Mary Zaidan (*)
O tempo dirá do acerto ou não da revista inglesa The Economist ao sugerir que Dilma Rousseff mude sua equipe econômica se quiser encarar um novo mandato. Mas tudo leva a crer que a despropositada reação da presidente ao artigo seja mais do que uma corriqueira irritação.
O que a perturbou foi o tema: a quebra de confiança dos agentes econômicos, algo que seu governo, na ânsia de tapar buracos, alimenta de forma cada vez mais veloz e despudorada.
A cena foi patética. No Itamaraty, antes de um almoço com chefes de estado do Mercosul, Dilma saiu atirando na revista inglesa. Disse que não aceitaria o conselho para demitir o ministro da Fazenda Guido Mantega, e que não se deixaria influenciar por uma revista que não fosse brasileira.
Se as revistas verde-amarelo podem comemorar a declaração, mais ainda pode fazer a The Economist, que teria acertado o alvo com precisão.
Dilma perdeu a chance de ficar calada. Mas uma coisa é verdade: ela deveria prestar mais atenção à imprensa nacional.
Faria bem levar a sério, por exemplo, os alertas quase diários do jornalista Rolf Kuntz, de O Estado de S. Paulo, ou a explicação cartesiana do jornalista Carlos Alberto Sardenberg, de O Globo, para a relação azeda entre o governo e o setor privado: “Há uma perversa combinação de hostilidade ideológica, negócios de compadres e corrupção. Nesse ambiente, só investe quem consegue um jeito de transferir o risco para o governo, obter financiamento e/ou subsídio e/ou acertar com funcionários na base da propina”.
Em bom português, os ingleses beliscaram o problema. Chegaram perto. Há mais do que quebra de confiança. Há um total descrédito. Regras que mudam durante o jogo, seletividade por setores e por empresários amigos, benefícios para uns e outros, corrupção à solta. E um galope rápido rumo à Argentina, à América Latina esquerdóide e populista.
A equação é complexa. Como atrair parceiros privados para investimentos bilionários na área portuária, como apelou Dilma na última quinta-feira, no mesmo momento em que o governo dá rasteiras em empresas de energia?
O conto marqueteiro de que as energéticas de São Paulo, Minas Gerais e Paraná não aceitaram mexer nos seus contratos por birra dos governadores do PSDB, impedindo que Dilma reduza a conta de luz em 20%, serve para eleição, mas espanta investidores que têm de manter seus negócios, distribuir dividendos, ter lucro.
Motivo de sobra para Dilma se aborrecer com o artigo dos ingleses. Ela sabe que a confiança dos investidores se quebrou. E que eles não mais serão os alheios a lhe fornecer o chapéu para as cortesias.
(*) Jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.
O tempo dirá do acerto ou não da revista inglesa The Economist ao sugerir que Dilma Rousseff mude sua equipe econômica se quiser encarar um novo mandato. Mas tudo leva a crer que a despropositada reação da presidente ao artigo seja mais do que uma corriqueira irritação.
O que a perturbou foi o tema: a quebra de confiança dos agentes econômicos, algo que seu governo, na ânsia de tapar buracos, alimenta de forma cada vez mais veloz e despudorada.
A cena foi patética. No Itamaraty, antes de um almoço com chefes de estado do Mercosul, Dilma saiu atirando na revista inglesa. Disse que não aceitaria o conselho para demitir o ministro da Fazenda Guido Mantega, e que não se deixaria influenciar por uma revista que não fosse brasileira.
Se as revistas verde-amarelo podem comemorar a declaração, mais ainda pode fazer a The Economist, que teria acertado o alvo com precisão.
Dilma perdeu a chance de ficar calada. Mas uma coisa é verdade: ela deveria prestar mais atenção à imprensa nacional.
Faria bem levar a sério, por exemplo, os alertas quase diários do jornalista Rolf Kuntz, de O Estado de S. Paulo, ou a explicação cartesiana do jornalista Carlos Alberto Sardenberg, de O Globo, para a relação azeda entre o governo e o setor privado: “Há uma perversa combinação de hostilidade ideológica, negócios de compadres e corrupção. Nesse ambiente, só investe quem consegue um jeito de transferir o risco para o governo, obter financiamento e/ou subsídio e/ou acertar com funcionários na base da propina”.
Em bom português, os ingleses beliscaram o problema. Chegaram perto. Há mais do que quebra de confiança. Há um total descrédito. Regras que mudam durante o jogo, seletividade por setores e por empresários amigos, benefícios para uns e outros, corrupção à solta. E um galope rápido rumo à Argentina, à América Latina esquerdóide e populista.
A equação é complexa. Como atrair parceiros privados para investimentos bilionários na área portuária, como apelou Dilma na última quinta-feira, no mesmo momento em que o governo dá rasteiras em empresas de energia?
O conto marqueteiro de que as energéticas de São Paulo, Minas Gerais e Paraná não aceitaram mexer nos seus contratos por birra dos governadores do PSDB, impedindo que Dilma reduza a conta de luz em 20%, serve para eleição, mas espanta investidores que têm de manter seus negócios, distribuir dividendos, ter lucro.
Motivo de sobra para Dilma se aborrecer com o artigo dos ingleses. Ela sabe que a confiança dos investidores se quebrou. E que eles não mais serão os alheios a lhe fornecer o chapéu para as cortesias.
(*) Jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.
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