Rui Falcão finge ignorar que, para agir com independência, jornalistas não precisam de regulamentos. Bastam honestidade e altivez
Augusto Nunes (*)
Quem conhece o bando que dirige o PT sabe que “controle social da mídia” e “regulamentação da mídia” são codinomes da velha e sórdida censura. Neste domingo, durante uma reunião com a companheirada, o presidente do partido, Rui Falcão, resolveu provar no meio de uma entrevista que o PT quer algemar a imprensa para permitir que os jornalistas tenham liberdade. No Brasil deste começo de século, ensinou o declarante, os repórteres só escrevem o que determinam os chefes, que só fazem o que manda o patrão. Confira um trecho da vigarice:
”Queremos que jornalistas como vocês tenham cada vez mais possibilidade de se expressarem livremente e, inclusive, poderem um dia ter um código de ética aceito também pelas empresas, para que vocês não sejam impelidos a fazer matérias nas quais não acreditam e que as suas matérias não sejam adulteradas por alguém que supostamente é superior a vocês nas redações ao ponto de vocês não poderem depois assinar as matérias porque não se reconhecem nelas”.
Fui diretor de redação do Jornal do Brasil, da Gazeta Mercantil, do Estadão, da Zero Hora e das revistas Forbes e Época. Tudo somado, chefiei mais de mil profissionais. Rui Falcão está desafiado a localizar um único e escasso repórter ou editor que ouse atribuir-me, ou aos donos das empresas em que trabalhei, esse tipo de violência. Nunca escrevi sequer uma vírgula que contrariasse o que penso. Jamais forcei qualquer subordinado a escrever sequer uma linha que não avalizasse. Nas redações que dirigi, nenhum texto foi adulterado.
O ex-jornalista Rui Falcão foi diretor de redação da revista Exame de 1979 a 1982. Autorizado por quase 20 anos de convívio com os donos e diretores da Editora Abril, posso afirmar que ninguém lhe pediu que escrevesse o que não queria, muito menos o obrigou a estuprar textos alheios. O que Rui Falcão está querendo é reescrever a biografia. Durante quase quatro anos, ele dirigiu sem queixas nem críticas uma revista que nunca pretendeu substituir o capitalismo pela fantasia socialista que o revolucionário de araque finge perseguir desde a década de 70.
Sem dar um pio, sem escavar no rosto um único vinco de insatisfação, Rui Falcão escreveu dezenas de páginas, milhares de palavras em defesa do sistema que sonhava destruir. Ninguém o obrigou a fazer isso. Fez porque quis. Poderia, por exemplo, ter trocado a direção da Exame pelo comando de um jornal do PT. Ficou onde estava por achar a revolução menos urgente que o salário. O paraíso socialista podia esperar. O que não podia atrasar era o dia do pagamento.
Para agir com independência, um jornalista não precisa de regulamentos, códigos e controles. Basta caráter. T
(*) Jornalista e Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja
Augusto Nunes (*)
Quem conhece o bando que dirige o PT sabe que “controle social da mídia” e “regulamentação da mídia” são codinomes da velha e sórdida censura. Neste domingo, durante uma reunião com a companheirada, o presidente do partido, Rui Falcão, resolveu provar no meio de uma entrevista que o PT quer algemar a imprensa para permitir que os jornalistas tenham liberdade. No Brasil deste começo de século, ensinou o declarante, os repórteres só escrevem o que determinam os chefes, que só fazem o que manda o patrão. Confira um trecho da vigarice:
”Queremos que jornalistas como vocês tenham cada vez mais possibilidade de se expressarem livremente e, inclusive, poderem um dia ter um código de ética aceito também pelas empresas, para que vocês não sejam impelidos a fazer matérias nas quais não acreditam e que as suas matérias não sejam adulteradas por alguém que supostamente é superior a vocês nas redações ao ponto de vocês não poderem depois assinar as matérias porque não se reconhecem nelas”.
Fui diretor de redação do Jornal do Brasil, da Gazeta Mercantil, do Estadão, da Zero Hora e das revistas Forbes e Época. Tudo somado, chefiei mais de mil profissionais. Rui Falcão está desafiado a localizar um único e escasso repórter ou editor que ouse atribuir-me, ou aos donos das empresas em que trabalhei, esse tipo de violência. Nunca escrevi sequer uma vírgula que contrariasse o que penso. Jamais forcei qualquer subordinado a escrever sequer uma linha que não avalizasse. Nas redações que dirigi, nenhum texto foi adulterado.
O ex-jornalista Rui Falcão foi diretor de redação da revista Exame de 1979 a 1982. Autorizado por quase 20 anos de convívio com os donos e diretores da Editora Abril, posso afirmar que ninguém lhe pediu que escrevesse o que não queria, muito menos o obrigou a estuprar textos alheios. O que Rui Falcão está querendo é reescrever a biografia. Durante quase quatro anos, ele dirigiu sem queixas nem críticas uma revista que nunca pretendeu substituir o capitalismo pela fantasia socialista que o revolucionário de araque finge perseguir desde a década de 70.
Sem dar um pio, sem escavar no rosto um único vinco de insatisfação, Rui Falcão escreveu dezenas de páginas, milhares de palavras em defesa do sistema que sonhava destruir. Ninguém o obrigou a fazer isso. Fez porque quis. Poderia, por exemplo, ter trocado a direção da Exame pelo comando de um jornal do PT. Ficou onde estava por achar a revolução menos urgente que o salário. O paraíso socialista podia esperar. O que não podia atrasar era o dia do pagamento.
Para agir com independência, um jornalista não precisa de regulamentos, códigos e controles. Basta caráter. T
(*) Jornalista e Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja
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