Em discussão, quanto vale uma mina d’água preservada
Para os agricultores que estão recebendo para preservar as nascentes de Apuracana (PR), cada mina vale R$ 100 por mês.
Se plantassem soja no local, poderiam ultrapassar esse valor em 10% vendendo a produção a R$ 45 a saca (60 kg).
Quem planta café, teria renda bem maior.
Uma única saca de grão rende de R$ 250 a R$ 300 na região.
As comparações são grosseiras, por não considerarem custos e porque a área de preservação legalmente não poderia ser usada na agricultura.
Mas, é a partir daí que os produtores discutem quanto vale uma nascente.
Para quem precisa aproveitar cada centímetro de terra para tornar a propriedade viável, viver cercado de fontes naturais é motivo de lamentação.
O pagamento pelo serviço de preservação mudou esse quadro.
Não que os produtores tenham se tornado ambientalistas irredutíveis. Mas agora, enquanto falam do programa de compensação, se detêm nos interesses da coletividade e mostram satisfação por estarem preservando a natureza.
Questões de valor menos matemático. “Quando chove, vira um mundaréu de água. Compensa preservar porque a gente ocupa a água, para o gado, para beber. Só aqui perto, têm 12 famílias que bebem essa água”, afirma Paulo Fenato, produtor de café. Ele é um dos que mais recebem compensação por serviço ambiental. Sua área de 39 hectares possui dez minas.
O programa Oásis remunera a preservação de, no máximo, sete. Ele conta proteger todas e ganhar R$ 562 por mês. Para cumprir a legislação ambiental, não pode cultivar cerca de 15 hectares (38% da propriedade).
A família de Mauro Carlos de Assis comprou, na década de 70, área de 2,4 hectares encostada da cidade de Apucarana.
As oito minas que existem no terreno elevaram o preço do imóvel na época.
Hoje, porém, tornam a chácara aproveitável apenas para moradia, reclama o ex-ferroviário. Assis chegou a criar vacas de leite no local, mas atualmente só cultiva verduras, para garantir o recebimento de R$ 580 por mês pelo projeto Oásis. O terreno se tornou um mosaico de área de preservação e canteiros.
Ainda em recomposição, as áreas em volta das nascentes estão virando matagais. “O jeito é seguir a lei e aderir ao projeto para não ficar só no prejuízo”, afirma. “Para mim, a vantagem é morar no mato, praticame nte no meio da cidade.” Com 8,3 hectares, Valto Amadeu tem apenas 5 ha livres para plantio. Ele dedica a área ao café e trabalha com aviário de 10 mil frangos. A renda do grão é anual e a da avicultura chega a cada dois meses. Dinheiro mensal, só os R$ 128 do projeto Oásis. “Dá quase para pagar a conta da luz elétrica”, relata. Em sua avaliação, o valor de uma mina é maior para a cidade do que para quem trabalha no campo e, por isso, destinar 1% da conta da água à preservação não representa um investimento caro para ninguém. “É melhor uma torneira pingando do que uma torneira seca.”
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