Alberto Murray Neto (*)
As autoridades recém-empossadas devem criar políticas públicas de esporte social. É preciso mudar a mentalidade esportiva do país. Nosso edifício esportivo está alicerçado nos clubes. Essa estrutura vem se desfazendo rapidamente.
É essencial que encontremos caminhos seguros para o esporte olímpico. As dificuldades de transporte em metrópoles como São Paulo e entraves econômicos afastaram os atletas dos clubes. E estes, com raras exceções, restringem as suas atividades desportivas, sem que haja contrapartida.
O setor privado encolheu as possibilidades da prática da educação física e o Estado não agiu para compensar essa falta. A escola é o campo em que se deve semear a implantação da mentalidade esportiva.
Esporte de alto nível não deve ser função estatal em países carentes de outras prioridades. O Estado deve despejar os seus recursos no esporte para todos. Não que o Estado deva estar completamente alijado do esporte de alto rendimento.
Mas, em vez de sustentá-lo, deve assessorá-lo, defendê-lo, possibilitá-lo. O desenvolvimento do futebol é pura consequência daquilo que constitui o fundamento da minha tese. Desde criança, o contato com a bola como um brinquedo forma no brasileiro a intimidade com o futebol. Por que não fazer o mesmo com outras modalidades?
É preciso vontade política. As escolas públicas devem ter praças esportivas adequadas para professar aulas de educação física prazerosas aos alunos. A cadeira da educação física deve ser inserida na grade escolar com a mesma relevância das demais disciplinas.
Cabe ao Estado firmar convênios com as universidades, para que os alunos aprendam os valores olímpicos. O Estado também pode influenciar os clubes para que retomem as atividades desportivas e aceitem em seus quadros atletas militantes, das camadas pobres da população. Praças esportivas públicas devem ser colocadas à disposição em horários alternativos, até mais tarde e com segurança.
Competições de massa, como os Jogos Abertos do Interior, devem ser valorizadas. Seria bom refundar as "turmas volantes esportivas", como fez São Paulo no passado, em que atletas das capitais percorriam o interior fazendo "esporte de demonstração" para difundi-lo.
Esporte é educação, saúde, desenvolvimento e meio ambiente.
Não há como dissociar o esporte dos demais setores governamentais. As pastas de esporte devem agir em conjunto com as outras, por convênios, buscando propagar a educação física como um fator fundamental para o crescimento sustentado do país.
A USP possui excelentes centros de treinamentos, que não são aproveitados. O Cepeusp, projetado para os Jogos Pan-Americanos de 1975, que seriam em São Paulo, está absolutamente sucateado. Isso mostra que o esporte não tem sido prioridade. É necessário recuperá-lo e torná-lo um centro de desenvolvimento do esporte universitário.
Em 1939, quando o esporte no Brasil era uma atividade desregulamentada, Sylvio de Magalhães Padilha, atleta finalista olímpico, criou o Defe (Departamento de Esportes e Educação Física). Foi o embrião da Secretaria do Esporte.
Fizeram-se as primeiras leis do esporte, regulamentou-se a atividade do professor de educação física. Criaram-se competições de massa.
Os conjuntos desportivos Baby Barioni e Ibirapuera foram feitos para atender ao povo da cidade. Após isso, muito pouco foi feito. São Paulo precedeu a União na criação de políticas públicas no esporte.
Defendo uma Agência Nacional de Esporte independente e dirigida por técnicos, para colocarmos em prática a política pública desportiva de longo prazo.
(*) Advogado, Arbitro da Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, diretor da ONG Sylvio de Magalhães Padilha e autor do blog Alberto Murray Olímpico
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