quarta-feira, 27 de abril de 2011

Que Senado é este?

Ricardo Noblat (*)

Que Senado é este onde um Roberto Requião arranca o gravador das mãos de um jornalista, ameaça surrá-lo por causa das perguntas que lhe fez e devolve o gravador depois de ter apagado sua memória?

Onde um José Sarney, obrigado a se pronunciar, comenta timidamente a respeito: “Essas coisas acontecem”? Para afirmar logo em seguida: “Não, não foi uma agressão à liberdade de imprensa”.

E onde um Renan Calheiros, cinco vezes processado por quebra de decoro parlamentar, e uma vez forçado a renunciar à presidência do Senado para escapar de ser cassado, é escolhido para fazer parte do Conselho de Ética?

Por sinal, dos 15 titulares do Conselho a ser instalado hoje, oito respondem a processos ou a inquéritos no Supremo Tribunal Federal. São eles: Renan, Romero Jucá, Valdir Raupp, Mário Couto, Gim Argello, Jayme Campos, Acir Gurgacz e Antonio Carlos Valadares.

A vocação de ditador de Requião era por demais conhecida. O que talvez se desconhecesse para além das fronteiras do Paraná fosse sua extraordinária capacidade de ser cínico. Somente um cínico deslavado diria que o jornalista tentou extorquir-lhe respostas.

O jornalista perguntou o que quis perguntar. Nenhuma das perguntas foi descabida, como pode ser conferido no twitter do próprio Requião. Nenhuma delas soou desrespeitosa. De resto, Requião poderia ignorar as que lhe incomodassem. Assim procedem os políticos espertos.
Mas não. Ele se disse vítima de “bullying”. Que vem a ser “uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva” por uma ou mais pessoas contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidá-las.

Além de autoritário e cínico, pois, Requião é ignorante. E Sarney? O que é? Caberia dizer, como ele disse, que atos como o de Requião são “coisas que acontecem”? Afinal, Sarney é presidente do Senado pela quarta vez de 1995 para cá. Foi presidente da República.
Orgulha-se de pertencer à Academia Brasileira de Letras. Costuma exaltar a liberdade de imprensa como um dos direitos mais preciosos numa democracia. E, no entanto... No entanto não viu na agressão de Requião um atentado à liberdade de imprensa.

Pensando bem, não, não foi um atentado. Digamos que foi um estímulo para que os jornalistas exerçam seu ofício livres de quaisquer temores... Mais respeito com a inteligência alheia, Sarney! Se não tem coragem para repreender um colega em defesa da imagem da instituição sob o seu comando, cale-se!

Quanto à pergunta inicial: Que Senado é este?

Ora, é o Senado que elegemos – nós que não jogamos lixo nas ruas, que não ultrapassamos o limite de velocidade ao dirigir, que não atravessamos ruas fora das faixas de pedestres e que não embolsamos objetos perdidos.

(*) Jornalista. Colunista do Blog do Noblat no jornal O Globo do RJ

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