Como a Copa do Mundo no Brasil passou do trem-bala ao jumento. E gastando mais do que as Copas do Japão, Alemanha e África do Sul juntas. Apesar das enormes dificuldades que vive o país. Esta é a origem da revolta dos manifestantes…
Cosme Rímoli (*)
"O Brasil é a sexta maior economia do mundo e, quando Lula estava no poder, ele disse que queria uma melhoria no país.
Mas, para isso, precisa-se da vontade do povo para trabalhar.
"Os brasileiros estão um pouco insatisfeitos. Muita coisa foi prometida a eles."
"A partir do momento que o primeiro chute será dado, estou certo de que o Brasil vai ter um ambiente de futebol, samba, música e ritmo.
" Esses foram os principais trechos da entrevista de Joseph Blatter.
O presidente da Fifa falou ontem para a TV suíça RTS.
Em casa, o dirigente costuma se soltar.
E falar um pouco além da medida.
Em poucas palavras, ele resumiu muito da situação vivida pelo Brasil.
Os protestos refletem a insatisfação não com a Copa do Mundo.
Não dentro de campo.
O futebol é o principal esporte por aqui.
Capaz de fazer o país parar para assistir a um jogo.
O encantamento pela bola controlada pelos pés não sumirá jamais.
A revolta, os manifestos são pelas mentiras.
Pelas promessas e mais promessas não cumpridas.
O legado inexistente.
O atraso de propósito dos estádios superfaturados.
E principalmente pelas obras garantidas que não saíram do papel.
Levantamento mostra que apenas 41% do que foi prometido acabou cumprido.
Os 12 estádios são grande parte dessa porcentagem.
59% de obras que beneficiariam a Nação sumiram do organograma da Copa.
E vale destacar com todas as letras.
A culpa não é apenas de um partido político.
Mas de todos.
Se o governo não cumpriu, a oposição foi omissa.
Se calou por anos e anos.
Resolve questionar agora, há a cinco meses da eleição.
Postura oportunista.
O PSDB de Alckmin, por exemplo, colocou R$ 80 milhões no Itaquerão.
Da maneira mais discreta possível.
Todos os principais partidos estão envolvidos com esse Mundial.
Ninguém pode posar de santo.
São responsáveis pelo Brasil já ter perdido a Copa fora de campo.
Vale lembrar o que a então ministra da Casa Civil disse em 2009.
Dilma Rousseff estava encantada com o projeto dos trens-bala.
Trens com velocidade até 200 quilômetros por hora.
Eles rasgariam as capitais.
Foram construídos principalmente na Europa e Ásia.
Por conta da reconstrução dos países afetados pela Segunda Guerra Mundial.
No caso do Brasil, seria pelo atraso mesmo.
O trecho que foi 'garantido' por Dilma foi São Paulo-Rio.
As principais capitais do país estariam ligadas.
E serviriam não só aos turistas, mas à população em geral.
Seria apenas o primeiro de vários trens que seriam espalhados pelo Brasil.
Diminuindo a dependência de estradas, dos automóveis.
Dos caminhões para cargas.
Significaria progresso.
"Nosso projeto é que esteja integralmente pronto em 2014 ou pelo menos o trecho entre Rio e São Paulo. (…)
Pretendemos ter os trens em funcionamento em 2014, para a Copa até porque esta é uma região muito importante em termos de movimentação na Copa."
Dilma garantiu que o governo não investiria em estádios.
O presidente Ricardo Teixeira jurou que a iniciativa privada bancaria as obras.
Que não seriam tão caras.
"O Brasil não vai gastar um centavo com os estádios que serão construídos ou reformados para a Copa do Mundo.
A CBF nos apresentou uma estimativa de 1,1 bilhão de dólares (na época, R$ 2,2 bilhões). Dinheiro da iniciativa privada.
Será a melhor Copa de todos os tempos.
"A Copa do Mundo muda a percepção que o resto do mundo tem do país anfitrião."
