Bellini Tavares de Lima Neto (*)
Quantas pessoas no mundo gostam de música? Provavelmente, a grande maioria.
Pouco importa o gênero, o tipo de ritmo, a predominância deste ou daquele instrumento. A verdade é que não gostar de música é uma exceção e das bem raras.
E, desse universo que gosta de música, quantas pessoas compreendem os meandros da arte musical, sua técnica, sua linguagem, a chamada teoria musical?
Eu me arrisco a dizer que, comparando o contingente de pessoas que gostam e o de pessoas que conhecem as teorias, este último grupo deve ser uma minoria.
E, mesmo assim, o fato de desconhecer as técnicas não impede que a música toque o mais fundo da sensibilidade humana e provoque as mais variadas reações, da emoção profunda à euforia quase incontrolável.
Não são muitas as pessoas que associam a música a elementos da natureza.
E, no entanto, a musica é uma forma de organização de sons e sons são efeitos da natureza, tanto quanto a luz, o calor e tantos outros.
Da mesma forma que não é preciso ser uma autoridade em física para conhecer os efeitos da luz e sua beleza, também não é preciso ser um musicista para se capturar os efeitos dos sons. Há exemplos muito comuns disso.
Quem é que nunca se defrontou com alguém que gosta de cantar, mas é só começar para que todo mundo em volta perceba que o cantante está numa direção e a canção em outra? Esses são os que se costuma chamar de “desafinados”. E porque o termo “desafinado”? Ora, porque não estão observando a afinação.
Mas, afinação é um conceito musical de natureza técnica.
Como se consegue perceber isso? O mesmo efeito desagradável acontece quando alguém sai cantando ou tocando um instrumento, mas não respeita a métrica. Não falta quem logo diga que o sujeito está fora de compasso. E isso é outro conceito musical de natureza técnica.
Como é que se percebe? Também não é raro que, num ambiente descontraído, entre amigos numa festinha, alguém mais desinibido se disponha a apanhar um violão e sair cantando e se acompanhando para agradar os circunstantes.
E, nessas situações, costuma acontecer que o sujeito toque uma coisa, mas a música peça outra. É que o diletante não está respeitando a harmonia relativa à música que está tocando e cantando.
E harmonia, então, nem se fale, é estritamente técnico. O que acontece é que tudo isso está em nossa memória emocional, se é que existe algo assim.
Ou em outro compartimento qualquer de nós mesmos e, então, conseguimos identificar os desacordos pelo termômetro do agradável e do desagradável.
Em maior ou menor grau, todos trazem consigo uma espécie de matriz relativa aos ritmos, às afinações e a tudo isso que constitui a música. E, talvez, o mais fascinante desses elementos seja exatamente o último, a harmonia.
Desde o começo até o final, a música vai caminhando como uma sequencia de sons que são tocados todos ao mesmo tempo.
Basta observar uma banda ou uma orquestra ou até mesmo um instrumentista sozinho. São vários sons executados ao mesmo tempo.
Pode ser a voz de alguém cantando ou o som de um instrumento executando aquilo que poderia estar sendo cantado, mas está sendo tocado. Junto com esse som aparecem outros, dos demais instrumentos e cada um faz uma coisa diferente. Mas tudo soa muito bem organizado, concatenado e agradável. Tudo soa harmonicamente.
Se houver alguma falha no meio da execução, se os sons não estiverem coerentes entre si, logo se percebe porque o agradável se transforma em desagradável. E a música vai caminhando até chegar ao final.
E, quando termina, o ouvinte entende que terminou porque os sons vão se entrelaçando e indicando que o fim chegou. Sempre de forma agradável.
Se esse entrelaçar não seguir as regras, o resultado será uma sensação de incômodo que, em alguns casos provoca um desconforto. Fica faltando alguma coisa. Fica faltando algo que se chama de “repouso” ou “resolução”. A música não se resolve. Ninguém precisa entender de encadeamentos harmônicos para sentir isso. Tudo isso está dentro de nós.
A harmonia está dentro de nós. E sempre que ela não é observada, sempre que ela é deixada de lado para dar lugar a qualquer outro pretenso valor, o resultado é o desconforto, a sensação de que alguma coisa não se resolveu.
Existem, na música, aventureiros que se convencem de que podem ignorar por completo os mais básicos preceitos de harmonia e fazer algo completamente diferente.
Na maior parte das vezes duram exatamente o tempo que dura o anseio do modismo.
No dia a dia não é nada diferente. Sempre haverá os que acreditam que podem desprezar a harmonia e substituí-la por outros valores. O resultado será, no mínimo, desagradável. Atentar para a harmonia é compreender a vida.
Atentar contra a harmonia só vai trazer o prazer imediato do desafio sem conteúdo. E vai se desarmonizar. Não resolve. Não resolve.
