Tostão (*)
Investidores, marqueteiros e cartolas fingem que contrataram o melhor jogador do mundo.
O SER HUMANO, para sobreviver e construir a civilização, teve de reprimir, negar e sublimar seus instintos e vários desejos.
Para isso, pagou um preço, como mostrou Freud em um de seus melhores livros, "O Mal-Estar na Civilização". Hoje, o mal-estar é ainda maior.
O ser humano costuma também fingir e mentir por hábito, necessidade, compulsão ou sem-vergonhice. Todos os anos, governantes, principalmente os de países mais ricos, se fingem de anjos e se reúnem para discutir os gravíssimos problemas da fome, ambientais, de aumento da temperatura do planeta e outros. Nada fazem para valer.
Todos os anos, especialistas mostram as soluções técnicas para prevenir os gravíssimos problemas ocasionados pelas chuvas, e as autoridades sobrevoam as áreas das tragédias. Nada fazem para valer.
No futebol, dirigentes e investidores do Flamengo fingem que contrataram o melhor do mundo. Torcedores eufóricos e iludidos acham que agora o time ganha tudo. Marqueteiros promovem um produto que não mais existe. Parte da imprensa trata a contratação de Ronaldinho como se fosse a de Romário, quando ele deixou o Barcelona para o Flamengo com o título de melhor jogador do planeta.
Desde a Copa de 2006, Ronaldinho é um jogador de dois passes excepcionais e um ou outro drible espetacular, sem sair do lugar. Para os grandes times da Europa, é muito pouco. Desistiram dele.
Será suficiente para o Flamengo e para o futebol que se joga no Brasil? No Milan, quando o técnico era Leonardo, Ronaldinho ensaiou uma grande recuperação, mas logo a chama se apagou.
A dedicação, a disciplina, a renúncia a muitos prazeres e, principalmente, a consciência do mundo que o cerca, condições necessárias para um craque se manter em forma por um longo tempo, são incompatíveis com a vida de celebridade e de riqueza. Há exceções. Messi, Iniesta e Xavi, como disse Casagrande, no Arena Sportv, além de craques, são pessoas normais.
Ronaldinho parece uma mercadoria, um boneco guiado por controle remoto, que sorri e fala sempre a mesma coisa e com a mesma cara.
Ronaldinho não é Ronaldo. O torcedor do Corinthians, honrado em ter na equipe um dos maiores jogadores da história, aplaudiu Ronaldo, mesmo sem jogar ou jogando mal
O flamenguista não vai fazer o mesmo. Quer títulos. Ronaldinho não tem o carisma e o prestígio de Ronaldo. Terá de ser excepcional.
Ronaldinho, acorde!
(*) Médico, comentarista esportivo, ex-jogador da Seleção Brasileira campeão do Mundo em 1970
Nenhum comentário:
Postar um comentário