A última frase foi sábia e profética do ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva.
Em 2007, ele fez esse juramento para a agência Reuters.
Disse que nem um centavo do dinheiro público iria para estádios.
Falou em reformas de arenas.
Orlando Silva mostrou ser um péssimo vidente.
Suas palavras hoje só revoltam quem as recorda.
Nenhum estádio foi reformado de verdade.
12 arenas acabaram sendo construídas.
Com quatro elefantes brancos assumidos.
Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus.
Os custos da dúzia dos estádios batem nos R$ 10 bilhões.
Quase cinco vezes mais a previsão da CBF e de Orlando Silva.
E 70% desse desse dinheiro é público.
Cerca de R$ 7 bilhões.
Esses números é que revoltam.
Não a Copa em si.
As promessas que viraram pó.
Blatter fala sobre vontade do povo para trabalhar.
Nisso ele está completamente enganado.
A prova está em operários trabalhando em três turnos.
Manhã, tarde, noite.
24 horas por dia...
Em ritmo alucinante para compensar o atraso do início dos estádios.
A ponto de o Ministério Público ter feito inúmeras denúncias.
Mas o Ministério do Trabalho sempre conseguiu liberar as arenas.
Elas deveriam ter começado em 2007, quando o país foi confirmado como sede.
Mas se iniciaram, em média, em 2010, outros até em 2011.
O que encareceu absurdamente tudo.
E obrigou que tudo fosse feito com uma pressa inacreditável.
O Ministério Público teve de agir em vários estádios.
As condições de trabalho dos operários são questionadas até hoje.
Nove pessoas perderam a vida trabalhando nas arenas.
A desculpa das autoridades é constrangedora.
O Brasil é um dos líderes em mortes na construção civil.
Por essa razão, as mortes dos nove operários devem ser vistas como normais.
Tudo isso é revoltante.
O Brasil tem problemas gravíssimo na Saúde, Educação, Segurança.
O IBGE mostrava em 2011.
O país tinha cerca de 16,2 milhões de habitantes em extrema pobreza.
Com renda 'per capita' de até R$ 70,00 mensais.
A Consultoria Legislativa do Senado Federal concluiu.
A Copa do Mundo do Brasil custará mais do que as três últimas somadas.
Mais do que a da Coréia e Japão, Alemanha e África do Sul.
Elas custaram R$ 16 bilhões, R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões. Juntas, R$ 30 bilhões.
A do Brasil deverá ficar no mínimo em R$ 31 bilhões.
A estimativa em 2011 apontava R$ 40 bilhões.
Foram cortados R$ 9 bilhões em obras para o país.
Justo as que serviriam como legado.
Como profunda reforma nos aeroportos e mobilidade social. A
A pessoa que mais prometeu esses avanços, hoje é questionada.
Encurralada com as cobranças.
O ex-presidente Lula.
Ele que foi culpado, segundo Blatter, por 12 arenas na Copa.
"A Fifa queria oito. Mas o governo do Brasil disse que precisava de 12 por uma questão de ajustes políticos."
Mais direto, impossível.
Por tudo isso, a cúpula da Fifa se mostra chocada.
Pela primeira vez na história parte da sociedade de um país se volta contra a Copa.
Não dentro do campo, mas contra os gastos exagerados e as promessas não cumpridas.
Sem saída diante de tantos questionamentos, Lula vai pelo caminho mais fácil.
O de tentar ridicularizar as cobranças.
Foram prometidas estações de metro que sairiam direto nos estádios da Copa.
Dos 12, apenas três estádios têm estações perto.
São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
Os outro nove, não.
"É uma babaquice a preocupação de dar condições de Primeiro Mundo ao torcedor na Copa. Como chegar de metrô dentro do estádio. O brasileiro nunca teve problema em andar a pé. Vai a pé, descalço, de bicicleta, de jumento, de qualquer coisa."
Assim o Brasil chegou ao cúmulo do vexame.
Do trem-bala a jumento em apenas cinco anos.
