sexta-feira, 14 de junho de 2013

Falta alguém na Paulista

Clóvis Rossi (*) 

É insano, absolutamente insano, continuar a permitir que a "negociação" com o MPL (Movimento Passe Livre) seja feita pela polícia. 

É escandalosamente óbvio que a polícia vai entrar para bater - e, de repente, alguém vai morrer - e que uma parte, certamente pequena, dos manifestantes vai entrar para quebrar. 

Depois, o que resta? Condenar a violência, que deve ser sempre condenada, mais ainda se parte da polícia, e lamentar o vandalismo, que também deve sempre ser condenado? Resolve alguma coisa? Nada. 

O que falta na avenida Paulista é Política, que escrevo com maiúscula porque a política anda tão aviltada que precisa de um pouco de amor próprio. Faltam deputados e senadores, vereadores e líderes partidários capazes de fazer o meio de campo entre os manifestantes e o poder público. 

Não é assim que funciona a democracia? A sociedade tem demandas, grupos se organizam para defendê-las e a Política faz a intermediação entre a sociedade e o Estado. 

É assim que se começou a apagar um incêndio muito mais virulento que o da Paulista. Refiro-me às manifestações na praça Taksim de Istambul. Um governante acusado de autoritarismo, caso do primeiro-ministro Recep Tayypan Erdogan, chamou parte dos manifestantes para dialogar no palácio do governo e anunciou que suspenderia as obras para a construção de um centro comercial no adjacente Parque Gezi, motivo original do incêndio. Demorou mas chamou. 

Será tão difícil adotar comportamento similar em São Paulo, no Rio e em outras cidades em que há protestos? 

Será tão difícil assim saber o que os grandes partidos pensam da proposta de passe livre? Será tão difícil assim provar, por A mais B, que a proposta é inviável, se é que é inviável? Há propostas alternativas aceitáveis? 

Política, Política, Política, única alternativa à guerra entre canibais e antropófagos, como o sempre magistral Elio Gaspari se referiu aos dois lados. 

Mas, atenção, nem a mais afiada Política é capaz de pôr fim ao vandalismo. Anos e anos de vasta quilometragem rodada na cobertura de manifestações, de Buenos Aires a Washington, de Genebra a Praga, boas doses de gás lacrimogênio inaladas, uma pancada no estômago em pleno centro de Florianópolis - tudo isso me ensinou como funciona o script de manifestações populares. 

Há um núcleo grande de movimentos com bandeiras legítimas, discordemos ou não delas, que marcham pacificamente, cantando e gritando slogans. Dessa massa, desprende-se um grupo menor que busca a violência pela violência e gera a violência da polícia. 

O essencial é separar o joio do trigo - e não atirar no trigo. 

Hélio Schwartsmann: Mesmo rejeitando o vandalismo, deve-se reconhecer que protestos por vezes tonificam a democracia  

(*) Jornalista é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo E-mail: crossi@uol.com.br

Um comentário:

  1. Caro Jornalista Clóvis Rossi, a quem acompanho há muitos anos, prezo e admiro:

    Parece que estamos tão acostumados ao exercício da "politicagem", com letra minúscula, independentemente de partidos, que esquecemos como exercitar a Política, com letra miúscula. E isso se aplica também ao Governador Alckmin. Ao que tudo indica, Alckmin demonstra por vezes um certo desaprendizado da Política. Está distante. Quando aparece na mídia, o mesmo dircurso insosso e esteriotipado. Uma morte, de preferência causada pela polícia, viria a calhar para seus opositores, nessas manifestações esquisitas que estão ocorrendo. Alckmin que se cuide!! (Gentil Gimenez - São Paulo/SP - um leitor)


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