Kennedy Alencar (*)
Avaliações realistas a respeito da perspectiva de recessão americana e da crônica crise fiscal europeia levaram a presidente Dilma Rousseff a ajustar suas estratégias política e econômica. "A ficha caiu", diz um integrante da cúpula do governo.
Leia-se: a gestão Dilma passou a contar com um cenário mais adverso na economia e no Congresso. Portanto, precisa rever suas diretrizes.
Na política, há uma tentativa de melhorar a tensa relação com os aliados. Não foram apenas demissões num estilo mais duro que pesaram na piora desse relacionamento. Também contribuíram um certo distanciamento da presidente da classe política e um arrocho verdadeiro na liberação de emendas parlamentares.
Dilma faz bem ao tratar com maior firmeza suspeitas e suspeitos de corrupção. Mas pretende evitar o clima de execução sumária que a faxina no Ministério dos Transportes andou estimulando. É uma operação de ajuste fino combinar rigor ético com a realidade de manter maioria no Congresso para governar.
Segundo um auxiliar, Dilma demonstra disposição de se aproximar dos políticos, mas não deixará de ser mais inflexível do que gostariam seus aliados quando o tema for corrupção.
A queda na pesquisa CNI-Ibope ajudou a ficha a cair. Para um ministro com trânsito no Palácio do Planalto, houve certa ilusão de que a imagem de paladina da justiça renderia somente bons frutos. O noticiário recheado de tantas acusações de corrupção tem reflexo negativo sobre a avaliação do governo.
Na opinião de Dilma, ela enfrenta um problema mais grave: uma nova maré mundial de dificuldades econômicas. Há gente no governo dizendo que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano será uma vitória se ficar entre 3% e 3,5% --distante do discurso oficial de 4% a 4,5%.
Aumentou a possibilidade de o Banco Central começar a reduzir os juros ainda em 2011. O dragão da inflação assusta menos. O fantasma do câmbio arranca os poucos cabelos da equipe econômica, mas é um problema que Dilma e ministros julgam ser difícil combater apenas com canetadas para proteger setores da economia doméstica.
O maior temor passou a ser uma queda significativa do crescimento do PIB, o que resultaria em menos empregos e menos renda.
Ter evocado a receita da crise de 2008-2009 parece uma boa saída. O herói daqueles dias foi o consumo das famílias, turbinado pelo fortalecimento do mercado interno de 2003 para cá.
A maioria dos economistas diz que o Brasil deverá sofrer menos agora do que sofreu no final do governo Lula. Mas isso dependerá de uma pilotagem tão eficiente quanto a de dois anos atrás. É um belo teste para a gerente.
(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo
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