Augusto Nunes (*)
Estou acompanhando com atenção o 4° Congresso Nacional do PT, que vai merecer mais de um post de bom tamanho. Mas o primeiro dia da quermesse dos pecadores sem remorso exige dois registros imediatos.
1. A ressurreição da censura à imprensa ─ primeiro disfarçada de “controle social da mídia”, agora fantasiada de “marco regulatório dos meios de comunicação” ─ é perseguida pelo PT desde os trabalhos de parto. Mas o palavrório desta sexta-feira confirma que houve uma mudança essencial. Quando José Dirceu ainda podia dizer que a seita “não róba nem dexa robá” sem ouvir de volta uma gargalhada nacional, os censores estavam de olho no noticiário político. Não queriam que os leitores soubessem que, batidas num liquidificador, as ideias do PT viram um suco com cheiro de Venezuela e sabor de Cuba. Depois da roubalheira do mensalão, o alvo se deslocou para o noticiário policial.
A implosão do templo das falsas vestais foi provocada pelas páginas reservadas a casos de polícia. Nesse espaço emergiram as informações que escancararam o embuste: depois de atravessar a infância e a adolescência reivindicando o monopólio da ética, a turma caiu na vida, gostou dos acasalamentos pervertidos e muito lucrativos com parceiros cafajestes, trocou programas políticos por projetos de enriquecimento pessoal, virou gigolô de cofre público e institucionalizou a corrupção impune. Hoje nadando em dinheiro, os Altos Companheiros acham que honestidade é coisa de otário. Mas também acham que isso não é assunto para jornal, revista, rádio e TV. O direito à privacidade se estende aos bandidos de estimação, informa a discurseira em Brasília. Se tem CPF e RG, como explicou o chefe Lula, todo gatuno governista merece muito respeito.
2. Ovacionado por centenas de comparsas que o promoveram, aos berros, a “guerreiro do povo brasileiro”, José Dirceu ganhou afagos de Lula e foi tirado para dançar por Dilma Rousseff. Nas primeiras páginas dos jornais deste sábado, sempre entre o padrinho e a afilhada, o papagaio de dois piratas exibe o sorriso de condenado à impunidade. Reinaldo Azevedo sugeriu-lhe que confirme a promoção a soldado do povo num Corinthians x Flamengo: é só avisar pelo serviço de som que acabou de chegar ao estádio e conferir a reação dos torcedores. Ótima ideia. Esse teste de popularidade nunca falha.
Cansado de engolir pitos e provocações de vizinhos de mesa, Dirceu deixou de car as caras em bares e restaurantes muito movimentados. Desde 2005, desconfia que talvez nem passe da largada caso tente cruzar sem escolta o Viaduto do Chá. Mas certamente se consola com a suspeita de que isso é coisa da elite golpista, trama urdida por granfinos quatrocentões, armação da mídia reacionária. O teste proposto por Reinaldo Azevedo não pode ser influenciado pela direita ultraconservadora. Uma plateia formada por flamenguistas e corintianos é puro povo. E o povo não permite que quem guerreia em seu nome seja afrontado por capitalistas selvagens.
Coragem, companheiro. Aceite o desafio e faça o teste. É improvável, mas talvez sobreviva.
(*) Jornalista e Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja.
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