(*) Advogado, avô, morador em São Bernardo do Campo (SP)
Quantas pessoas no mundo gostam de música? Provavelmente, a grande maioria.
Pouco importa o gênero, o tipo de ritmo, a predominância deste ou daquele instrumento. A verdade é que não gostar de música é uma exceção e das bem raras.
E, desse universo que gosta de música, quantas pessoas compreendem os meandros da arte musical, sua técnica, sua linguagem, a chamada teoria musical?
Eu me arrisco a dizer que, comparando o contingente de pessoas que gostam e o de pessoas que conhecem as teorias, este último grupo deve ser uma minoria.
E, mesmo assim, o fato de desconhecer as técnicas não impede que a música toque o mais fundo da sensibilidade humana e provoque as mais variadas reações, da emoção profunda à euforia quase incontrolável.
Não são muitas as pessoas que associam a música a elementos da natureza.
E, no entanto, a musica é uma forma de organização de sons e sons são efeitos da natureza, tanto quanto a luz, o calor e tantos outros.
Da mesma forma que não é preciso ser uma autoridade em física para conhecer os efeitos da luz e sua beleza, também não é preciso ser um musicista para se capturar os efeitos dos sons. Há exemplos muito comuns disso.
Quem é que nunca se defrontou com alguém que gosta de cantar, mas é só começar para que todo mundo em volta perceba que o cantante está numa direção e a canção em outra? Esses são os que se costuma chamar de “desafinados”. E porque o termo “desafinado”? Ora, porque não estão observando a afinação.
Mas, afinação é um conceito musical de natureza técnica.
Como se consegue perceber isso? O mesmo efeito desagradável acontece quando alguém sai cantando ou tocando um instrumento, mas não respeita a métrica. Não falta quem logo diga que o sujeito está fora de compasso. E isso é outro conceito musical de natureza técnica.
Como é que se percebe? Também não é raro que, num ambiente descontraído, entre amigos numa festinha, alguém mais desinibido se disponha a apanhar um violão e sair cantando e se acompanhando para agradar os circunstantes.
E, nessas situações, costuma acontecer que o sujeito toque uma coisa, mas a música peça outra. É que o diletante não está respeitando a harmonia relativa à música que está tocando e cantando.
E harmonia, então, nem se fale, é estritamente técnico. O que acontece é que tudo isso está em nossa memória emocional, se é que existe algo assim.
Ou em outro compartimento qualquer de nós mesmos e, então, conseguimos identificar os desacordos pelo termômetro do agradável e do desagradável.
Em maior ou menor grau, todos trazem consigo uma espécie de matriz relativa aos ritmos, às afinações e a tudo isso que constitui a música. E, talvez, o mais fascinante desses elementos seja exatamente o último, a harmonia.
Desde o começo até o final, a música vai caminhando como uma sequencia de sons que são tocados todos ao mesmo tempo.
Basta observar uma banda ou uma orquestra ou até mesmo um instrumentista sozinho. São vários sons executados ao mesmo tempo.
Pode ser a voz de alguém cantando ou o som de um instrumento executando aquilo que poderia estar sendo cantado, mas está sendo tocado. Junto com esse som aparecem outros, dos demais instrumentos e cada um faz uma coisa diferente. Mas tudo soa muito bem organizado, concatenado e agradável. Tudo soa harmonicamente.
Se houver alguma falha no meio da execução, se os sons não estiverem coerentes entre si, logo se percebe porque o agradável se transforma em desagradável. E a música vai caminhando até chegar ao final.
E, quando termina, o ouvinte entende que terminou porque os sons vão se entrelaçando e indicando que o fim chegou. Sempre de forma agradável.
Se esse entrelaçar não seguir as regras, o resultado será uma sensação de incômodo que, em alguns casos provoca um desconforto. Fica faltando alguma coisa. Fica faltando algo que se chama de “repouso” ou “resolução”. A música não se resolve. Ninguém precisa entender de encadeamentos harmônicos para sentir isso. Tudo isso está dentro de nós.
A harmonia está dentro de nós. E sempre que ela não é observada, sempre que ela é deixada de lado para dar lugar a qualquer outro pretenso valor, o resultado é o desconforto, a sensação de que alguma coisa não se resolveu.
Existem, na música, aventureiros que se convencem de que podem ignorar por completo os mais básicos preceitos de harmonia e fazer algo completamente diferente.
Na maior parte das vezes duram exatamente o tempo que dura o anseio do modismo.
No dia a dia não é nada diferente. Sempre haverá os que acreditam que podem desprezar a harmonia e substituí-la por outros valores. O resultado será, no mínimo, desagradável. Atentar para a harmonia é compreender a vida.
Atentar contra a harmonia só vai trazer o prazer imediato do desafio sem conteúdo. E vai se desarmonizar. Não resolve. Não resolve.
(*) Advogado, avô, morador em São Bernardo do Campo (SP)
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