Bellini Tavares de Lima Neto (*)
É bem verdade que ninguém explicou muito bem como seria o fim do mundo ou, se alguém explicou, eu é que não fiquei sabendo.
Não sei se ia ser uma explosão ou seria fogo ou água ou algum outro jeito qualquer. Mas, mesmo assim, essa questão do Oriente parece que liquida o assunto.
Apesar do retumbante fracasso, seria o caso de se parar para pensar sobre um ou outro ponto relacionado com essa história que, por sinal, não é nada original.
Sim, porque já andaram acabando com o mundo em outras ocasiões. Depois, passa o dia marcado, não acontece nada e fica tudo por isso mesmo.
Ninguém é obrigado a indenizar ninguém, ninguém leva uma espinafração em regra como deveria acontecer com assunto dessa importância.
Ora, estamos falando do fim do mundo, do único que conhecemos, o que é ainda mais sério, o único que temos.
Se este aqui acaba, para onde vai essa gente toda de uma vez só. Sim, porque, morrendo em lotes menores ainda há como ir acomodando essas pequenas quantidades pouco a pouco, mas, se vai todo mundo na mesma hora, não se consegue nem imaginar como fica o lugar para onde vai todo mundo, seja lá onde for. Ainda que cada grupo vá para o lugar indicado pela sua respectiva religião, ainda assim seria uma confusão sem precedentes.
Já houve outras situações parecidas como a que acabou de fracassar, mas estando com esta bem fresca na cabeça, convém pensar um pouquinho sobre ela.
Com que, então, os maias construíram lá um calendário que, por alguma razão, termina no dia 21 de dezembro de 2012.
Segundo se sabe, a civilização maia é mais que milenar e se destacou por avanços pouco comuns para a época. Mas, daí admitir que, com os recursos científicos e técnicos da época, fosse possível prever o fim do mundo com data precisa, já não é um pouco demais, não?
Bem, para um bocado de gente, não. Tanto é que, segundo foi noticiado, houve gente construindo verdadeiras fortalezas para se proteger sabe-se lá do que.
E houve quem saísse de onde mora para ir para lugares onde, segundo sabe-se lá o que, o fim do mundo não aconteceria.
Ora, se é o fim do mundo, ou existem vários mundos ou esses lugares não fazem parte do mundo. Como se vê, fica cada vez mais difícil construir a história do fim do mundo!
É curioso como o ser humano parece gostar desses episódios e eventos. Prova disso é que, de tempos em tempos aparece algum visionário que consegue reunir uma porção de gente que se dispõe a seguir o maluco seja para onde ou para o que for. Houve um que acabou causando um suicídio coletivo, todos absolutamente convencidos de que estavam indo para um lugar especial.
É só aparecer alguém acenando com algum mistério e, pronto: logo aparece um monte de fieis acreditando piamente no que diz o dito cujo.
Quem se lembra de acontecimentos lá dos anos 60 pode se recordar de uma historia fantástica que percorreu o mundo e causou uma grande celeuma: a morte do “beatle” Paul MacCartney. Aos poucos alguém foi lançando esse boato que, naturalmente, vinha acompanhado de pequenas comprovações ou indícios: a capa do LP “Sgt. Peppers" em que Paul aparecia de costas e os demais de frente; a fotografia de frente do mesmo disco em que uma mão aparecia bem acima da cabeça do músico e se dizia que se tratava de um famoso escritor inglês especialista em histórias sobrenaturais, Edgard Allan Poe.
E, por aí afora. Foi uma verdadeira febre, gente discutindo, alguns atestando categoricamente a morte do homem.
O resultado foi um aumento espetacular nas vendas dos discos do quarteto.
Existe uma porção de celebridades que parte desta para melhor, mas não consegue que algumas pessoas aceitem o fato. Houve muita gente que, durante muito tempo, afirmava que o presidente norte-americano John Kennedy, baleado em Dallas, não tinha morrido coisa alguma. Tinha ficado lesado por causa do tiro e foi escondido numa ilha deserta.
Como isso aconteceu em 1963 e o homem já tinha mais de quarenta, pode ser que agora, finalmente, ele consiga o descanso. Do grande Elvis Presley, então, nem se fale. Não morreu e pronto. E vá tentar convencer o sujeito que houve enterro, certidão de óbito e tudo mais. Bobagem. Não morreu e pronto.
Tudo muito parecido com o fim do mundo. Só chegando o dia, mesmo, para a criatura se dar conta que não foi desta vez.
Ah, mas será da próxima.
Eu fico pensando que, na verdade, nós, humanos, não conseguimos nos conformar com o fato de que a vida é isso que acontece diariamente. E passamos a maior parte do nosso tempo como se tudo fosse provisório porque o grande acontecimento ainda está por vir.
Só vamos começar a perceber o grande equívoco quando o nosso próprio calendário começa a indicar que o nosso fim do mundo está começando a se aproximar. Aí vamos perceber que esse dia a dia é delicioso, que enfrentar o cotidiano é tão gostoso como o cafezinho da tarde, o lanche do domingo à noite, o sorriso da parceira quando ganha umas flores fora de época. E por aí vai.
De minha parte, eu quero que o meu mundo ainda leve um tempo para se acabar e, enquanto isso vou me convencer todos os dias que viver a vida é um mistério muito mais desafiador e intrigante que qualquer fim de mundo.
(*) Advogado, músico, compositor, avô e morador em São Bernardo do Campo (SP)
Já são pouco mais de 8 da noite e, até agora, nada de sinal do fim do mundo. E, pelo jeito, não vai acontecer nada, mesmo. Afinal, se são mais de oito por estas bandas do ocidente, lá pelo Oriente já é dia 22 de dezembro e ninguém deu nenhuma noticia sobre coisa alguma que possa parecer com o fim do mundo.
