quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Visão estratégica para produção de baixo impacto

Rui Daher (*) 

Apontada pelo Fórum Econômico Mundial, de Davos, na Suíça, como uma das empresas “Pioneiras em Tecnologia 2014”, a BUG, sediada em Piracicaba, no interior de São Paulo, e nascida há 10 anos como startup da incubadora da ESALQ/USP, produz insetos (vespas) para controle de pragas em lavouras. 

Agrônomo e biólogo se acertaram, um fundo de investimentos ajudou, o BNDES financiou, e todos chegaram lá. Ótimo para a lavoura não arcaica. 

Google, Mozilla, Wikipedia, Twitter, no passado, receberam a mesma láurea. 

Parte do estágio avançado a que chegou a agricultura brasileira deve-se às inovações tecnológicas introduzidas nas últimas décadas. Instituições oficiais de pesquisa e laboratórios de empresas multinacionais aqui instaladas podem repartir o mérito. Difícil estabelecer em que proporção. 

Quem pouco aparece na foto da inovação tecnológica, o que faz da BUG uma exceção, é a iniciativa privada nascida nesta Federação de Corporações Brasil. Nem que fosse para amasiar-se com Embrapa, IAC (Instituto Agronômico de Campinas) ou universidades relacionadas. 


Efeito desse distanciamento é o acesso restrito da agricultura a inovações de menores retumbância acadêmica, comercial ou midiática, mas fundamentais para diminuir os impactos negativos da atividade, como os golpes de tacape nos ambiente e bolso do cliente. 

Vivendo momento de ajuste de contas entre real e dólar, efeito que anima a exportação agrícola e entristece a compra de insumos importados, os rurais parecem desconhecer a gama de produtos de baixo impacto, menor custo e eficácia semelhante ou até superior às convencionais, disponíveis no mercado. 

Se perguntarmos aos fabricantes de agroquímicos sobre bioestimulantes, extratos vegetais, ácidos húmicos, controles biológicos de pragas e doenças, condicionadores de solo à base de matéria orgânica, não devemos esperar mais do que muxoxos relacionando-os apenas à prática da agricultura orgânica. 

Não é verdade. São tecnologias coadjuvantes, expressivas para aumentar a produtividade, diminuir a necessidade de agroquímicos e reduzir o custo por hectare plantado. 

Dez anos atrás, participei de um seminário na USP sobre inovação tecnológica. Seu objetivo era encontrar caminhos capazes de facilitar a interação entre a pesquisa acadêmica e a iniciativa privada. 

Acabou de ser realizado, em São Paulo, o 5º Congresso de Inovação na Indústria. E qual a notícia que me trazem de lá? “Bom para promover o diálogo entre empresas, autoridades e identificar pontos de estrangulamento no processo de inovação”. 

Será que décadas de diálogo ainda não foram suficientes para afrouxar esse nó na garganta da inovação? 

Na agricultura, a maratona não se completa porque a acomodação ganha da ousadia. Porque as empresas pequenas e médias não têm dinheiro para superar os trâmites burocráticos estatais de pouca verba e muito verbo sempre mal escrito em suas normatizações. Porque lhes faltam recursos para investir em distribuição e divulgação, o que deixa grandes proprietários rurais incrédulos diante de empreendedores nanicos. Porque as equipes técnicas das empresas distribuidoras baseiam suas indicações em patrocínios de fornecedores de insumos convencionais. 

Diante disso, parece claro que sem ajuda estatal será pouca a ousadia de pequenos empreendedores em desenvolver tecnologias a partir de matérias primas mais baratas e processos de produção menos complexos. 

A professora de economia da Universidade de Sussex, no Reino Unido, Mariana Mazzucato, no livro The Entrepreneurial State: Debunking Puclic vs. Private Sector Myths, conclui ser o Estado responsável pelos maiores investimentos e riscos de descobertas que, mais tarde, transferidas para a iniciativa privada, resultam em fabulosos lucros. 

Uma visão estratégica que tem faltado ao Estado brasileiro para desenvolver tecnologias para a agricultura de baixo impacto. 

(*) Administrador de Empresas, Produtor Rural e colunista da Revista CartaCapital

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