sábado, 15 de junho de 2013

Vaias no duelo entre os 20 centavos e os R$ 25 bilhões

Bob Fernandes (*) 

É um encontro de contas. 

Nos dias em que o movimento originado nos 20 centavos sacode São Paulo e, por centavos outros espalhou-se pelo país, a seleção brasileira abre a Copa das Confederações no Mané Garrincha. Estádio de R$ 1,2 bilhão. A um ano da Copa do Mundo que, entre “arenas” – R$ 7,3 bilhões – e mobilidade urbana gastará R$ 25 bilhões em dinheiro público. Para quem sabe pouco desse jogo, e protesta, pouco importa se dinheiro público federal ou estadual. Dinheiro Público. 

É evidente que obras de mobilidade, quase todas para só depois da Copa, servirão, se bem executadas, para desafogar as enfartadas capitais beneficiadas. Mas, nesse momento em que o estopim está aceso nas ruas, torna-se simbólica a batalha entre os 20 centavos e os R$ 25 bilhões. 

O Mané Garrincha é um caso à parte. Foi todo construído e bancado com dinheiro, público, do governo do Distrito Federal. 

Ao percorrer suas gigantescas artérias, abaixo das arquibancadas, não há como não recordar Tutancâmon ou Ramsés II. É faraônico. Shows à parte, no quesito futebol, deverá, no decorrer do ano, abrigar clássicos como Gama e Sobradinho, ou Capital e o melhor colocado na cidade, o Brasiliense, da terceira divisão. 

Onde há dinheiro público diretamente envolvido, caso do Maracanã e dos estádios de Manaus e Cuiabá, a Controladoria Geral da República pode, por amostragem, ao menos investigar os Projetos Executivos lá no início. 

Onde o dinheiro chega com empréstimo para os estados, as auditorias caberão aos tribunais de contas dos estados ou municípios. Em Brasília, portanto, decidir se o R$ 1,2 bilhão foi gasto como deveria cabe aos Conselheiros do Tribunal de Contas Local. 

São eles: Inácio Magalhães, o presidente. Anilcéia Machado, Renato Rainha, Manoel Paulo de Andrade e Paulo Tadeu. 

A Conselheira Anilcéia já foi Administradora Regional de Sobradinho, Coordenadora da Política do Idoso, na Secretaria de Estado de Assistência Social do DF e Deputada Distrital pelo PSDB. 

O Conselheiro Paulo Tadeu também vem da política. Foi deputado distrital e, eleito federal, optou por se tornar, antes do Tribunal, o principal secretário de Agnelo Queiróz. Agnelo, do PT, é o governador da Brasília onde foi erguido o Mané Garrincha de R$ 1,2 bilhão. 

“Gás lacrimogênio não faz mal saúde, basta não esfregar o olhos”, informa o locutor à entrada do estádio, e completa em busca de tranquilizar a multidão nas filas de acesso ao Mané Garrincha: 
 - A Polícia Militar está aqui com 2 mil homens para sua completa segurança. 

Mochilas e computadores entram no estádio e, até as nossa cadeiras na tribuna de imprensa, nenhum tipo de revista. Nem de scanners nem de humanos. Da mesma forma, todos os carros com licença para estacionar ao lado do Mané. 
Mais bombas de gás. 

Roupas pretas, cabelos moicanos, piercings, correntes na cintura, punks das cidades satélite passam em fila indiana, cobrindo os rostos para não aspirar o gás. 
Vaias de quem está nas filas de acesso. No câmbio negro, ingressos de R$ 500 a 900 três horas antes do jogo. 

Desde as dez e meia da manhã, algo como dois mil manifestantes do movimento “Copa pra Quem?” se espalham. Aqui e ali, já dispersos, enfrentam a polícia. 

Vai começar o Brasil x Japão. No estádio de R$ 1,2 bilhão, a conexão 3G não funciona. 

O locutor anuncia o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Vaia de todo o estádio. Blatter anuncia a presidente Dilma Rousseff. Que, sob gigantesca vaia, declara “aberta a Copa das Confederações”. 

(*) Jornalista , foi redator-chefe de Carta Capital

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