É bem verdade que ninguém explicou muito bem como seria o fim do mundo ou, se alguém explicou, eu é que não fiquei sabendo.
Não sei se ia ser uma explosão ou seria fogo ou água ou algum outro jeito qualquer. Mas, mesmo assim, essa questão do Oriente parece que liquida o assunto.
Apesar do retumbante fracasso, seria o caso de se parar para pensar sobre um ou outro ponto relacionado com essa história que, por sinal, não é nada original.
Sim, porque já andaram acabando com o mundo em outras ocasiões. Depois, passa o dia marcado, não acontece nada e fica tudo por isso mesmo.
Ninguém é obrigado a indenizar ninguém, ninguém leva uma espinafração em regra como deveria acontecer com assunto dessa importância.
Ora, estamos falando do fim do mundo, do único que conhecemos, o que é ainda mais sério, o único que temos.
Se este aqui acaba, para onde vai essa gente toda de uma vez só. Sim, porque, morrendo em lotes menores ainda há como ir acomodando essas pequenas quantidades pouco a pouco, mas, se vai todo mundo na mesma hora, não se consegue nem imaginar como fica o lugar para onde vai todo mundo, seja lá onde for. Ainda que cada grupo vá para o lugar indicado pela sua respectiva religião, ainda assim seria uma confusão sem precedentes.
Já houve outras situações parecidas como a que acabou de fracassar, mas estando com esta bem fresca na cabeça, convém pensar um pouquinho sobre ela.
Com que, então, os maias construíram lá um calendário que, por alguma razão, termina no dia 21 de dezembro de 2012.
Segundo se sabe, a civilização maia é mais que milenar e se destacou por avanços pouco comuns para a época. Mas, daí admitir que, com os recursos científicos e técnicos da época, fosse possível prever o fim do mundo com data precisa, já não é um pouco demais, não?
Bem, para um bocado de gente, não. Tanto é que, segundo foi noticiado, houve gente construindo verdadeiras fortalezas para se proteger sabe-se lá do que.
E houve quem saísse de onde mora para ir para lugares onde, segundo sabe-se lá o que, o fim do mundo não aconteceria.
Ora, se é o fim do mundo, ou existem vários mundos ou esses lugares não fazem parte do mundo. Como se vê, fica cada vez mais difícil construir a história do fim do mundo!
É curioso como o ser humano parece gostar desses episódios e eventos. Prova disso é que, de tempos em tempos aparece algum visionário que consegue reunir uma porção de gente que se dispõe a seguir o maluco seja para onde ou para o que for. Houve um que acabou causando um suicídio coletivo, todos absolutamente convencidos de que estavam indo para um lugar especial.
É só aparecer alguém acenando com algum mistério e, pronto: logo aparece um monte de fieis acreditando piamente no que diz o dito cujo.
Quem se lembra de acontecimentos lá dos anos 60 pode se recordar de uma historia fantástica que percorreu o mundo e causou uma grande celeuma: a morte do “beatle” Paul MacCartney. Aos poucos alguém foi lançando esse boato que, naturalmente, vinha acompanhado de pequenas comprovações ou indícios: a capa do LP “Sgt. Peppers" em que Paul aparecia de costas e os demais de frente; a fotografia de frente do mesmo disco em que uma mão aparecia bem acima da cabeça do músico e se dizia que se tratava de um famoso escritor inglês especialista em histórias sobrenaturais, Edgard Allan Poe.
E, por aí afora. Foi uma verdadeira febre, gente discutindo, alguns atestando categoricamente a morte do homem.
O resultado foi um aumento espetacular nas vendas dos discos do quarteto.
Existe uma porção de celebridades que parte desta para melhor, mas não consegue que algumas pessoas aceitem o fato. Houve muita gente que, durante muito tempo, afirmava que o presidente norte-americano John Kennedy, baleado em Dallas, não tinha morrido coisa alguma. Tinha ficado lesado por causa do tiro e foi escondido numa ilha deserta.
Como isso aconteceu em 1963 e o homem já tinha mais de quarenta, pode ser que agora, finalmente, ele consiga o descanso. Do grande Elvis Presley, então, nem se fale. Não morreu e pronto. E vá tentar convencer o sujeito que houve enterro, certidão de óbito e tudo mais. Bobagem. Não morreu e pronto.
Tudo muito parecido com o fim do mundo. Só chegando o dia, mesmo, para a criatura se dar conta que não foi desta vez.
Ah, mas será da próxima.
Eu fico pensando que, na verdade, nós, humanos, não conseguimos nos conformar com o fato de que a vida é isso que acontece diariamente. E passamos a maior parte do nosso tempo como se tudo fosse provisório porque o grande acontecimento ainda está por vir.
Só vamos começar a perceber o grande equívoco quando o nosso próprio calendário começa a indicar que o nosso fim do mundo está começando a se aproximar. Aí vamos perceber que esse dia a dia é delicioso, que enfrentar o cotidiano é tão gostoso como o cafezinho da tarde, o lanche do domingo à noite, o sorriso da parceira quando ganha umas flores fora de época. E por aí vai.
De minha parte, eu quero que o meu mundo ainda leve um tempo para se acabar e, enquanto isso vou me convencer todos os dias que viver a vida é um mistério muito mais desafiador e intrigante que qualquer fim de mundo.
(*) Advogado, músico, compositor, avô e morador em São Bernardo do Campo (SP)
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