domingo, 22 de setembro de 2013

Caos organizado

Tostão (*) 

Enfim, foi aprovada pelo Senado a proibição de dirigentes esportivos se reelegerem mais de uma vez, além da exigência de transparência nas entidades. Tem de entrar também a CBF. Ela é particular, mas de interesse público. O ótimo trabalho de ex-atletas, como Raí e Ana Moser, e as críticas, durante anos, de vários colunistas e jornalistas esportivos não seriam suficientes para pressionar os políticos, se não fossem as manifestações de rua. Muitas outras coisas precisam mudar. 

No meio de semana, vi os melhores jogadores e times da Europa e do Brasil. Nos jogos do Real Madrid, é interessante ver Zidane calado, sentado ao lado do técnico Ancelotti. Parece o Murtosa. Será que Zidane pretende ser treinador, discute com Ancelotti, orienta os jogadores ou apenas quer se distrair e passar o tempo? 

O futebol brasileiro evoluiu, recentemente, na maneira de jogar. Ufa! Volantes, meias e laterais não param de correr. Trocam de posições, atuam de uma intermediária à outra. Ficou obsoleto o futebol compartimentado, em que volante marca, meia arma e centroavante finaliza. O sonho de Marcelo Oliveira é trocar o centroavante fixo, Borges, por Júlio Baptista, como fez na quarta-feira e em outros jogos. Não dá mais para analisar a maneira de jogar de uma equipe pelos números e pelo sistema tático. São vários sistemas em uma mesma partida. É o caos organizado. 

O sistema tático é uma referência, um aviso dos treinadores aos jogadores, de que é necessário ter uma ordem, de que eles não podem ultrapassar certos limites e colocar a ambição individual acima da coletiva. Funciona como um superego, uma entidade crítica e repressora. Serve ainda para se proteger do acaso. Da mesma forma, racionalizamos nossos sentimentos para nos proteger dos desejos proibidos, do espanto e do mistério. 

A maioria das equipes joga com um meia de cada lado, que faz dupla com o lateral, na defesa e no ataque. É um avanço. No passado, quase todos os pontas canhotos atuavam pela esquerda, e os destros, pela direita. Agora, é o contrário. Antes, eles driblavam para o lado de fora, para cruzar. Agora, driblam para dentro, para passar e finalizar. No movimento em diagonal para o centro, abrem-se espaços para o lateral avançar pela ponta. 

Prevaleceu a lógica, na vitória do Atlético-PR sobre o Flamengo. O melhor atacante do time paranaense, neste e nos outros jogos, não é Ederson, artilheiro do campeonato. É seu companheiro de ataque, Marcelo. 

Mano Menezes pediu demissão. Será que estava com medo da segunda divisão? Deve ter se sentido muito maior que o elenco. 

(*) Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1970.

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