Élio Gaspari (*)
Há muito tempo não acontecia coisa tão boa no Congresso. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) propôs a criação de uma frente interpartidária de apoio a Dilma Rousseff para conter a chantagem que se arma contra o governo por conta de sua disposição de combater a ladroeira.
Durante o governo de Itamar Franco, foi ele quem obteve o afastamento temporário do chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, acusado de corrupção. (Hargreaves deixou o cargo, as acusações mostraram-se infundadas e ele retornou ao Planalto, de cabeça erguida.)
Aos 81 anos, com 53 de vida parlamentar, Simon já foi líder do governo, ministro e governador do Rio Grande do Sul. Simples e direto, jamais se incomodou com a fama de "maluco beleza" que o acompanha. Simon já viu de tudo, peixe em árvore e elefante voando. Por isso sua proposta, além de essencialmente boa, poderá ser revolucionária.
O fisiologismo não vai acabar, até porque sua principal fonte alimentadora é o governo.
Também não vão acabar as maracutaias. O que Pedro Simon oferece é uma coligação destinada a impedir que o Congresso seja transformando num instrumento de chantagem. A banda podre da base do governo quer se rebelar em defesa da impunidade, mas não pretende botar a cara na vitrine. Planejam emboscar o governo em procedimentos rotineiros, votações surpreendentes ou ainda com alianças oportunistas. Não se trata de enfrentar o Planalto, como faz o Tea Party americano, que defende uma plataforma. A proposta do senador, se resultar em ações práticas. permitirá a exposição da hipocrisia.
Basta mostrar onde está o alçapão, pois sempre haverá deputados ou senadores dispostos a colocar cascas de banana no caminho das lideranças parlamentares ineptas do governo.
Para combatê-los, a luz do sol será o melhor desinfetante. Mostrará a infiltração da turma dos convênios e das licitações fraudulentas na bancada do governo, inclusive na do PT. De quebra, inibirá a adesão do PSDB e do DEM a maiorias oportunistas.
Infelizmente, até mesmo na proposta de Simon existe um ingrediente tóxico: "Ela tem que dialogar mais". Conversar, todo mundo precisa, inclusive Mano Menezes. Pode-se conversar com os deputados Valdemar Costa Neto, Eduardo Cunha ou com o cardeal Eugenio Sales.
Há diálogos e diálogos. (Por falar nisso, seja qual for a ocasião, seja qual for a pessoa que governa o país, deveria conversar com d. Eugenio.) Os parlamentares se fazem ouvir das tribunas do Congresso. Se ninguém dá atenção ao que dizem, o problema foi criado por eles.
O deslocamento do eixo das negociações do Legislativo com o Planalto para a discussão de verbas e nomeações criou uma situação na qual o Congresso perde quase sempre, e a
Viúva, sempre. Esses assuntos são secundários. Quem tem o quê para discutir no Planalto a respeito de educação, saúde ou segurança? Em oito meses de governo de Dilma Rousseff pouco se ouviu de relevante. A bem da verdade, noves fora as marquetagens, em relação a esses temas o Executivo disse pouco e fez menos. Por exemplo: durante a campanha eleitoral, a doutora Dilma prometeu "tomar iniciativas logo no início do mandato para regulamentar a Emenda Constitucional 29", definindo a destinação de recursos para a saúde.
Cadê?
(*) Jornalista e escritor ítalo-brasileiro
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