Ricardo Noblat (*)
Vou não, quero não, posso não. Porque é cedo para dizer se Lula será candidato à vaga de Dilma em 2014.
No último fim de semana, em Brasília, durante a abertura do 4º Congresso do PT, ele afirmou: “Oito meses de governo são muito pouco para quem vai governar esse país por oito anos”.
Vou lá garantir que ele falou sério? Posso não. Quero não.
Foi muito rapapé. Dilma retribuiu a força que Lula lhe deu descartando qualquer chance de um dia divergir dele. “Como é que eu posso estar em conflito comigo mesma?” – perguntou. (Consulte Freud, ora!)
Depois assumiu como seus os erros e acertos do governo passado ao qual serviu com tanto denodo.
É fato: enquanto a economia for bem, Dilma também irá - mesmo que lhe falte habilidade para gerir a mais ampla aliança de partidos que um presidente jamais dispôs.
Quando subiu a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez, Lula tinha jogo de cintura e carisma de sobra. Mas a economia capengava. E ele era uma incógnita.
O PMDB fez doce para apoiá-lo. E Lula imaginou que poderia governar construindo maiorias pontuais.
Apesar do empenho de José Dirceu, não quis pagar a fortuna que o PMDB cobrou para estar ao seu lado. Quase se danou quando estourou o escândalo do mensalão. Ao subir a rampa do palácio pela segunda vez, carregava o PMDB a tiracolo.
A herança legada por Lula a Dilma tem uma face bendita e outra maldita. A pior: Lula foi leniente com a corrupção, embora negue. A melhor: milhões de brasileiros saíram da miséria e a economia permaneceu nos trilhos. Aí um monte de partidos acomodou-se no colo de Lula e delegou-lhe a tarefa de escolher seu sucessor.
Qual é o grau de satisfação dos partidos com o governo que apoiam?
Baixo. Tirem pelo PT. Não dava para os caciques do partido dizerem de público o que sussurram a respeito do governo – centralizador, personalista, confuso, descuidado com a imagem de Lula, ingrato, enfim. Então sobrou para a mídia no 4º Congresso encerrado ontem.
O PT proclamou sua disposição de ir à luta para regular o comportamento da mídia. Em diversos países existe algum tipo de regulamentação. Nada haveria de absurdo que por aqui também fosse assim. Ocorre que o verdadeiro propósito de parte do PT é controlar o que a mídia divulga.
Isso é censura. Isso contraria a Constituição.
Contraria também a orientação dada por Dilma a Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, logo no início do governo, para evitar que prospere no Congresso qualquer iniciativa que, agredindo a Constituição, acabe por indispor seu governo com a mídia.
Tem graça apanhar por algo que acabaria derrubado pela Justiça? Quero não.
Dilma recuou da “faxina ética” que a deixou bem com a classe média e mal com seus parceiros. Em todo caso, recomenda-se esperar o estouro do próximo escândalo para se saber como ela de fato atuará.
No mais tem tocado adiante tudo o que julga certo – mesmo à custa do incômodo que possa provocar nas suas vizinhanças.
Há pouco, para se prevenir de nova e iminente turbulência internacional, decidiu adicionar R$ 10 bilhões à meta de superávit primário deste ano, o dinheiro separado para pagar os juros e amortizar a dívida pública.
Ela ainda não sugeriu um corte de gastos, mas estabeleceu limites para o crescimento deles, o que irrita os políticos.
De má vontade, remeteu para o Congresso descascar a proposta de reajuste de quase 15% no salário dos magistrados. Deixou o Supremo Tribunal Federal, o autor da proposta, com a bunda exposta na janela. E está pronta para financiar a Saúde com o aumento ou a criação de novos impostos.
Os políticos fazem cara feia, mas seguem agarrados à barra da saia dela. Que outra opção teriam? Bandear-se para a oposição?
A oposição só terá futuro se Dilma não tiver. E caso Dilma não tenha, devolve-se à parede o retrato do velho. E a oposição continuará sem futuro.
Quero não. É melhor amar Dilma do que deixá-la.
(*) Jornalista e responsável pelo Blog do Noblat do O Globo/RJ
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