sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O pior do caso da Gisele Bündchen

Gilberto Dimenstein (*)

Há um grupo de pessoas, do qual eu faço parte, que é muitas vezes debochada por ser "politicamente correta". Nunca entendi bem essa crítica, afinal o que se pretende é preservar os direitos de quem, no cotidiano, é vulnerável. Isso significa apenas educação para a cidadania: um olhar crítico a comentários que possam ofender negros, judeus, mulheres, deficientes, migrantes, nordestinos, homossexuais. Mas está virando moda dizer que essa visão é atrasada e estimularia a censura. Aí está o pior do caso do comercial da Gisele Bündchen.

Pode-se achar a propaganda de mau gosto, mas, em alguns casos, a repercussão acaba dando força a quem se imagina engraçadinho ao desrespeitar as outras pessoas. É um exagero, na minha visão, o governo tentar coibir esse anúncio.

Gosto muito mais da ideia de brigar no campo das palavras: estimular o debate.

A santinha Sandy fazendo pose de devassa para vender cerveja? Vamos mostrar o ridículo. Rafinha Bastos brincando com estupro? Vamos fazê-lo ver a falta de graça e que tudo tem limites. Mulheres se sentem ofendidas em se ver como objeto sexual? Compre-se outro sutiã.

O governo entrar como entrou contra o comercial soa um tanto ridículo.

O pior do caso da Gisele é passar a sensação de que politicamente é ser chato e intolerante. Quando, na verdade, o que se combate é a intolerância em nome do respeito à diversidade.

(*) Jornalista e integra o Conselho Editorial da Folha de São Paulo e vive atualmente nos Estados Unidos

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