quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Algo de novo no ar

Eliane Cantanhêde (*)

Está em curso uma curiosa mexida de peças no tabuleiro político.

Dilma assumiu o governo, há apenas oito meses, com uma base aliada imensa, de dar inveja a gregos, troianos e tucanos, mas também de deixar qualquer presidente, de qualquer partido ou época, de cabelo em pé.

Com o esfarelamento dos esquemas nos Transportes, as descobertas na Agricultura e as prisões às dezenas no Turismo, é hora de um bom sacolejo. E de inventariar quem é quem.

Os partidos aliados já não parecem tão aliados e alguns articulam até operação-padrão no Congresso. O PR, magoado por perder o feudo e as mamatas dos Transportes, anuncia inclusive que sai da base aliada. O que, cá entre nós, não significa exatamente sair dos cargos...

Do outro lado, a oposição continua pequenina e aguerrida, somando PSDB, DEM, PPS e PSOL. Aumentar, não está aumentando. Só está ganhando pretextos para azucrinar o governo, como, aliás, compete às oposições aqui e alhures.

Agora, surge um movimento no meio, entre o governismo e o oposicionismo: é o tal grupo ético do Senado.

Os dez parlamentares originais desse grupo são de partidos aliados ao governo, mas que se dizem independentes, sem alinhamento automático ao Planalto. E, agora, se reúnem para apoiar Dilma no combate à corrupção, ressalvando que isso não significa, nem vai significar, apoio irrestrito, nem apoio em outras matérias.

Ou seja: se a presidente perde o PR na luta contra a corrupção (o que não chega a ser surpreendente), ganha gente como Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, do grupo independente do PMDB, e Ana Amélia, do PP. Pode-se dizer que se trata de um movimento, antes de mais nada, para neutralizar preventivamente as ameaças à limpeza nos ministérios que Dilma ora capitaneia, ora deixa acontecer.

Dilma, assim, trabalha agora, grosso modo, com três conjuntos políticos no Congresso: uma base aliada inflada e pouco confiável, onde se destaca o PMDB; uma oposição bastante minoritária, mas tentando se organizar; e um grupo intermediário disposto a lhe dar sustentação na tal "faxina ética", sem compromisso no restante.

O PMDB deve ficar atento: quanto mais o partido resistir à faxina e tentar amedrontar a presidente, mais ela recolherá apoios em outras áreas políticas que têm uma imagem muito melhor. Difícil saber como funciona na prática legislativa, mas o efeito na opinião pública tende a ser bom.

E vai que a onda cresce? Quem vira as costas ostensivamente para ondas éticas? Basta lembrar as "diretas já", o impeachment de Collor, as CPIs dos bons tempos... todas começaram com um grupinho. E deram no que deram.

(*) Jornalista é colunista da Folha de São Paulo desde 1997

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