Dora Kramer (*) para O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff ficou "irritada" com a ação da Polícia Federal no Ministério do Turismo. "Furiosa", chamou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, aos costumes e ele, por sua vez, "enquadrou" os subordinados da PF pela ocorrência de "exageros" na prisão de 36 suspeitos de corrupção na pasta.
A presidente teria ficado inconformada por não ter sido informada da operação e, desse modo, impossibilitada de evitar uma crise política na base aliada. Mais especificamente no PT e no PMDB, partidos aos quais era filiada parte dos envolvidos.
Tipo da história mal contada para apaziguar insatisfeitos.
Se avisada com antecedência, a presidente faria o quê? Cancelaria a operação? Dentro da legalidade, impossível, uma vez que as prisões são e foram feitas por determinação da Justiça.
Daria um alerta geral? Seria cúmplice na eventual fuga de um ou outro suspeito, acusada de obstrução da Justiça. Conversaria com os padrinhos de cada um, para tranquilizá-los? De nada adiantaria, pois as prisões seriam feitas do mesmo jeito. Note-se: por determinação da Justiça, não por capricho da Polícia Federal.
Ah, há o modo deselegante, o uso de algemas, a exposição das fotos dos suspeitos, a truculência, a agressão aos direitos individuais.
Há tudo isso, mas nada disso no momento, nem o modus operandi da Polícia Federal, é mais grave que as descobertas que têm sido feitas sobre o atrevido modus vivendi dos aproveitadores das funções públicas. Ou, para dizer de forma menos polida mesmo correndo o risco de agredir a sensibilidades repentinamente à flor da pele, dos corruptos.
Numa absoluta (e absurda) inversão de valores, as reações à ação da PF em cumprimento a decisão judicial ganharam mais destaque nos últimos dias que os atos cometidos em altos gabinetes dos Ministérios dos Transportes, da Agricultura e do Turismo.
Ficaram em segundo plano o superfaturamento, o pagamento de propinas, o tráfico de influência, o empreguismo, o nepotismo, o acobertamento, o favorecimento e malversações do gênero que grassam em repartições públicas federais como parte da rotina.
O lobista que transitava à vontade nas dependências do Ministério da Agricultura sob os auspícios de ninguém menos que o braço direito do ministro não é muito diferente do funcionário sem cargo formal e com acesso franqueado ao Ministério dos Transportes, que atuava sob o patrocínio do diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
No Turismo, era o vice-ministro em pessoa quem orientava a montagem de empresas de fachada para receber verbas públicas.
Há uma sistemática e há uma rede de ligações pessoais, partidárias e profissionais que precisa com urgência começar a ser desmontada. Esse é o ponto, é o foco do qual se pretende desviar a atenção geral sob a chancela da defesa do Estado de Direito.
Foi o tema de manifestação da presidente Dilma ontem, quando o primordial seria que comentasse as acusações de que o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, permitiu o uso eleitoral dos estoques da Conab, quando presidente da estatal, acobertou fraude em licitação na Agricultura e patrocinou pagamento irregular de dívida na presidência da Companhia Docas de São Paulo.
Todos os cargos ocupados por indicação do vice-presidente Michel Temer, seu amigo há 50 anos e recentemente locutor oficial de ato de desagravo a Rossi.
Tempo ao tempo. Em princípio, José Serra não será candidato à Prefeitura de São Paulo, preferindo se preservar para tentar a Presidência da República outra vez em 2014.
Até porque pesquisas de opinião mostram que o eleitor paulistano não receberia bem uma candidatura a prefeito já previamente marcada pela possibilidade de renúncia (mais uma vez) no segundo ano de mandato.
Serra sabe que se fosse eleito prefeito estaria irremediavelmente preso ao cargo até o fim. Entre os que têm mais chance de obter a legenda do PSDB, o candidato preferido por ele é o senador Aloysio Nunes Ferreira.
(*) Jornalista
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