Gastando R$ 31 bilhões em uma competição esportiva de 31 dias...
(*) Jornalista e comentarista esportivo
Cosme Rímoli (*)
"O Brasil é a sexta maior economia do mundo e, quando Lula estava no poder, ele disse que queria uma melhoria no país.
Mas, para isso, precisa-se da vontade do povo para trabalhar.
"Os brasileiros estão um pouco insatisfeitos. Muita coisa foi prometida a eles."
"A partir do momento que o primeiro chute será dado, estou certo de que o Brasil vai ter um ambiente de futebol, samba, música e ritmo.
" Esses foram os principais trechos da entrevista de Joseph Blatter.
O presidente da Fifa falou ontem para a TV suíça RTS.
Em casa, o dirigente costuma se soltar.
E falar um pouco além da medida.
Em poucas palavras, ele resumiu muito da situação vivida pelo Brasil.
Os protestos refletem a insatisfação não com a Copa do Mundo.
Não dentro de campo.
O futebol é o principal esporte por aqui.
Capaz de fazer o país parar para assistir a um jogo.
O encantamento pela bola controlada pelos pés não sumirá jamais.
A revolta, os manifestos são pelas mentiras.
Pelas promessas e mais promessas não cumpridas.
O legado inexistente.
O atraso de propósito dos estádios superfaturados.
E principalmente pelas obras garantidas que não saíram do papel.
Levantamento mostra que apenas 41% do que foi prometido acabou cumprido.
Os 12 estádios são grande parte dessa porcentagem.
59% de obras que beneficiariam a Nação sumiram do organograma da Copa.
E vale destacar com todas as letras.
A culpa não é apenas de um partido político.
Mas de todos.
Se o governo não cumpriu, a oposição foi omissa.
Se calou por anos e anos.
Resolve questionar agora, há a cinco meses da eleição.
Postura oportunista.
O PSDB de Alckmin, por exemplo, colocou R$ 80 milhões no Itaquerão.
Da maneira mais discreta possível.
Todos os principais partidos estão envolvidos com esse Mundial.
Ninguém pode posar de santo.
São responsáveis pelo Brasil já ter perdido a Copa fora de campo.
Vale lembrar o que a então ministra da Casa Civil disse em 2009.
Dilma Rousseff estava encantada com o projeto dos trens-bala.
Trens com velocidade até 200 quilômetros por hora.
Eles rasgariam as capitais.
Foram construídos principalmente na Europa e Ásia.
Por conta da reconstrução dos países afetados pela Segunda Guerra Mundial.
No caso do Brasil, seria pelo atraso mesmo.
O trecho que foi 'garantido' por Dilma foi São Paulo-Rio.
As principais capitais do país estariam ligadas.
E serviriam não só aos turistas, mas à população em geral.
Seria apenas o primeiro de vários trens que seriam espalhados pelo Brasil.
Diminuindo a dependência de estradas, dos automóveis.
Dos caminhões para cargas.
Significaria progresso.
"Nosso projeto é que esteja integralmente pronto em 2014 ou pelo menos o trecho entre Rio e São Paulo. (…)
Pretendemos ter os trens em funcionamento em 2014, para a Copa até porque esta é uma região muito importante em termos de movimentação na Copa."
Dilma garantiu que o governo não investiria em estádios.
O presidente Ricardo Teixeira jurou que a iniciativa privada bancaria as obras.
Que não seriam tão caras.
"O Brasil não vai gastar um centavo com os estádios que serão construídos ou reformados para a Copa do Mundo.
A CBF nos apresentou uma estimativa de 1,1 bilhão de dólares (na época, R$ 2,2 bilhões). Dinheiro da iniciativa privada.
Será a melhor Copa de todos os tempos.
"A Copa do Mundo muda a percepção que o resto do mundo tem do país anfitrião."
A última frase foi sábia e profética do ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva.
Em 2007, ele fez esse juramento para a agência Reuters.
Disse que nem um centavo do dinheiro público iria para estádios.
