, que não teriam apresentado projetos que justificassem aportes de recursos. O governador fluminense, Sergio Cabral, anuncia sem tremer a face: “semana que vem lançarei R$300 milhões em obras”.
E se dispõe a orar pelos desabrigados e pelo fim das chuvas. Não fosse o cinismo, estaria mais para ritual indígena do que para atitude própria de quem se elegeu para proteger a população do seu estado.
Como a cada dia o poder aí posto apodrece mais, temos como novidade a “polêmica” entre o quase ex-ministro Mario Negromonte, das Cidades, e o ainda ministro da Integração, Fernando Bezerra.
Declara o segundo: “não olhem para os milhões da pasta da Integração e sim para os bilhões da pasta das Cidades”. O primeiro parece ter optado por não falar, porque quanto mais abre a boca, mais se complica.
Mas o fato é que ambas as autoridades estão inadimplentes com as vítimas das enchentes. Bezerra, inclusive, é acusado de haver destinado ao seu estado o grosso das verbas que tinha em mãos. E ainda proclama que a presidente sabia disso.
Em poucas palavras, nada tenho contra atenções a Pernambuco, terra de meu avô paterno.
Tudo, porém, a favor de equilíbrio na destinação de fundos públicos. Se faltou equilíbrio ao ministro, é porque lhe terá sobrado provincianismo.Se faltou equilíbrio à presidente, é porque lhe terá faltado também autoridade para conter seu auxiliar.
Em 2013, infelizmente, deverá acontecer a mesma coisa. Providências de fundo, eternamente adiadas, encenações pós-tragédias e paliativos acompanhados de farta intenção politiqueira.
E o governo Dilma Rousseff inaugura o novo ano com algumas pendências graves. A maior delas diz respeito ao ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
“Consultor” semelhante a Palocci, a coerência ordena que Dilma o demita, a menos que, nivelando por baixo, reconvoque seu ex-Chefe da Casa Civil e declare um Carnaval de três anos. Samba enredo: “Como Mateus, não puno os meus”.
Bom voltar a escrever, depois de uns dias de descanso. Feliz 2012. Que o novo ano sorria aos sonhos de cada um de vocês.
(*) Diplomata e foi líder do PSDB no Senado
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