Ricardo Noblat (*)
1) Somente este ano, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), usou duas vezes um helicóptero da Polícia Militar do Maranhão para passear em sua ilha. A aeronave foi adquirida no ano passado para combater o crime e socorrer emergências médicas. Foi paga com recursos do governo estadual e do Ministério da Justiça e custou R$ 16,5 milhões.
Numa das viagens até a ilha de Curupu, onde tem uma casa, o senador foi acompanhado de um empresário com contratos milionários no Maranhão, Estado governado por sua filha Roseana Sarney (PMDB).
No fim do passeio, o desembarque das bagagens de Sarney atrasou o atendimento de um homem com traumatismo craniano e clavícula quebrada que fora socorrido pela PM e chegara em outro helicóptero antes de Sarney.
2) O deputado federal José Vieira (PR-MA) repassou R$ 560 mil da verba de custeio de atividade parlamentar a uma empresa-fantasma.
Durante dois anos, Vieira, que tem avião próprio, simulou despesas com afretamento de aeronaves para seus deslocamentos no Maranhão.Os pagamentos foram feitos à Discovery Transporte e Logística, uma suposta empresa de táxi aéreo que só existe no papel.
3) Seis meses depois de mudar sua destinação, o Instituto para a Preservação do Meio Ambiente e Promoção do Desenvolvimento Sustentável, uma ONG de Sergipe especializada em assuntos rurais, obteve contrato de R$ 8 milhões do Ministério do Turismo para qualificar 18 mil cozinheiros, garçons, taxistas e outros profissionais do turismo.
O projeto foi aprovado menos de sete horas após o início da sua análise. Sem matricular ninguém, a ONG já recebeu R$ 3 milhões.
4) A situação dos irmãos Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti e Ismael César Cavalcanti Neto, donos da Sasil e da Triflex, complicou-se ainda mais depois da série de depoimentos colhidos pela Polícia Federal desde o início da Operação Alquimia.
Pelo menos 12 investigados confessaram ter participado de fraudes fiscais em empresas dos dois irmãos. O grupo é acusado de sonegar pouco mais de R$ 1 bilhão.
5) Dois meses após o acidente de helicóptero no litoral da Bahia que tornou pública a proximidade entre o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, a administração estadual fluminense voltou a firmar com a empreiteira contratos emergenciais, aqueles que dispensam licitação.
Nos quatro anos e sete meses da gestão de Cabral, a construtora faturou mais de R$ 1,3 bilhão em contratos com o governo do Estado - sendo R$ 214 milhões em contratos emergenciais.
Cabral e Cavendish já viajaram com suas famílias para as Bahamas, no Caribe, em um jato do empresário Eike Batista, cujas empresas são beneficiadas por anistias e incentivos fiscais do governo do Rio.
6) O radar do Palácio do Planalto está apontado desde a semana passada para o gabinete do ministro Mário Negromonte (PP), das Cidades.
Em guerra aberta com uma parte da legenda pelo controle do partido, Negromonte estaria transformando o ministério num apêndice partidário e usando seu gabinete para tentar cooptar apoio.
Segundo relatos colhidos por Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, as ofertas em troca de apoio incluem uma mesada de 30.000 reais para o deputado que aderir a Negromonte.
7) Por quatro vezes nos últimos 40 dias, a revista ÉPOCA perguntou a Paulo Bernardo sobre suas eventuais viagens em um avião particular quando exercia o cargo de ministro do Planejamento no governo Lula.
Trata-se do King Air, matrícula PR-AJT, que pertence ao empresário Paulo Francisco Tripoloni, dono da construtora Sanches Tripoloni.
Em nenhuma dessas ocasiões, Bernardo respondeu à pergunta.
A indagação tem duas razões. Um parlamentar que integra a base de apoio do governo Dilma no Congresso disse que viu Paulo Bernardo embarcar no ano passado no avião da construtora Sanches Tripoloni em um terminal do Aeroporto de Brasília.
Outro parlamentar, de oposição ao governo, também afirmou que a chefe da Casa Civil da Presidência da República, a ministra Gleisi Hoffmann, mulher de Paulo Bernardo, usou o avião em sua pré-campanha ao Senado Federal pelo Paraná.
Como ministro do Planejamento, Paulo Bernardo mostrou um empenho especial na construção do Contorno Norte de Maringá, no Paraná – uma obra tocada pela empreiteira Sanches Tripoloni, que já custa o dobro de seu preço original.
8) Em uma sessão de julgamento que durou 44 horas e meia, o prefeito de Campinas, no interior de São Paulo, Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT), teve o mandato cassado pela Câmara Municipal por 32 votos a um.
A Câmara entendeu haver responsabilidade de Dr. Hélio em três episódios: fraudes em contratos da empresa de saneamento da cidade; irregularidades no sistema de liberação de loteamentos e de empreendimentos imobiliários; e ilegalidades no modelo de operação de antenas celulares.
9) A Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP, se dispôs a devolver o dinheiro do contrato que assinou com o Ministério da Agricultura após uma licitação fraudada com documentos forjados com o timbre da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
A fundação recebeu até agora R$ 5 milhões dos R$ 9,1 milhões do valor original do contrato, cujo objetivo é a realização de cursos para funcionários do ministério.
10) A "faxina ética" no governo causa enorme desconforto no PT.
Dirigentes do partido temem que, com a escalada de escândalos, o governo de Lula acabe carimbado como corrupto.
Afinal, todos os ministros abatidos até agora foram "herdados" de Lula. Uma vez que foi ao chão o terceiro ministro do governo Dilma por conta de denúncias de irregularidades, o empresariado brasileiro diz que a presidente terá apoio total para seguir em frente com a “faxina ética”.
De acordo com estudo da Federação da Indústria do Estado de S. Paulo, a corrupção custa ao país pelo menos R$ 50,8 bilhões por ano, dinheiro suficiente para construir 78 aeroportos ou 57 mil escolas ou rede de esgoto para 15 milhões de domicílios.
(*) Jornalista é responsável pelo Blog do Noblat no jornal O Globo (RJ)
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