Renato Gomes Nery (*)
A propaganda é a alma do negócio. E no mercado de automóveis está receita e eficaz e infalível. Com as novas tendências, modelos, inovações impensáveis, facilidades de aquisição, exposições agressivas das excelências dos automóveis. Bem como garantias cada vez maiores, com valores de revisões conhecidos, certeza de segurança quase absoluta e outras coisas mais, o consumidor é seduzido irresistivelmente a comprar um carro novo.
O carro comprado é uma maravilha. E, se importado, a sedução é maior ainda. O top da tecnologia universal. Na mão ao seu dispor. O ego é inflado e a humilde vaidade chega às raias do infinito. Ele é o que promete. O carro é tudo que o consumidor esperava. Consumo, velocidade, beleza maciez, consumo e torque. Não falta nada. A assistência técnica é perfeita e os preços desta assistência realmente são baixos e garantidos. Enfim, o carro é perfeito e o seu consumidor, por este feito, se sente o “Rei da Cocada Preta”. Mas como “não há bem que sempre dure e nem mal que nunca acabe”, um pouco de pimenta nesta maravilhosa moqueca, pode azedá-la.
De repente o satisfeitíssimo consumidor que está à mercê das leis da física, descobre que uma delas estabelece que “dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço”. No confuso e caótico trânsito se envolve em um inexplicável acidente. Ele não foi grande – não houve sequer vítimas. E neste caso nem a Polícia Militar atende no local, pois ela somente aparece em acidentes com vítima (s).
A Corretora de Seguros lhe atende prontamente. O carro e outro envolvido eventualmente no acidente são rebocados. No dia seguinte, após fazer o Boletim de Ocorrências, o consumidor vai para a oficina credenciada do seguro, onde lhe é fornecido o diagnóstico dos danos materiais do veículo. Os danos não foram graves, mas para serem reparados dependem de reposição de inúmeras peças que serão solicitadas na concessionária que irá acionar a distribuidora ou a fábrica para ver se uma delas dispõe das peças para o envio imediato. Aí começa o pesadelo do consumidor acompanhado de um calvário.
Seu seguro lhe garante um carro para lhe socorrer por 15 dias, mas você fica sabendo que na oficina existem carros a espera de peças, há mais de 30, 40, 60, 90 e até 120 dias.
Depois um mês e meio as peças chegaram, mas uma delas é do lado esquerdo, mas a peça danificada é do lado direito. E a concessionária lhe afirma que vai demorar mais 15 dias para a troca da peça. Como o consumidor insiste, a concessionária lhe afirma que ela pode chegar em 03 dias por via área, desde que ele arque com os custos da remessa. Ele aceita pagar, mas a peça não chega no prazo aéreo. Durma com um barulho destes que eu quero ver.
Então um amigo sugere por que o consumidor não tem dois carros, se tivesse não tinha estes aborrecimentos. E ele pensa, não preciso de dois carros. Seria um acinte ter dois carros quando a maioria das pessoas não tem carro.
A peça não chega. O carro não fica pronto. O prazo do carro fornecido pela seguradora já se esgotou. Cansou-se de andar de carona. O carro alugado posteriormente já estourou o orçamento e foi devolvido. Estar-se exausto, esgotado e impotente. O sonho dourado virou pesadelo.
É aconselhável toda vez que se for comprar um carro novo, principalmente, se for importado, com as exceções devidas, se pense e se verifique as garantias não somente uma vez, mas várias, pois nem sempre se compra um veículo, mas uma dor de cabeça. E, também, com as exceções pertinentes, o consumidor somente é cortejado e adulado na compra e abandonado à própria sorte depois.
Neste País de tantos e tão graves desmandos - não se sabe se seria exigir demais - que não se deixasse estabelecer aqui, quem não oferecesse as condições mínimas e dignas de respeito ao consumidor.
(*) Aadvogado em Cuiabá – E-mail - rgnery@terra.com.br
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