sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"Aonde estou .. aonde estou?"

Miriam Belchior, que não sabe o que diz, virou ministra por não dizer o que sabe

Augusto Nunes (*)

Roseana Moraes Garcia estava casada com Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, quando ocupantes de um Vectra prata fuzilaram o prefeito de Campinas, que voltava para casa na direção de um Palio. Desde que a saraivada de tiros ecoou na noite de 10 de setembro de 2001, Roseana luta para saber por que ficou viúva. No começo deste mês, voltou a Brasília para reapresentar ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a mesma reivindicação: ela pede que o crime seja investigado pela Polícia Federal.

“Mostrei ao ministro e ao procurador que o juiz do caso mandou reabrir o inquérito e que três desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo confirmaram a decisão dele”, disse a mulher decidida a desvendar o enigma que a aflige há exatamente 10 anos. “Se existe Justiça, algo vai ter de ser feito. A Polícia Civil de Campinas não tem estrutura para fazer a investigação de um crime de natureza política, que teve um mandante . Por isso, peço há dez anos a entrada da Polícia Federal no caso”.

Foi o que disse em 2004 ao então presidente Lula, que ignorou o apelo e não voltou a receber Roseana. Como o chefe supremo, todos os Altos Companheiros fazem o possível e mais um pouco para sepultar a execução do prefeito de Campinas na vala comum dos homicídios sem mandantes, ao lado da cova onde há quase 10 anos tentam enterrar o caso de Celso Daniel, assassinado quatro meses depois de Toninho do PT.

Em 18 de janeiro de 2002, a Pajero a bordo da qual o prefeito de Santo André voltava do jantar em São Paulo em companhia de Sérgio Gomes da Silva, vulgo Sombra, foi interceptada numa esquina de São Paulo por uma milícia homicida. Estranhamente, os atacantes só sequestraram o homem sentado no banco do passageiro. Dois dias depois, o corpo do sequestrado apareceu numa estrada de terra em Juquitiba, com numerosas perfurações a bala e marcas de tortura.

Separada havia poucos meses de Celso Daniel, com quem fora casada por 10 anos e continuava encontrando quase diariamente como secretária municipal, Miriam Belchior também conhecia intimamente o esquema de arrecadação ilegal de dinheiro que envolvia figurões da prefeitura, empresários da cidade e dirigentes do PT. Mas o velório nem havia começado quando decidiu que ficara viúva por culpa de bandidos comuns. Foi o que recitou nos depoimentos à polícia, orientada por advogados do partido e pelo companheiro Gilberto Carvalho.

Em retribuição aos serviços prestados ao PT antes e, sobretudo, depois do fuzilamento do ex-marido, a viúva que nunca soube o que é luto ganhou do presidente Lula um empregão na Casa Civil ─ e, há quase nove meses, foi presenteada por Dilma Rousseff com o Ministério do Planejamento. Nesta segunda-feira, a desastrosa performance na primeira entrevista coletiva concedida em muitos anos provou que a chefe de governo encontrou a Dilma da Dilma: chama-se Miriam Belchior.

Logo no começo da conversa, um dos entrevistadores perguntou pelo orçamento da Copa do Mundo. “Eu desconheço qual é o valor que vai custar a Copa do Mundo no Brasil”, desconversou em dilmês rústico. “Não há nenhum estudo que diga isso”. Em linguagem inteligível: o Ministério do Planejamento não sabe quais são os planos para a festa no País do Futebol e ignora o tamanho da gastança que, como todas, será bancada pelos pagadores de impostos..

Outro jornalista lembrou a lentidão paquidérmica das obras que, como recita o governo desde 2007, deixarão as cidades incluídas no roteiro da Copa com cara de Primeiríssimo Mundo. O palavrório de Miriam conseguiu assombrar gente que já não se espanta com nada: “As obras de mobilidade urbana são legado, mas não são fundamentais”, ensinou. Fundamentais, portanto, são a reforma do Maracanã e o estádio do Corinthians.

Convidada a explicar o que devem fazer os torcedores para escapar dos congestionamentos a tempo de chegar às arquibancadas antes do apito inicial, a entrevistada rebateu de bate-pronto: “Posso decretar um feriado em São Paulo e garantir que não tenha trânsito”, exemplificou. Caso a ideia seja efetivada, o direito à gazeta coletiva terá de ser estendido a todas as sedes. Como os nativos não desperdiçam uma chance de feriadão, cada jogo provocará uma semana de folga. Tudo somado, milhões de brasileiros ficarão sem trabalhar durante um mês.

A entrevista transformou em certeza uma velha suspeita: Miriam Belchior, que não sabe o que diz, virou ministra por não dizer o que sabe.

(*) Jornalista e Ex-Diretor do Jornal do Brasil, do Jornal Gazeta Mercantil e Revista Forbes. Atualmente na Revista Veja

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