Ribeirão Preto é a terceira cidade com maior apreensão de cocaína no país
Cidade de Ribeirão Preto/SPo |
O Globo
As voltas com o problema do consumo de álcool entre os jovens, a cidade de Ribeirão Preto está aumentando presença na chamada Rota Caipira do tráfico de drogas. Localizada a 319 km da capital paulista, Ribeirão Preto foi a terceira cidade do país onde a Polícia Federal fez mais apreensões de cocaína no primeiro semestre deste ano, na frente de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro.
Segundo a polícia, o município centralizou a distribuição da droga que vem da Bolívia e da Colômbia via Paraguai, via Mato Grosso do Sul, por rodovias e também por pequenas aeronaves . A região tem boas estradas e de muito movimento, onde circulam entre 500 e 600 caminhões por hora, entre os quais se misturam os carregamentos da droga que vem dos países produtores e vão para os grandes centros consumidores, como Rio e São Paulo, e entrepostos internacionais, como o porto de Santos e a capital paulista.
- Estamos ao lado dos maiores produtores de cocaína do mundo - lembra o delegado Edson Geraldo de Souza.
Segundo ele, as apreensões feitas a partir do trabalho da inteligência da PF passaram a ser recordes a partir de 2007, com a ação de equipes de agentes especializados. Só nos primeiros sete meses deste ano já foram apreendidos 741 quilos de cocaína em Ribeirão Preto, número só inferior a Cuiabá (MT), que fez a apreensão de 2.007 quilos, e o Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), com 935 quilos. Computados os 1.907 quilos da droga apreendidos fora da área de 61 cidades de cobertura, a equipe da Delegacia da PF de Ribeirão é a primeira do ranking nacional.
Com tanta cocaína passando pela cidade, os federais estimam que 20% fiquem para o varejo local. De janeiro a junho deste ano, conforme estatística da Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo, foram registradas 2.243 ocorrências envolvendo diretamente o tráfico de drogas, número só inferior aos 23.772 casos de furtos. Essas ocorrências policiais, de acordo com o delegado Samuel Zanferdini, do 6º Distrito Policial, tem mostrado que a situação é muito grave.
Segundo elem pequenos furtos, de R$ 20, R$ 30 e R$ 50, tem sido feitos frequentemente por adolescentes para comprar droga. Nos bairros da zona oeste e de outras áreas da cidade, contou, inventaram o "trio elétrico open bar", um caminhão onde a pessoa paga para entrar em um bar com música que fica rodando pela madrugada. O delegado, que é vereador pelo PMDB e faz palestras em escolas e entidades sobre a prevenção do uso de drogas, ainda conta alguns casos de morte de jovens por overdose este ano.
- Só este ano foram três casos de morte pelo uso de drogas. Primeiro foi um rapaz entre 15 e 17 anos que teve overdose de lança-perfume. Depois um outro de 21 anos morreu em uma 'rave' por causa do ecstasy. E no mês passado foi uma garota de 17 anos, por cocaína - diz Zanferdini.
Nesta segunda-feira, Carina vai levar Luiz Alexandre, de 17 anos, a uma clínica de Descalvado, município próximo a Ribeirão. O rapaz, que já esteve internado mas não conseguiu se recuperar, agrediu a tia, Solange Aparecida Campos, de 46 anos, que é a responsável por ele. Luizinho, como é chamado pela família, vive em um casa confortável no bairro Ipiranga, de classe média baixa, com os bisavós Jesus, de 81 anos, e Amélia, de 73. Tímido, o rapaz que aparenta ser tranquilo, já concordou com a nova internação.
- Ele passa o dia todo dormindo. Acorda de tarde e quando anoitece ele some. Volta só de madrugada - conta a bisavó. - Às vezes, ele fica nervoso porque quer dinheiro e eu não tenho. Ele pede R$ 10, às vezes R$ 20, mas a gente não tem.
O pai de Luizinho, Alexandre, morreu quando ele tinha pouco mais de um ano. Era usuário de drogas como o pai, Luiz, avô do garoto, morto com um tiro que o atingiu no coração em uma briga. A tia Solange, agente comunitária da Secretaria Municipal de Saúde que criou Luizinho, conta que ele abandonou a escola, o emprego e o curso de formação profissional no Senai assim que deixou a clínica na qual ficou internado sete meses e agora tem saído à noite praticamente todo dia, o que a deixa preocupada. Para ela, são várias as causas que levam jovens como o sobrinho a se perderem no álcool e nas drogas.
- Acho que é falta do que fazer. A lei proíbe o menor de trabalhar. E os pais dão bastante coisas, a situação financeira hoje é melhor do que antigamente. Além disso, a gente vê que a educação piorou muito.
Para o professor Sérgio Kodato, do curso de Psicologia da USP de Ribeirão, o motivo dos jovens e adolescentes estarem cada vez mais se embriagando e se drogando é a competitividade da sociedade. Segundo ele, os modelos de sucesso que chegam aos jovens, como jogadores de futebol, artistas e celebridades em geral que são apresentados como ricos e famosos, estão muito distantes da realidade que vivem. Em vez de ganhar R$ 1 milhão como a celebridade o jovem ganha R$ 1 mil e só depois de trabalhar o mês inteiro, o que causa frustração. Por outro lado, os jovens da elite, compara ele, vivem entediados e precisam de emoções para alegrar a vida monótona de uma cidade do interior.
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