Antenor Pereira Giovannini (*)
Ao ler umas das últimas edições do semanário local O Impacto, me deparo com a noticia de capa: “Produção de abacaxi se estraga em Mojuí”. Principal motivo é a falta de condições de escoamento, além, de dificuldades de comercialização.
Realmente é impressionante a falta de capacidade de nossos administradores em encontrar soluções para que esse exército de pessoas humildes, trabalhadoras e que mesmo diante de todas as dificuldades que uma indústria a céu aberto consome, eles ainda conseguem com dedicação, esforço, e principalmente vontade produzir 4 milhões de abacaxis.
Uma produção desse porte não nasce do dia para a noite. São alguns meses entre preparo do solo, plantio, germinação, desenvolvimento, e finalmente a colheita. Nossos administradores não acompanham. Não há interesse em saber que em pouco tempo teremos uma grande produção de algum produto e dessa forma não há nenhum preparo para acolhimento dessa produção.
As lamentações por falta de recursos já estão decoradas e na ponta da língua e dessa forma, se torna a maneira mais prática para se desvencilhar do problema e jogar a culpa em outro para não reparar ramais, além de não ter local apropriado para recepção e principalmente conceder a esse trabalhador rural um mínimo de respeito por todo seu esforço.
Com a produção colhida aonde ele irá levar para comercializar? O Mercadão aceita apenas 500 abacaxis por vez. E o resto? Como esse produtor irá sobreviver se sua produção for perdida pelo fato de não ter estrada e nem mesmo local para comercialização do produto? Quem irá ressarci-lo? Se alguém da administração municipal sabia desse montante de produção porque não tomou providencias para evitar essa perda?
Descaso, desinteresse, desprezo. Apenas podemos entender dessa forma, lamentavelmente.
Isso numa região onde muitos falam grosso em defesa da produção familiar e atuam de maneira extremamente contrária, deixando esse pessoal ao Deus dará. Muito papo, muito discurso, muitas promessas e poucas ações. Resultado: 4 milhões de abacaxis sem destino e isso sem contar com as produções de melancia e farinha que também podem ser afetadas.
Se já não conseguem acessos a créditos, mesmo os Bancos tendo dinheiro para conceder empréstimos porque a grande maioria dos produtores não são titulados e nessa briga não há interesse dos dirigentes em querer regulamentar essa pendência secular, agora mesmo produzindo um expressivo e significativo número de abacaxis, se vêem com problemas que de há muito poderiam ter sido evitados.
Mais um motivo para esperar que as promessas do Sr. Secretário de Agricultura do Estado do Pará, Hildegardo Nunes, que a instalação de um Ceasa em nossa região foi autorizada pelo Sr. Governador de Estado Dr. Simão Jatene e que em breve deverá ser instalado. Dessa forma, se torna viável aesperança pelo menos dos produtores terem um local apropriado para comercializar suas produções no dia que quiserem porque sempre haverá preços atualizados de mercado e principalmente condições de recepção. Esperando-se que a questão de acesso com os ramais em condições de trafegabilidade sejam enfim, reparados por quem de direito.
Com certeza se os atuais dirigentes se colocassem um dia no lugar desses trabalhadores iriam ver o que significa produzir, colher, atingir metas de produção e não conseguir escoar e muito menos vender. As mãos rachadas pelo esforço de anos de trabalho ser literalmente arrebentadas por falta de boa vontade em lhes conceder apenas condições de executarem aquilo que sabem fazer de melhor: produzir, muitas vezes da forma mais artesanal possível e depois de conseguirem, assistirem de fora impotente seus sonhos serem frustrados pela falta de consciência e desinteresse em resolver problemas estruturais básicos. Dinheiro certamente é importante, porém sempre existem saídas e opções quando em primeiro lugar vem à vontade em executá-las.
(*) Aposentado e agora comerciante morador em Santarém (PA)
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