sábado, 17 de novembro de 2012

Romário e sua língua afiada

Romário garante que, em outro país, Marin e Marco Polo estariam presos. Chama a CBF e o COB de desonestos. Quer uma CPI. É a única voz contra a Copa e a Olimpíada. Mas o mundo escuta… 
cosme-rimoli-tv-20091113.jpg (300×225)
Cosme Rímoli (*) 

É como se Beckenbauer falasse... 
Há um ano do início da Copa da Alemanha. 
"A Federação Alemã é a entidade mais desonesta do país." 
Seria um escândalo com proporções mundiais. 

Romário hoje foi além. 
"A CBF e o COB são as entidades mais desonestas do Brasil." 
Escreveu assim, com todas as letras no seu twitter. 
Foi além. 

Em cima da notícia da antecipação das eleições na CBF, não perdoou.
"Se isso acontecesse em outro país, Teixeira, Marin e Del Nero já estariam presos. Corrupção no futebol tem que ter punição, esses caras merecem." 
E prometeu: 

"Definitivamente, na próxima semana começo a recolher assinaturas para uma CPI na CBF. Aliás, vou colher assinaturas para uma CPI na CBF e outra no COB." 
Ele se mostrou arrependido da reaproximação com José Maria Marin. 
"Depois disso (da antecipação da eleição), retiro tudo o que disse sobre a atual diretoria da CBF. Pensei que tivéssemos extirpado um câncer, mas ganhamos dois novos." 

"A CBF tem isenção de impostos, o COB recebe investimentos do governo. Além disso, os dois usam o hino e a bandeira do Brasil, que são bens da nação. Por isso eu reitero que o ministro (dos Esportes) e a presidente devem intervir nas duas entidades. Sem clemência."  

A postura firme de Romário vem em péssimo momento para Marin e para Nuzman. 
O presidente da CBF está envolvido no sorteio da Copa das Confederações. 
Ele comemorava a aproximação de Blatter. 
Já havia dito ao presidente da Fifa que a rejeição à Copa tinha ido embora com Ricardo Teixeira. 


Tanto que o valor do sorteio da Copa das Confederações vazou e não houve grande reclamação. 
A Prefeitura de São Paulo gastará R$ 6,4 milhões só na organização do sorteio no Anhembi. A competição será a com maior número de sedes em um só país na história. 
A cerveja será vendida livremente na Copa das Confederações. 

Será feriado nas cidades onde acontecem os jogos. 
Marin e Marco Polo só faltavam gravar um cd juntos. 
E cantar com paixão o refrão... 
"Tá dominado. Tá tudo dominado." 

Não houve qualquer manifestação, rejeição à nada que a CBF apresenta. 
Exatamente como queria a Fifa. 
O COB também estava sossegado.  
As pessoas já até começavam a se esquecer do furto de informações do Comitê Olímpico Inglês. 

Quando lá Romário questionar não só as duas entidades, mas seus presidentes.
O ex-atacante é deputado federal. 
Foi um dos maiores atacantes brasileiros de todos os tempos.  
Sabe que suas palavras têm força. 

Repercutem. 
Dentro da CBF e do COB alegam que ele fala assim por ter imunidade parlamentar. 
Mas quantas pessoas nesse país têm imunidade parlamentar e nada fazem? 
Não querem nem saber da estranha morte de um funcionário depois da explosão de um gerador no Ministério dos Esportes. 
Ou as reais condições de trabalho dos operários que estão levantando as oito arenas para a Copa. 

Oito arenas e quatro elefantes brancos, com prejuízo assumido: 
Brasília, Natal, Cuiabá e Manaus. 
O preço da Copa no Brasil é de R$ 80 bilhões. 
Mais do que as do Japão, Alemanha e África do Sul juntas. 

Isso não importa. 
Romário fala, questiona, incomoda. 
Dá entrevistas. 
Ficará de fora de todas as cerimônias de abertura da Copa das Confederações e do Mundial. 

Ele sabe disso. 
Mas não se importa. 
Ele sabe que terá ganhos políticos pela postura corajosa. 
Mas ele tem o que muitos parlamentares e governantes perderam. 
A vergonha na cara. 

Sabem que o Brasil está sendo sangrado por uma competição de um mês. 
E depois, cambaleante, terá pela frente a Olimpíada do Rio.  
O melhor indício do que vem por aí é a reconstrução do velódromo. 

Construído para o Pan-americano de 2007, está em excelentes condições. 
Custou R$ 14 milhões aos cofres públicos. 
Mas, de repente, não serve mais. 
Será destruído. 
E um novo será feito para as Olimpíadas. 

Seu custo será de R$ 14 milhões, certo? 
Imagine. 
O novo custará R$ 134 milhões. 
Outra vez, pagos com o dinheiro público. 

Este é o cartão de visita da Olimpíada. 
Romário não seguiu o caminho da maioria dos ex-jogadores.  
Não acabou joguete nas mãos de políticos profissionais. 
De jeito nenhum. 

Ele tem mostrado autonomia e liberdade para agir como pensa. 
Foi sondado para o COL, onde estão Ronaldo e Bebeto, mas recusou. 
Não compactou primeiro com Ricardo Teixeira e depois com Marin. 

Que ele enfrente os abusos da CBF e do COB. 
Exponha as entranhas da Copa e das Olimpíadas. 
Não será uma voz perdida na multidão. 
Tem 146.859 votos lhe dando apoio. 
E grande parte da população brasileira. 

Os revoltados com a farra do dinheiro público na Copa e na Olimpíada. 
Há alguém que se expõe diante dos poderosos. 
Sem medo das consequências. 
Romário. 

Esse o mundo para para ouvir...


(*) Jornalista e que por 22 anos atuou no Jornal da Tarde/SP. Comentarista esportivo da Rede Record

Nenhum comentário:

Postar um comentário