quinta-feira, 19 de julho de 2012

A cobrança do erro

Janio de Freitas (*)  

Grande parte, talvez a maior, da culpa pelos motivos da greve de cerca de 150 mil funcionários públicos, com possível adesão de milhares mais, é da própria CUT que comanda o movimento. Culpa que contamina a greve e enfraquece as exigências do funcionalismo para retomar suas atividades. 

A CUT dá sinal de vida, com a greve. Mas só pode fazê-lo porque passou como morta os oito anos do governo Lula. O imobilismo servil foi a sua política então. 

Ou o governo concedeu, por iniciativa própria, tal ou qual benefício em remuneração ou em condições de trabalho, ou o funcionalismo e tais condições ficaram largados a si mesmos: sindicatos curvados à CUT e a grande central "única" dos trabalhadores a detê-los com seu imobilismo indiferente. 

Não foi no ano e meio do atual governo que se acumularam os motivos para as greves reunidas pela CUT rediviva. 

As reivindicações de hoje vêm do que faltou ontem e anteontem. Por ausência de política ativa e de ação combativa da representação trabalhista. 

Afinal, como entidade dos trabalhadores, a função estrita da CUT é defender o máximo de justiça alcançável, nas circunstâncias de cada momento, para os que mantêm a sociedade com o seu trabalho. O que é a mais avançada forma de política. 

A CUT preferiu passar-se, no governo Lula, por partido político convencional. Assim como o PSDB e o DEM buscavam obstruir projetos sociais do governo, a CUT obstruiu sua função reivindicatória. 

Não precisava fazê-lo, para apoio e proteção ao governo. Houvesse batalhado por correções moderadas, mas capazes de evitar perdas excessivas, não teria prejudicado o governo e não haveria a greve atual. 

Hoje, a reposição, de uma vez só, de tudo o que ficou para trás, não é admitida pelo governo. Com o argumento, cuja contestação não é fácil, de que o custo iria contra os esforços da política econômica anticrise. 

Logo, o acúmulo de perdas permitido pela CUT prejudicou o funcionalismo antes e o prejudica outra vez, com a provável solução do parcelamento das reposições.

E greve de funcionalismo público, consiga ou não favorecer o funcionalismo, é sempre contra o público. Ou seja, contra a população que não nega ao funcionalismo correções e vencimentos em dia, assegurados pelos impostos e contribuições sufocantes e irremediáveis. 

A Troca 
A presidência da Câmara não se destinará ao PMDB por concessão do governo, como está bastante noticiado, para obter as aprovações de duas medidas provisórias e da Lei de Diretrizes Orçamentárias. 

Vem de longe um acordo de revezamento PT/PMDB, as duas bancadas majoritárias, para ocupar a presidência. 

(*) Jornalista é colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo 

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