terça-feira, 2 de agosto de 2011

O bonde da indústria

Valdo Cruz (*)

Brasília vai assistir hoje a mais um festival de promessas no lançamento da política industrial do governo Dilma. Batizada de "Brasil Maior", o objetivo, mais uma vez, é tornar principalmente nosso setor industrial mais competitivo no cenário internacional. Se tudo seguir o roteiro de sempre, de nada vai adiantar. A indústria brasileira vai continuar perdendo o seu bonde da competição no comércio mundial.

Lula, o mentor de Dilma Rousseff, lançou sua política industrial e não conseguiu atingir nenhuma das metas que fixou. Mesmo que atingisse, de pouco adiantaria. Nenhuma delas atacava direta e definitivamente as causas principais da perda de competitividade da indústria brasileira. O ex-presidente praticamente não avançou numa agenda de reformas que reduzisse, de fato, o elevado custo Brasil em todas suas dimensões.

Depois de oito anos de governo Lula, a carga tributária não caiu como chegou a ser prometido, os custos trabalhistas e previdenciários não foram reduzidos e nossa eficiência no setor de logística não melhorou.

Resultado: o país durante o período lulista, de fato, melhorou, atraiu a atenção de investidores internacionais e, por tabela, nossa moeda ficou mais forte, mas pouca coisa foi feita para reduzir a desvantagem do nosso setor industrial em relação a seus competidores mundo afora. Essa era uma equação que estava cantada por muitos analistas, mas Lula não quis ou não conseguiu enfrentar esses desafios.

O fato é que não há como fugir dessa realidade. Quanto mais o país melhora, quanto mais se desenvolve, mais sua moeda tende a ficar mais valorizada. As medidas a serem anunciadas hoje, que o governo tenta guardar como segredo, têm sua importância, mas seus efeitos poderiam ser muito mais significativos caso o último governo tivesse feito seu dever de casa e buscado reduzir nosso custo Brasil.

Com a palavra e, a caneta, o governo Dilma. Depende dele se a indústria vai continuar perdendo seu bonde ou vai continuar assistindo ao mesmo filme de sempre. Filme que, por sinal, não vale nem um pouco a pena ver de novo.

(*) Jornalista é repórter especial da Folha de São Paulo.

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