Falou em reformas de arenas.
Orlando Silva mostrou ser um péssimo vidente.
Suas palavras hoje só revoltam quem as recorda.
Nenhum estádio foi reformado de verdade.
12 arenas acabaram sendo construídas.
Com quatro elefantes brancos assumidos.
Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus.
Os custos da dúzia dos estádios batem nos R$ 10 bilhões.
Quase cinco vezes mais a previsão da CBF e de Orlando Silva.
E 70% desse desse dinheiro é público.
Cerca de R$ 7 bilhões.
Esses números é que revoltam.
Não a Copa em si.
As promessas que viraram pó.
Blatter fala sobre vontade do povo para trabalhar.
Nisso ele está completamente enganado.
A prova está em operários trabalhando em três turnos.
Manhã, tarde, noite.
24 horas por dia...
Em ritmo alucinante para compensar o atraso do início dos estádios.
A ponto de o Ministério Público ter feito inúmeras denúncias.
Mas o Ministério do Trabalho sempre conseguiu liberar as arenas.
Elas deveriam ter começado em 2007, quando o país foi confirmado como sede.
Mas se iniciaram, em média, em 2010, outros até em 2011.
O que encareceu absurdamente tudo.
E obrigou que tudo fosse feito com uma pressa inacreditável.
O Ministério Público teve de agir em vários estádios.
As condições de trabalho dos operários são questionadas até hoje.
Nove pessoas perderam a vida trabalhando nas arenas.
A desculpa das autoridades é constrangedora.
O Brasil é um dos líderes em mortes na construção civil.
Por essa razão, as mortes dos nove operários devem ser vistas como normais.
Tudo isso é revoltante.
O Brasil tem problemas gravíssimo na Saúde, Educação, Segurança.
O IBGE mostrava em 2011.
O país tinha cerca de 16,2 milhões de habitantes em extrema pobreza.
Com renda 'per capita' de até R$ 70,00 mensais.
A Consultoria Legislativa do Senado Federal concluiu.
A Copa do Mundo do Brasil custará mais do que as três últimas somadas.
Mais do que a da Coréia e Japão, Alemanha e África do Sul.
Elas custaram R$ 16 bilhões, R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões. Juntas, R$ 30 bilhões.
A do Brasil deverá ficar no mínimo em R$ 31 bilhões.
A estimativa em 2011 apontava R$ 40 bilhões.
Foram cortados R$ 9 bilhões em obras para o país.
Justo as que serviriam como legado.
Como profunda reforma nos aeroportos e mobilidade social. A
A pessoa que mais prometeu esses avanços, hoje é questionada.
Encurralada com as cobranças.
O ex-presidente Lula.
Ele que foi culpado, segundo Blatter, por 12 arenas na Copa.
"A Fifa queria oito. Mas o governo do Brasil disse que precisava de 12 por uma questão de ajustes políticos."
Mais direto, impossível.
Por tudo isso, a cúpula da Fifa se mostra chocada.
Pela primeira vez na história parte da sociedade de um país se volta contra a Copa.
Não dentro do campo, mas contra os gastos exagerados e as promessas não cumpridas.
Sem saída diante de tantos questionamentos, Lula vai pelo caminho mais fácil.
O de tentar ridicularizar as cobranças.
Foram prometidas estações de metro que sairiam direto nos estádios da Copa.
Dos 12, apenas três estádios têm estações perto.
São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
Os outro nove, não.
"É uma babaquice a preocupação de dar condições de Primeiro Mundo ao torcedor na Copa. Como chegar de metrô dentro do estádio. O brasileiro nunca teve problema em andar a pé. Vai a pé, descalço, de bicicleta, de jumento, de qualquer coisa."
Assim o Brasil chegou ao cúmulo do vexame.
Do trem-bala a jumento em apenas cinco anos.
Gastando R$ 31 bilhões em uma competição esportiva de 31 dias...
(*) Jornalista e comentarista esportivo
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