terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A decepcionante festa de despedida de um ídolo

O maior ídolo da história do Palmeiras terá um jogo entre veteranos quarentões como despedida. Em uma terça-feira clandestina. Perdoai, Marcos. Tirone e sua diretoria não sabem mesmo o que fazem… 

Cosme Rímoli (*) 

Terça-feira à noite... 
cosme-rímoli-tv-20091206.jpg (300×225)Dia consagrado para jogos da Segunda Divisão no Brasil. 
De um lado, veteranos do Palmeiras campeão da Libertadores de 1999. 
Do outro, veteranos campeões da Copa do Mundo de 2002. 
Idade média dos jogadores: 44 anos. 

Mesmo assim essa partida entre aposentados levará 40 mil pessoas ao Pacaembu. 
Será o maior público de 2012 de jogos do Palmeiras. 
Ano bipolar: da conquista da Copa do Brasil. 
E do rebaixamento. 

Nada mais justo. 
Será a partida de despedida do maior ídolo da história do clube. Marcos. 
"Nunca um jogador foi tão cultuado quanto ele. 
É adorado pelos torcedores. 

E não só do Palmeiras. 
O carisma do Marcos é inexplicável. 
É adorado e não só por palmeirenses. 
Merece essa devoção. 

É o grande ídolo do nosso clube." 
As palavras são de Ademir da Guia. 

A incompetência dos dirigentes do clube virou marca registrada. 
Ele é prova viva. 
O maior camisa 10 do Palmeiras parou de jogar em 1977. 
Só teve sua despedida em 1984! 

E ela aconteceu por superstição. 
Diziam que o clube não voltaria a ser campeão enquanto não fizesse a despedida de Ademir. 
Mais um capítulo ridículo dos dirigentes. 

Pelo menos Marcos não teve de esperar sete anos. 
Anunciou que iria parar em janeiro. 
Onze meses depois, a partida de hoje. 

A diretoria do Palmeiras teve mais de trezentos dias. 
E não teve a capacidade de enxergar. 
Se Marcos é o maior jogador da história do clube, deveria ter uma despedida à altura. 
O clube deveria se mobilizar, buscar parceria com a 9ine, seja com quem for. 

E fazer em que na sua última partida estivessem os maiores jogadores do mundo. 
Em atividade, não os aposentados. 
Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Iniesta, Drogba, Rooney, Ibrahimovic... 
Daí por diante... 

Que se encontrasse a melhor data. 
Talvez em agosto deste ou do próximo ano. 
Não importa. 
Marcos está aposentado. Esperaria. 

Os veteranos fariam, no máximo, a preliminar. 
E nunca o jogo principal. 
Mas isso seria exigir o que esta diretoria palmeirense não tem. 
Competência. 

O jogo de despedida ao maior ídolo é feito com preguiça. 
Desleixo que caracterizou o rebaixamento para a Segunda Divisão. 
Vai imperar a filosofia do "não é o ideal, mas serve". 
Os dirigentes cometem o maior pecado. 

Usar o amor dos torcedores a Marcos. 
Como protestar, exigir um jogo mais digno? 
Principalmente quando o homenageado é bonachão? 
Tem um coração enorme, aceita sem reclamar a partida. 

Ele conhece o clube que defendeu por mais de vinte anos. 
Sabe que, com tantos incompetentes comandando o clube, está no lucro com o jogo de hoje. 
Não teve de esperar anos como Ademir. 
Pelo menos terá sua despedida. 

Leão, Luís Pereira, Dudu, Edmundo, Evair, Djalma Santos, Djalma Dias... Heitor, Junqueira, Roberto Carlos, Rivaldo, Julinho Botelho... 
E tantos outros foram esquecidos. 
Jorge Mendonça passava por sérias dificuldades financeiras. 
E principalmente de saúde por causa do alcoolismo. 

Houve a ideia de um jogo de despedida entre a cúpula palmeirense. 
Partida que aconteceria para ajudá-lo. 
Só que houve discussão, várias conversas inúteis. 
O assunto foi ficando para depois. 

Até que Jorge Mendonça morreu e o jogo não saiu. 
Assim costumam agir os comandantes do Palmeiras. 
Arnaldo Tirone colocará como grande mérito a partida de hoje. 
Sabe que o Pacaembu estará lotado. 

A tevê a cabo mostrará o jogo.  
Os veteranos vão correr. 
Ronaldo 'medida certa' mostrará que emagreceu. 
Os apaixonados torcedores aplaudirão os veteranos, os aposentados. 

Irão chorar com Marcos quando ele segurar a bola pela última vez. 
E der a volta olímpica no Pacaembu. 
Tudo terá uma aura especial, será mágico por causa de Marcos. 
Mas se houver uma análise fria, distante, impossível não perceber. 

O maior ídolo palmeirense mereceria muito mais. 
E não seria difícil de fazer. 
Mas seria preciso o que se tornou raro no Palestra Itália. 
Competência, visão, modernidade, ousadia. 

A falta de ambição se fará presente nesta terça-feira. 
Dia clandestino para o futebol. 
Marcado por partidas da Série B. 
Divisão que a direção do clube conseguiu jogar o Palmeiras. 

Neste 11 de dezembro de 2012, Marcos deixa o futebol de vez. 
E terá uma despedida digna da gestão do presidente Arnaldo Tirone. 
Veteranos, aposentados se enfrentarão no último jogo do maior ídolo da história.  
Os torcedores se conformam, festejam pela devoção. 

Se deixam levar pela emoção. 
Não percebem que se contentam com pouco, muito pouco. 
Não há como não ficar triste pelo adeus ao grande goleiro. 
Mas também pela humildade da sua festa de despedida. 

Marcos merece muito mais. 
Só que é prisioneiro da incompetência. 
A mesma que jogou o clube na Segunda Divisão. 
Que ele se divirta ao menos no seu último clássico. 
O dos quarentões casados contra os descasados. 

Diante da postura dos diretores de Tirone só há uma solução. 
Se desculpar.
'Perdão, São Marcos. Eles não sabem o que fazem...' 


(*) Jornalista e que por 22 anos atuou no Jornal da Tarde/SP. Comentarista esportivo da Rede Record



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